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Por Claudia Mancini, do Blocknews; Danylo Martins; e Léa De Luca, do Fintechs Brasil
A disputa de fintechs e bancos pelo protagonismo no universo das criptomoedas começa a mudar de fase: mais do que oferecer plataformas de negociação para as moedas existentes, a tendência agora é lançar a sua própria. Dois dias depois de circular uma notícia de que o Nubank estaria desenvolvendo sua própria criptomoeda, o Mercado Livre lança a Mercado Coin, baseada no protocolo ERC-20, da Ethereum.
Os clientes do shopping virtual vão recebê-las em cashback, como recompensa pela compra de produtos selecionados (identificados com o logo da moeda), e poderão usá-las tanto para novas compras no próprio Mercado Livre, quanto transferi-las para sua carteira digital no aplicativo do Mercado Pago, onde será possível trocá-las por reais. O valor inicial da nova cripto é US$ 0,10, mas sua cotação vai variar de acordo com oferta e demanda.
A novidade foi anunciada em entrevista coletiva online para jornalistas por Fernando Yunes, VP sênior e líder do Mercado Livre no Brasil. “É uma evolução do programa de fidelidade”, diz. Inicialmente, o cashback estará disponível para um grupo de 500 mil usuários da plataforma, e até o final de agosto a todos os 80 milhões de clientes da empresa no Brasil — primeiro país a ter o produto, que deverá se expandir para outros países da América Latina.
O volume total do lote inicial emitido não foi anunciado, portanto, não é um dado aberto como o de bitcoin ou ethereum, por exemplo.
A empresa diz que já tem dois milhões de usuários comprando criptos via Mercado Pago, que até então tinha bitcoin, ethereum e USDP — criptomoeda lastreada em dólares. Esse número já é metade do que o Mercado Bitcoin afirma ter.
Aliás, o Mercado Livre tem participação acionária no Mercado Bitcoin, mas não colocará a cripto na exchange, tampouco houve participação da exchange no projeto. Por enquanto, será possível apenas comprar e vender a Mercado Coin no Mercado Pago. Quando pensar em expansão de demanda, o Mercado Livre vai conversar com diversas empresas.
A criptomoeda tem foco no usuário e deverá haver promoções para determinadas compras se o cliente decidir usar a moeda – algo semelhante ao que companhias aéreas fazem com seus programas de milhagem. Mas a Mercado Coin não tem data de validade – ela nunca expira.
“Temos um pool de liquidez centralizado onde a precificação acontece, e processos de know your client (KYC) para melhor monitoramento da moeda”, diz Guilherme Cohn, gerente sênior de desenvolvimento corporativo da empresa, que também participou da coletiva. O Mercado Livre não vai influenciar na cotação da moeda, que não é lastreada em nenhuma outra – ou seja, a Mercado Coin não é uma ‘stablecoin’.
Para criar sua criptomoeda, cujo projeto não teve o valor revelado e levou 18 meses de desenvolvimento, o Mercado Livre fez parceria com a argentina Ripio, exchange e provedora de serviços cripto as a service. No Brasil, a Ripio comprou a exchange BitcoinTrade no ano passado. A Ripio vai oferecer para usuários a listagem da Mercado Coin, que inicialmente estará disponível apenas para usuários do Mercado Pago.
A Paxos segue sendo o parceiro eleito para listagem de Bitcoin, Ethereum e USDP – uma empresa que também recebeu investimento minoritário do Meli Fund, o braço de capital de risco corporativo da companhia. “Estamos integrando a segunda empresa, a Ripio, e enxergamos isso com naturalidade. Porque é uma janela que se abre em termos de novos produtos e serviços”, diz.
Segundo Cohn, a tecnologia blockchain por trás da Mercado Coin permitu desenvolver uma “solução aberta e extremamente segura”. “Seguimos acompanhando as evoluções dos criptoativos e da tecnologia blockchain, pois acreditamos no potencial dessas ferramentas para simplificar operações, conectar e promover o desenvolvimento financeiro de pessoas.”
Regulamentação
Priscila Faro, head de Legal Fintech no Mercado Livre, lembra que o Mercado Pago tem licença de Instituição de Pagamento (IP). Desde novembro de 2020, por meio do Mercado Crédito, também possui uma financeira no grupo. “Somos supervisionados, então estamos acostumados a seguir regras de segurança e eficácia nas transações, controle de riscos e toda a maturidade que a empresa tem do ponto de vista de governança e segurança, controle de informações dos clientes”, diz a executiva.
Segundo ela, essa segurança também é prioritária para a Ripio, que dispõe de sistemas e protocolos de segurança para manejo desses criptoativos. Adicionalmente, usamos mecanismos de criptografia avançados e sistemas de monitoramento da blockchain para garantir que cumpra todos os requisitos de segurança, além de observar os requisitos da LGPD.
Cripto é pop
Há uma verdadeira corrida no mercado cripto, e grandes players do setor financeiro estão com iniciativas e soluções. O já citado Nubank atingiu 1 milhão de usuários de cripto em seu app. A XP e o BTG lançaram nesta semana suas plataformas Xtage e Mynt, respectivamente.
A Genial vai lançar uma corretora de criptomoedas, conforme noticiou anteontem o site Neofeed. Grandes bancos como Santander e Itaú (que abriu sua tokenizadora) também já disseram ter planos de lançar soluções de compra e venda de cripto. A plataforma de investimentos australiana Stake também prepara novidades na área até o fim do ano, conforme mostrou o Finsiders.
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