Da bolha (a minha, a sua, a nossa), falar em “dinheiro digital” é simples e cômodo. Agora pense em um município nos rincões do país ou uma comunidade ribeirinha, onde o acesso à internet ainda é uma grande barreira. Apesar dos avanços da conectividade nos últimos anos, mais da metade (57%) da população brasileira tem uma internet de baixa qualidade, conforme estudo recente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).
Para Rafael Dias Silva, superintendente nacional da Caixa Econômica Federal, a tokenização e os pagamentos offline têm potencial para atingir brasileiros que não conseguem receber benefícios sociais, como o Bolsa Família, por serem desbancarizados. “São milhares de pessoas vulneráveis ou invisíveis”, disse o executivo durante evento da Federação Nacional de Associações dos Servidores do Banco Central (Fenasbac) nesta terça-feira (21) em São Paulo.
De acordo com Rafael, neste momento, a Caixa está fazendo uma prova de conceito (PoC, na sigla em inglês) para testar a viabilidade dos pagamentos offline. “Sendo viável, vamos partir para isso”, afirmou, citando o caso da Índia que avançou nesse sentido. “Com a tokenização dos benefícios sociais, estamos buscando a inclusão social e financeira, principalmente em comunidades remotas. Além disso, fomentamos a economia local.”
Aratu, a moeda da pequena Indiaroba
No município sergipiano Indiaroba, com cerca de 16 mil habitantes, a solução para fomentar o consumo nos comércios locais foi a criação do Banco Popular de Indiaroba e da moeda digital social Aratu, em 2022. “Começamos a perceber que não éramos uma cidade pobre, mas empobrecida. As pessoas pegavam o dinheiro e levavam para outras regiões maiores”, disse Adinaldo do Nascimento Santos, prefeito da cidade.
Segundo o prefeito, até hoje as comunidades na cidade já movimentaram mais de 5 milhões de “aratus”, ou R$ 5 milhões, afinal a moeda digital tem paridade um para um com o real. Ao todo, o banco municipal tem atualmente 2,2 mil contas pessoas físicas e jurídicas, além de outras 3 mil destinadas ao pagamento de benefícios sociais.
Para Adinaldo, o impacto da iniciativa se revela no dia a dia da população e na movimentação dos pequenos comércios locais. “98% das famílias que usam os benefícios que recebem em moeda social estão em mercearias, farmácias, mercadinhos”, contou. “O fato de a pessoa poder entrar num supermercado com seu poder de compra é algo fora de série.”
Como desafios, ele cita a conectividade e o processo de mudança cultural. “Tem comunidades na cidade onde a internet chegou antes da água. Mas internet ainda é um desafio”, disse Adinaldo. “Também temos um trabalho permanente de formação continuada. Hoje mesmo um grupo está aprendendo sobre fluxo de caixa. O desafio é transformar a pessoa em ator produtivo.”