COLUNA | MORGANA TOLENTINO

Pagamentos internacionais: Pix pode ser solução mais viável

Além da abertura de códigos e protocolos do Pix, o Banco Central também integra o projeto Nexus

Imagem: Canva
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Mesmo com a crescente digitalização da economia nas últimas décadas, os pagamentos que ultrapassam fronteiras geográficas permaneceram como uma transação custosa e pouco eficiente. Não à toa, o tema tem figurado nas agendas de trabalho de órgãos internacionais, como Banco de Compensações Internacionais (BIS) e Financial Stability Board (FSB), e recentemente temos visto surgir novas soluções para otimizar as transações internacionais.

Entretanto, apesar dos avanços recentes, esse ainda é um campo com um enorme potencial de expansão. E uma solução brasileira, o Pix internacional, pode ajudar a melhorar essa dor do sistema financeiro mundial.

O aumento da digitalização e suas aplicações nos métodos de pagamentos do dia a dia mudaram a forma como usuário acessa os sistemas de pagamentos. Os modelos de pagamentos instantâneos, como o Pix no Brasil, têm se espalhado por diversos países do mundo, proporcionando mais dinâmica à transferência de recursos. 

Fuso horário

Toda essa praticidade não é observada nos pagamentos internacionais, que permanecem sendo um das principais dificuldades para uma maior integração do sistema financeiro global. Questões como diferenças de fuso horário, falta de padronização de informações e a dificuldade em garantir proteção de dados em conformidade com as regras AML/CFT ainda dificultam os pagamentos transfronteiriços.

Além disso, um importante ponto é a dificuldade de interoperabilidade entre os sistemas de pagamentos de diferentes países. Muitas plataformas operam com sistemas tecnológicos legados, que são antigos e robustos. A comunicação entre diferentes sistemas legados é um dos principais desafios para um modelo mais eficiente de pagamentos internacionais. 

Visando resolver essas questões, entidades internacionais se debruçam sobre o tema e discutem soluções multilaterais para melhorar a eficiência das transações internacionais. O BIS, por exemplo, lidera diversas iniciativas, com bancos centrais e outras autoridades internacionais como FSB, que exploram a interoperabilidade de plataformas multilaterais para pagamentos com CBDCs ou mesmo para promover a integração de plataformas nacionais em pagamentos instantâneos.

É nesse cenário que o Pix Internacional vem despontando como possível solução de otimização de pagamentos transfronteiriços. Durante a reunião do G-20 no início do ano, o Banco Central do Brasil reforçou sua proposta do Pix Internacional. A ideia é viabilizar a conexão do Pix com plataformas de pagamentos de outros países, expandindo as fronteiras do sistema de pagamentos instantâneos brasileiro.

Códigos abertos

Considerado um sucesso de implementação e adesão da população, a estratégia de internacionalização do Pix não é novidade. Ainda em 2022 ficou decidido que haveria abertura de códigos e protocolos do sistema para que autoridades de outros países pudessem replicá-las. O modelo de códigos abertos reduz os custos de implementação de um sistema, estimulando a inovação e a interoperabilidade.

Além da abertura de códigos e protocolos do Pix, o Banco Central também integra o projeto Nexus (um dos projetos do BIS para integração de pagamentos instantâneos em cerca de 60 países) e trabalha diretamente com os países para promover a integração de plataformas de pagamentos.

Nesse sentido, as fintechs são grandes aliadas, pois, enquanto as autoridades buscam viabilizar a interoperabilidade dos sistemas nacionais, os players mais digitalizados podem ajudar a tornar as soluções mais acessíveis ao consumidor.

Por exemplo, já é possível utilizar o Pix em outros países da América Latina, como Argentina e Uruguai. Por meio de QR Code associado a uma carteira digital, é possível ao consumidor brasileiro efetuar um pagamento com Pix, enquanto o comerciante recebe o valor de forma instantânea, seja em moeda local ou outra moeda internacional. Com a internacionalização do Pix a ideia é que transações como essas sejam possíveis em qualquer continente.

*Pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ). Escreve mensalmente no Finsiders Brasil.