É de comer? Brasileiros desconhecem portabilidade, diz pesquisa

Apenas 16% da população bancarizada no país já tentou fazer portabilidade de crédito (6%) ou de salário (10%), mostra estudo da Zetta

A portabilidade de crédito ou salário ainda é um mecanismo pouco conhecido e considerado “muito burocrático” pelos brasileiros. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo Datafolha, a pedido da Zetta, associação que representa empresas de tecnologia que oferecem serviços financeiros digitais, entre elas, fintechs como Mercado Pago, Nubank e PicPay.

De acordo com o estudo — que ouviu mais de 1,6 mil pessoas da população bancarizada com mais de 16 anos, das cinco regiões do Brasil –, metade dos indivíduos entende que a portabilidade de serviços financeiros é “muito complicada” ou os que os bancos dificultam o processo.

Para os entrevistados, as principais dificuldades encontradas para finalizar a portabilidade foram: burocracia, problemas relacionados à documentação exigida e demora para aprovação da solicitação. Não à toa, sete em cada dez pessoas indicaram que fariam o processo caso ele fosse tão simples quanto realizar uma transação via Pix, por exemplo.

Desconhecimento

Apesar disso, apenas 16% da população bancarizada no país já tentou fazer portabilidade de crédito (6%) ou de salário (10%). Isso pode ser justificado pela falta de conhecimento sobre o serviço, já que apenas 2% dos respondentes sabiam que atualmente é possível solicitar a portabilidade diretamente pelo aplicativo do banco onde se quer receber o salário.

O nível de conhecimento sobre o tema varia conforme o tipo de serviço que será migrado de uma instituição para outra. No caso do salário, a maioria (56%) dos ouvidos pela pesquisa diz ter ouvido falar a respeito do mecanismo, muito embora esse patamar seja bastante inferior (34%) nas classes D e E — o conhecimento é maior (71%) nas classes A e B.

Fonte: Zetta e Datafolha

Já a portabilidade de crédito é desconhecida por seis em cada dez bancarizados. Aqui há também uma grande diferença quando comparamos o nível de conhecimento por classe econômica. Quase metade (48%) dos entrevistados das classes A e B já ouviram falar acerca do tema, enquanto nas classes D e E esse percentual é de apenas 34%.

“O sistema de portabilidade ainda é muito burocrático e não acompanhou a evolução do Sistema Financeiro Nacional [SFN] ao longo dos últimos 10 anos, quando surgiram iniciativas regulatórias e soluções inovadoras, como o Pix e o Open Finance. A Zetta defende a urgente reformulação do sistema de portabilidade, com foco em processos mais modernos, simples e acessíveis, e apresenta propostas objetivas de aprimoramento”, comentou Rafaela Nogueira, economista-chefe da Zetta, em nota.

Para onde vão os recursos?

Mesmo com o desconhecimento sobre a possibilidade de migrar a conta-salário de um banco para outro, os pedidos de portabilidade dessa natureza têm aumentado desde 2019. A média mensal de solicitçaões passou de 2019 para 300 mil em 2020, atingiu 430 mil em 2021 até chegar a 570 mil no ano passado, conforme dados disponibilizados pela Nuclea (antiga CIP) a partir do Sistema Gerenciador de Séries Temporais (SGS) do Banco Central.

“Apesar do número crescente de solicitações de portabilidade, desde o início a taxa de aprovação se mantém próxima de 50%, com uma leve tendência de queda. Ou seja, mais de 50% dos pedidos de portabilidade salarial vem sendo recusados ultimamente”, destaca o estudo da Zetta.

Em relação à portabilidade de crédito, os pedidos concretizados cresceram do início de 2015 até o primeiro semestre de 2018, mas nos semestres seguintes a efetivação desacelerou e ficou num patamar próximo de 40% até o segundo semestre de 2021. No ano passado, o número de solicitações caiu drasticamente, chegando ao menor nível desde o primeiro semestre de 2021. A taxa de efetivação ficou abaixo de 40%.

Outro dado que chama atenção é a predileção dos consumidores por levar suas contas-salários para instituições de pagamento, por exemplo. Em abril de 2019, elas eram destino de apenas 9% das solicitações de portabilidade, percentual que saltou para 45% em abril do ano passado. Em contrapartida, o percentual de portabilidade com destino a bancos múltiplos reduziu de 83% para 51%, no mesmo período.

O estudo na íntegra está disponível no site da Zetta.

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