Prestes a completar um ano sob a nova marca, a Virgo (antiga ISEC Securitizadora) deixou de ser apenas (não que fosse algo trivial) uma securitizadora para se transformar em um ecossistema de serviços e soluções financeiras para o mercado de capitais.
A CMITech (capital markets infrastructure tech) — como a empresa se intitula — teve sua reestruturação liderada por Daniel Magalhães (ex-RB Capital), que adquiriu o negócio em novembro de 2019, dividindo o controle com Ivo Kos — que havia comprado a Isec em 2018, unindo o business com a Cibrasec.
Hoje, a Virgo se divide em três verticais: serviços de securitização; marketplace que conecta empresas de médio porte a investidores; e Venture Capital, que compra participações minoritárias em startups que incrementem sua grade de produtos ou melhorem a experiência dos seus stakeholders.
“Para que o Brasil precisa de mais um banco de investimento? O mercado está caminhando para infraestruturas de mercado, trazendo mais transparência. Quero montar o ‘Mercado Livre do capital’”, define Daniel Magalhães, CEO da Virgo, em entrevista ao Finsiders.
Até o fim do ano, a empresa vai tirar do papel seu projeto de tokenização e também prevê levantar uma rodada Série B de US$ 50 milhões, que provavelmente será dividida em duas tranches, a primeira próxima de US$ 20 milhões, cujo investidor-líder deve ser fechado na primeira quinzena de julho.
“Talvez a gente quebre [a rodada] em duas etapas, uma mais próxima de US$ 20 milhões, e depois uma extensão. Já temos mais de 30% da rodada com followers”, conta o empreendedor. “Essa primeira [rodada] é muito focada em tirar algumas licenças regulatórias e desenvolver novas tecnologias, como a tokenização, além de criar novos produtos de acesso a capital.”
Quando fala em licenças regulatórias que estão no radar, Daniel está se referindo a algumas que permitiriam ampliar o escopo de atuação da Virgo, por exemplo, uma DTVM (distribuidora de títulos e valores mobiliários) ou uma IP (instituição de pagamento).
“Estamos olhando outras licenças que fazem parte do nosso cinturão”, explica. E esse movimento, diz ele, deve ocorrer via fusões ou aquisições (M&A). “Analisamos 142 empresas para adquirir, nos últimos 6 meses.”
Nessa seara, por exemplo, a Virgo avalia comprar participações relevantes ou mesmo adquirir controle de empresas que permitam acelerar seu crescimento ou, como diz Daniel, “que possam mover o ponteiro” da companhia. Isso inclui soluções relacionadas a dados; licenças regulatórias, como já mencionado; e soluções de tecnologia. “No lado de M&A, estamos focados em movimentos de escala.”
Crescimento
A Série B seria a segunda captação feita pela Virgo desde a reestruturação. Em setembro do ano passado, a XP Inc. adquiriu uma fatia minoritária no negócio, em uma transação de valor não revelado.
De lá pra cá, a Virgo vem ampliando a grade de produtos em seu marketplace, que reúne mais de 260 investidores institucionais.
A vertical começou com crédito estruturado e foi sendo incrementada com outras soluções de acesso a capital, como notas comerciais, capital de giro, antecipação de recebíveis via FIDCs (em parceria com a Quasar Flash), entre outros produtos em seis principais segmentos: agronegócio, imobiliário, energia, indústrias, varejo e fintechs.
No total, já foram contratadas mais de 70 operações que, juntas, somam mais de R$ 1,6 bilhão — R$ 1,2 bilhão somente no ano passado. A plataforma viabiliza operações entre R$ 5 milhões e R$ 50 milhões. “Este ano queremos chegar a R$ 3 bilhões contratados”, diz Daniel.
“Estamos nos tornando uma esteira de produtos para investidores e de acesso a capital para médias empresas, que faturam até R$ 700 milhões/ano, e muitas vezes têm boa qualidade de crédito, bons colaterais, mas não conseguem acessar o mercado.”
Já no braço de securitização, a Virgo soma R$ 57 bilhões sob administração em 390 operações no braço de securitização, com quase 40% de market share. “Temos mais de 5 mil matrículas, 120 mil recebíveis, mais de 120 mil investidores pessoas físicas que compraram debêntures, CRIs, CRAs, entre outros, e mais de 2,3 mil investidores institucionais.”
CVC
Em Ventures, o foco é alocar recursos em startups que estejam desenvolvendo produtos que melhorem a experiência dos clientes da empresa ou aumentem a grade de produtos da própria Virgo. Os cheques variam entre R$ 300 mil e R$ 2 milhões, em troca de participações minoritárias.
