De olho em um segmento que responde por cerca de 30% do PIB no Brasil, o Nubank lançou há quase cinco anos a conta PJ, com foco em micro e pequenas empresas — os “pejotinhas”, como diversos players chamam. O banco digital acaba de atingir 4 milhões de clientes — em 2023, eram 3,5 milhões e, no ano anterior, 2,5 milhões. A maior parte (58%) da base é de microempreendedores individuais (MEIs) e negócios que faturam até R$ 5 milhões/ano.
Daqui em diante, a estratégia é incrementar o portfólio de produtos e serviços, avançar com crédito para capital de giro e “subir a régua” para atender empresas que não são mais tão “pejotinhas”. A missão de crescer a vertical está nas mãos de Maximiliano Damian Rodrigues, ex-Mercado Pago e Itaú Unibanco, que chegou ao banco digital há duas semanas.
De acordo com Livia Chanes, CEO do Nubank no Brasil, a vertical de PJ já é um negócio rentável para o banco. A tendência é que os novos produtos, especialmente os de crédito, melhorem ainda mais a rentabilidade da instituição. A fintech colocou no ar o cartão de crédito para essa clientela em setembro de 2021 e, agora, lança oficialmente o capital de giro — a modalidade estava em período de testes desde o ano passado.
“Tivemos um resultado muito legal com o cartão de crédito, a inadimplência está em ordem. Agora com o capital de giro, que é o segundo produto de crédito para PJ, esperamos dar um salto do ponto de vista de satisfação dos clientes e, claro, rentabilidade porque [a vertical de] PJ é importante para nosso negócio”, conta Livia, em entrevista a jornalistas nesta quarta-feira (27). “Não tem como se propor a ser o banco de todos os brasileiros sem ter produtos para PJ.”
Crédito com garantia no radar
A executiva não revela metas ou projeções de volume em crédito que deve ser originado nesta nova linha, mas diz que o produto costuma ser uma opção para as pequenas empresas tomarem uma quantia superior em relação ao que normalmente gastam no cartão de crédito, por exemplo. “Assim como ocorre no empréstimo pessoal, no capital de giro, conseguimos dar limites e valores maiores do que no cartão”, afirma.
A modalidade é clean, ou seja, sem garantia, mas há a previsão de lançar novos produtos de crédito com garantia para o público PJ. A lógica é semelhante ao que o Nubank fez no universo das pessoas físicas — cresceu com crédito sem colateral e, mais recentemente, vem apostando em linhas como consignado e antecipação do saque-aniversário do FGTS. “Vamos adicionar garantias à medida que o produto e a vertical se desenvolvam”, revela a CEO, sem dizer quando isso deve acontecer.
Ao Finsiders Brasil, a executiva diz que enxerga o Open Finance como uma grande oportunidade, e isso vale para o público PJ, embora esse segmento ainda esteja um pouco atrás das pessoas físicas na adoção ao sistema. “Quanto maior a empresa, mais bancos ela tem. Então, cresce a importância de ter um papel de agregação [de contas]. E o Open Finance também nos ajuda a conhecer melhor o risco de crédito”, destaca Livia.
Alta renda e PJ: tudo a ver
Para crescer no segmento, o Nubank vai “pescar” principalmente no próprio aquário. O banco digital totaliza 94 milhões de clientes, sendo 87,8 milhões somente no Brasil. Por aqui, mais da metade da população adulta é cliente da instituição. “Um em cada quatro clientes do Nubank é empreendedor. E a maioria das pessoas tende a abrir conta PJ no banco em que já têm a conta PF”, destaca a executiva. “Lançamos o cartão de crédito para empresas há um ano e meio, e desde então 600 mil clientes tiveram o primeiro cartão de crédito PJ com o Nubank.”
Segundo Livia, o portfólio de soluções financeiras para empresas é particularmente atraente para o público de alta renda, que vem sendo apontado pelo Nubank como uma de suas principais avenidas de crescimento. “Na nossa estratégia de segmentar a oferta para alta renda, PJ é uma perna ainda mais importante. Quando falamos desse público no Brasil, 40% a 50% são empresários, autônomos ou profissionais liberais”, aponta.
Não à toa, o mote do Nubank é sofisticar cada vez mais a prateleira de soluções para as empresas, indo além dos produtos e serviços financeiros puros. Também nesta quarta-feira, a fintech anunciou o lançamento de novas funcionalidades para a conta PJ, como plataforma web (lembra do internet banking?), emissão de notas fiscais e acesso compartilhado.
No caso da emissão de NFs, o recurso está em fase de testes no Estado de São Paulo e deve chegar a outros grandes centros nas próximas semanas. “Vamos começar pelas maiores praças, mas a ideia é ter cobertura nacional”, diz Livia. Em relação ao acesso da conta pelo navegador, a executiva diz que era um pedido recorrente dos clientes. “É muito difícil fazer gestão do negócio pelo celular. Por isso, lançamos o ambiente web”, reforça Maximiliano.