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Acordo do Nubank com Creditas amplia portfólio de produtos do 'roxinho', que agora visa gerar lucro antes do seu IPO

Denise Ramiro


Depois do crescimento espetacular, o Nubank, a fintech de 40 milhões de clientes, está atrás de rentabilidade – e deu mais um grande passo nesse sentido, anunciando uma parceria com a Creditas, plataforma de empréstimos digitais, que prevê a oferta de produtos da fintech de crédito para os consumidores do Nubank no Brasil. Em comunicado à imprensa, o Nubank informou que pretende realizar investimentos para ampliar a capacidade de crédito da parceira e tornar-se acionista minoritário dela ao longo dos próximos dois anos, com até 7,7% das ações da companhia.

“É um movimento natural. Veremos cada vez mais parcerias entre fintechs em fase de crescimento exponencial”, avalia João Bezerra, líder do pool de fintechs da Bossa Nova Investimentos. Segundo ele, após a fase em que as fintechs se transformam de startups em scale-ups, tem que haver um foco em rentabilidade.

Esse movimento já tem sido observado há algum tempo fora do Brasil, nos investimentos elevados em novos players, como o próprio Nubank, M-PESA Africa, Paytm, Revolut, Chime e Ant Group, que, segundo Bezerra, trazem avanços na construção de novas experiências digitais, que vão além de produtos financeiros.

“A busca por rentabilidade é o passo número dois, e fundamental, para consolidar a jornada”, afirma o investidor anjo. A parceria entre as duas fintechs, aparentemente, é fácil de entender. O Nubank tem 40 milhões de clientes e poucos produtos para oferecer; a Creditas tem construído experiências de crédito baseadas em conhecimento do cliente, que melhoram a decisão da concessão de crédito. “A Creditas terá a chance de ver suas soluções ofertadas aos 40 milhões de clientes do Nubank, reduzindo o seu CAC e eventualmente trazendo valor para seu IPO”, diz Bezerra. Há dois meses, o portal Fintechs Brasil já havia antecipado esse movimento do Nubank, quando lançou o cartão ultravioleta com cobrança de taxa para clientes premium.

“Parece ser uma transação bastante complementar, com oportunidades para ambos os players. O fato de estarem discutindo no acordo uma participação acionária, faz com que as relações entre eles sejam mais profundas e estruturais. É mais do que uma aliança, é uma parceria comercial de negócio, há um comprometimento de médio e longo prazo”, diz Boanerges Ramos Freire, CEO da Boanerges & Cia, consultoria focada em pagamentos, crédito e em fidelização.

O consultor chama a atenção para o fato de que apesar de a participação do Nubank na Creditas ser relativamente pequena, sinaliza a intenção de estreitamento e de relações de complementaridade, especialmente nas ações em que o Nubank não tem a perspectiva de fazer diretamente, ou não faria ou demoraria muito tempo para desenvolver. Segundo ele, nessa hipótese, o Nubank investe na Creditas para encurtar caminho a partir de um player que já é relevante, que já atingiu e superou um patamar de unicórnio.

“É uma transação que merece ser acompanhada com atenção para ver se o que há de potencial se confirma no alinhamento da cultura, na ação operacional, na cooperação que vai haver entre um e outro. Vender os serviços da Creditas na base do Nubank é certamente o maior potencial imediato”, afirma Freire .

Segundo Bezerra, após uma fase de namoro, caso seja bem sucedida, o negócio entre o Nubank e a Creditas pode se transformar em uma parceria e eventualmente em um casamento. Ele também cogita outras duas hipóteses, como a da Creditas ser alavancada para um IPO ou a de um movimento futuro de aquisição pelo Nubank. “Por ora, acredito na primeira alternativa”, finaliza Bezerra.

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