Xegôo quer avançar com soluções financeiras para entregadores

A Xegôo trabalha com a antecipação de recebíveis para atender entregadores de aplicativos de delivery, como iFood

Da alimentação à saúde, passando por setores como moda e pet, as plataformas de delivery explodiram e tomaram conta da economia brasileira nos últimos anos, passando a permear das grandes metrópoles aos rincões do país. Esse cenário também foi marcado pelo aumento da informalidade, com milhares de entregadores atendendo aos pedidos nas plataformas da ‘gig economy’.

E, assim como os clientes dos aplicativos, os agentes de entregas também são consumidores. Para desenvolver o serviço diário, eles precisam de crédito para a compra de motocicletas, por exemplo. No entanto, esbarram nos modelos de avaliação de score de instituições financeiras tradicionais.

É aí que entram fintechs como a Xegôo, que conta com soluções para a gestão de pagamentos de operações logísticas. A startup começou a ser estruturada pelo CEO Rogério Santos, um executivo oriundo do mercado financeiro, em novembro de 2021, depois dele ter trabalhado para uma companhia que alugava patinetes para os operadores logísticos (OLs).

Em contato frequente com os OLs, Rogério percebeu que havia uma clara necessidade de caixa: os agentes de entrega solicitavam aos operadores recursos para comprar remédios, em caso de doenças, ou para o reparo dos veículos. A solução? Disponibilizar a antecipação de recebíveis, um produto que cresce cada vez mais como a fórmula para resolver o descasamento entre despesas e receitas.

O sistema foi desenvolvido pela PayNet, uma subadquirente que também trabalha com o Mercado Pago. Com um aporte inicial de R$ 3 milhões de um investidor-anjo mantido em sigilo e outros R$ 40 milhões de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FDIC), a Xegôo também trabalha com a emissão e a gestão de notas fiscais.

“Nós não queremos apenas antecipar recursos, mas também entregar valor para o operador, fazendo com que ele fique focado na entrega de qualidade para o agente de entrega na ponta”, afirma Rogério, em conversa exclusiva com o Finsiders.

Os operadores logísticos são as pequenas empresas com colaboradores fixos para manter o funcionamento regular de plataformas de delivery, que passa a não depender apenas dos entregadores independentes.

No momento em que o crédito está muito mais caro, com a Selic a 13,75% ao ano, e que as instituições financeiras sobem a régua na oferta para evitar o avanço da inadimplência, o modelo da Xegôo não conta com uma avaliação de crédito tradicional.

Rogério Santos, CEO da Xegôo
Rogério Santos, CEO da Xegôo

Para comprar um produto, os entregadores podem solicitar recursos nos valores de R$ 5 mil, R$ 9 mil e R$ 15 mil, e pagar um pequena contribuição por dia, conforme realizam as entregas. O item, então, só fica disponível dali a 18 meses, funcionando como uma espécie de consórcio.

“O sistema de inadimplência é muito alto. E não existe inadimplência na quarta ou quinta parcela, mas no meio do produto, quando as instituições já receberam o que é devido”, afirma o CEO.

Para dispor um sistema mais justo, a startup tem uma taxa de administração em torno de 18,5%, abaixo dos 20% a 22% praticados no mercado. “Ele acaba pagando duas motos no mercado. Com a gente, ele paga um pouco mais, mas vai financiar isso no período”, diz.

Além disso, a fintech também tem algumas soluções para auxiliar no dia a dia dos prestadores de serviço da cadeia logística. Por uma taxa de R$ 16,90, eles passam a ter acesso a guincho vinculado ao CPF da pessoa, atendimento médico via telemedicina para os colaboradores e familiares, seguro de vida e reembolso para medicamentos de uso não controlado. O serviço será lançado até o final deste semestre.

Estratégia

Entre os OLs clientes da fintech, estão empresas que prestam serviços para o iFood. Mas também há conversas em andamento com operadores da Rappi, Lalamove e Daki, um processo que, segundo o CEO, tende a ser mais lento por conta da regulamentação trabalhista em curso no setor. Na plataforma da Xegôo, os operadores somam 900 agentes de entrega, com 7,5 mil operações e R$ 2,5 milhões transacionados nos últimos 90 dias.

Como os colaboradores estão em todo o Brasil, o executivo conta que vem liberando novos entregadores na plataforma de forma gradativa, com quatro a cinco cidades por semana, para dar a devida atenção ao público. Hoje, os dois operadores logísticos com quem tem parceria possuem cerca de 6 mil agentes de entregas, quantidade mais de seis vezes superior à base da startup.

Em outra frente, Rogério diz que a empresa lançou o Xegôo Med, um aplicativo específico para a área da saúde. No setor, ele diz que o primeiro problema é que, agora, para solicitar reembolso junto às administradoras de planos de saúde, o paciente precisa primeiro desembolsar a quantia para procedimentos de rotina.

Como os médicos costumam receber à vista e não conseguem ter tanta flexibilidade de pagamento, a mudança resultou na queda do movimento. Portanto, é uma nova oportunidade para atuar com a antecipação de recebíveis e avançar com crédito para procedimentos estéticos e cirurgias. Hoje, são nove clínicas cadastradas. “Mas esse mercado é de bilhões”, argumenta o empreendedor.

Concorrência

A Xegôo não é a única a ofertar uma gama de soluções financeiras para motoristas e entregadores de aplicativos. Novatas como Plific e Trampay contam com serviços como conta digital, gerenciador financeiro, antecipação de recebíveis e seguros para os colaboradores do delivery. No mundo, há, ainda, startups como Lana e ImaliPay.

Não à toa, algumas fintechs também já querem prestar serviços para essas empresas que atendem a ‘gig economy’. Recém-chegada ao Brasil, a mexicana Palenca se define como um “birô de rendas”.

O apetite pelo segmento se justifica. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cerca de 1,7 milhão de profissionais trabalhavam em transporte por aplicativo até o terceiro trimestre de 2022.

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