O que o Open Finance pode oferecer ao pequeno empreendedor

Uma das grandes promessas do sistema no Brasil é o aumento da competição no mercado de crédito, escreve a colunista

Open Finance é um conceito revolucionário que tem ganhado destaque na indústria financeira nos últimos anos. Como passo seguinte ao Open Banking, o Open Finance vai além do compartilhamento de dados bancários. Abrange uma ampla gama de informações financeiras de produtos como investimentos, seguros e outros.

Por meio dessa abordagem inovadora, os consumidores têm o poder de conceder acesso seguro e autorizado às suas informações financeiras a terceiros, como fintechs, instituições financeiras e provedores de serviços financeiros não tradicionais. 

Essa democratização dos dados financeiros possibilita o desenvolvimento de novas soluções, produtos e serviços personalizados, proporcionando aos clientes uma experiência mais transparente, eficiente e conveniente. À medida que o Open Finance se expande globalmente, a expectativa é que a indústria financeira passe por uma verdadeira transformação, oferecendo um ecossistema mais competitivo, diversificado e inclusivo. 

Um segmento que vislumbra se beneficiar com a expansão do Open Finance é o de pequenos negócios, que têm historicamente enfrentado dificuldades no acesso ao sistema financeiro no Brasil, o que é considerado um ponto fraco para o crescimento de suas atividades.

O excesso de burocracia e os altos custos de crédito são dificuldades frequentemente relatadas pelas micro e pequenas empresas, que se sentem insatisfeitas com o sistema financeiro. De acordo com dados de 2022 do Sebrae, mais da metade (52%) dos pequenos negócios avaliaram negativamente seu nível de satisfação com o sistema bancário.

Aumento da competição 

O cenário apresentado é preocupante, visto que o acesso adequado ao sistema financeiro é fundamental para o bom desenvolvimento de pequenos negócios. Empresas dessa categoria desempenham um papel significativo para o crescimento da economia brasileira. Elas representam quase 30% do PIB e geram mais de 50% dos empregos formais no país em 2023.

Nesse contexto, a expectativa é que o Open Finance se torne um importante aliado para os pequenos empreendedores, melhorando sua relação com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) e proporcionando um ambiente mais favorável para suas atividades econômicas.

Morgana Tolentino, pesquisadora do Instituto Propague. Foto: Divulgação
Morgana Tolentino, pesquisadora do Instituto Propague. Foto: Divulgação

Uma das grandes promessas do Open Finance é o aumento da competição no mercado de crédito, o que resulta na redução de preços e na oferta de produtos cada vez mais personalizados. Esse ponto, aliás, é crucial para os pequenos negócios, que podem contar com empréstimos e financiamentos para criar estratégias de investimento, obter capital de giro ou mesmo lidar com situações delicadas.

Esse produto possui um perfil de risco alto, exigindo um tempo considerável para a análise e desenvolvimento de novas soluções. Entretanto, o processo já está em andamento. Conforme dados do Open Finance Brasil, empréstimos e financiamentos já representam quase 10% do total de chamadas de API no ecossistema. Espera-se que esse percentual aumente à medida que o sistema amadureça.

Enquanto esse movimento no crédito ainda ganha fôlego, o pequeno empreendedor já pode se beneficiar com outras soluções trazidas pelo Open Finance.

Novas soluções

Por exemplo, uma solução interessante são os agregadores financeiros, que podem ser usados para diferentes finalidades, como gestão e pagamentos.

No primeiro caso, os agregadores de gestão permitem ao usuário uma visualização unificada de informações, como saldo e extrato de diversas contas. Esse modelo facilita a administração financeira, pois centraliza a gestão dentro de um só aplicativo e pode ser especialmente relevante para pequenos empreendedores que, por vezes, misturam suas contas pessoais com as contas da empresa (algo não recomendável). Geralmente, isso é feito para facilitar a movimentação por meio de um único canal.

Os pequenos negócios também podem se beneficiar indiretamente de soluções de iniciação de pagamento, que permitem, por exemplo, que uma pessoa reúna o saldo de diferentes contas em um mesmo aplicativo para efetuar um pagamento. O dinheiro é transferido rapidamente de uma conta para outra, e o pagamento é efetuado sem que o comprador precise mudar de tela. Essas facilidades na hora de efetuar o pagamento motivam o cliente a comprar mais e ajudam a manter uma boa taxa de conversão, especialmente no e-commerce.

Assim, as possibilidades que o Open Finance pode trazer para as empresas vão muito além da melhora no mercado de crédito. Com o amadurecimento do projeto, espera-se ainda o surgimento de novas soluções para dinamizar o setor. Os empreendedores devem estar atentos às inovações que possam beneficiá-los direta ou indiretamente.

*Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No Finsiders, assina uma coluna bimestral sobre cripto, banking, crédito e Open Finance.


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