Daniel diz que não há um número definido de startups que vão fazer parte do portfólio, mas na ocasião da divulgação da iniciativa, em setembro de 2021, a companhia afirmou que seu projeto de CVC (Corporate Venture Capital) teria até R$ 20 milhões para investir em cerca de 20 startups, em um intervalo de 12 meses. “Não temos um número fechado. Mas reservamos até R$ 20 milhões e já alocamos R$ 3 milhões.”
Cinco empresas (GoLiza, Expeer, Hent, Captal e Optime) fazem parte atualmente do portfólio. A primeira, GoLiza, é uma plataforma especializada na gestão de cadastros para o mercado de capitais e que também está desenvolvendo uma solução para assembleias. A Expeer é um crowdfunding com foco no setor imobiliário, criado dentro da gestora carioca Paramis Capital.
Já a Hent é uma startup de Recife que atua no segmento de loteamentos, com um software de gestão da carteira de recebíveis e soluções de crédito, como capital de giro.
A Captal, por sua vez, é uma empresa de tecnologia e investimentos também dedicada ao mercado imobiliário. E a última, a Optime, é um negócio lançado em março deste ano pela própria Virgo em conjunto com a Growth Tech, empresa que desenvolve soluções por meio da tecnologia blockchain, principalmente para (adivinha?) o setor imobiliário.
Digitalização
Perguntado sobre o nível de digitalização dos serviços que a Virgo oferece atualmente, Daniel é bastante sincero e reconhece que não é da noite para o dia que se começa a realizar de maneira digital algo que o mercado está acostumado a fazer de forma analógica.
Na securitizadora, por exemplo, a expectativa é chegar a um patamar de automação de 30% a 40% este ano. “Temos um projeto grande de automação de ‘due diligence’ e registros. Os maiores desafios são desenvolver as tecnologias e convencer o mercado a usar o que estamos desenvolvendo.”
No marketplace, o nível de automação hoje está próximo de 15% e deve caminhar para mais de 60% até o fim do ano. “Estamos automatizando a parte de background check, valuation e coleta de dados do mercado. Já reduzimos de 40 para 7 dias entre chegar um lead e receber proposta da Virgo”, exemplifica o empreendedor.
A Virgo também está construindo um software proprietário para monitoramento das operações em seu ciclo de vida. “Estamos com uma infraestrutura e adicionando ferramentas. Investimos muito no back-end para sustentar uma carga operacional grande”, conta. Nessa frente, a meta é bater 35% de digitalização este ano — hoje esse patamar é de 5%.
Competição
A oportunidade da Virgo condiz com o tamanho do mercado de capitais, suas ineficiências e seus altos custos. No ano passado, as emissões de companhias brasileiras somaram quase R$ 600 bilhões (R$ 596 bilhões, para ser mais exato), o maior resultado da série histórica, iniciada em 2012, conforme dados da Anbima.
Em renda fixa, as debêntures se destacaram, com um volume de R$ 253,4 bilhões, mais do que o dobro em relação ao registrado em 2020. A indústria de fundos, por sua vez, já superou R$ 7 trilhões este ano.
Com o avanço do mercado de investimentos de maneira geral e a criação de novas gestoras de recursos independentes — movimento acelerado nos últimos anos —, a arena de infraestrutura para o mercado financeiro e de capitais tende a ficar mais competitiva. A Vórtx, por exemplo, acabou de lançar sua tokenizadora, em uma joint-venture com a QR Capital.
Questionado se a Vórtx seria uma concorrente direta, Daniel explica que a empresa — onde ele trabalhou, inclusive, por quatro meses em 2019, após a saída da RB Capital — é uma parceira para as emissões feitas pela Virgo, atuando como agente fiduciário de operações de CRI e CRA, por exemplo.
Já a a QI Tech — que provê soluções tecnológicas de serviços financeiros para fintechs, gestoras e empresas de diversos setores — prepara novas aquisições, entre elas, uma DTVM, para avançar em seu plano de ser um ‘one-stop-shop’ de crédito, conforme mostrou o Finsiders.
Em tokenização de ativos, a Virgo também não está sozinha. Além da Vórtx, estão entre os players: Liqi, Mercado Bitcoin com a MB Digital Assets, PeerBR, do grupo GCB. A B3, inclusive, tem estudos para a criação de uma plataforma para tokenização de ativos, negociação e custódia de criptoativos.
Na vertical de acesso a capital para empresas do middle market, a Virgo tem uma lista extensa de concorrentes, que inclui nomes como Captalys, Vert, Stark, BrBatel, Bamboo, entre outros.
Finsiders é uma plataforma de conteúdo especializada no ecossistema de fintechs, fundada pelo jornalista Danylo Martins