DARIO PALHARES
A fintech argentina Lemon Cash, que desde março permite a cerca de 2 mil usuários comprar bitcoins e ethereuns em reais, em uma versão beta de sua plataforma, já providencia alguns trunfos para a sua estreia oficial no mercado brasileiro, prevista para o início do segundo semestre. Além de um cartão pré-pago, que debitará compras na moeda local de contas em criptomoedas, a startup prepara mais duas cerejas para o seu bolo inaugural: o acesso ao Pix, para transferências, e uma versão high tech, e reforçada, da boa e velha conta remunerada.
“A proposta é garantir uma remuneração em bitcoins equivalente a 200% da variação do CDI, ou seja, o dobro da taxa média oferecida pelas contas digitais no mercado brasileiro”, diz o CEO Marcelo Cavazzoli, de 30 anos, graduado em engenharia pela Universidade de Buenos Aires (UBA). “Mesmo que o usuário opte, de início, por ter apenas reais em sua conta, começará a ganhar bitcoins. Dessa forma, ele será apresentado de forma gradual às criptomoedas.”
A sugestão partiu de integrantes da comunidade voltada a brasileiros que a empresa montou no Telegram, com 1,6 mil membros. Parte desse grupo está na fila de espera local do aplicativo da Lemon Cash, que soma 2,5 mil candidatos. Para garantir acesso à ferramenta, assim que for lançada no mercado, eles têm de indicar quatro nomes, que serão contatados pela fintech. “A meta é fechar o ano na faixa de 500 mil a 1 milhão de usuários no Brasil”, diz Cavazzoli.
Hoje com 1,2 milhão de usuários na Argentina, que dispõem de um cardápio de cerca de 18 critptomoedas, a startup dá como líquido e certo que o Brasil se tornará o seu principal mercado a partir do próximo ano, com algo em torno de 4 milhões de fregueses. Por conta disso, Cavazzoli e seu sócio, Borja Martel Seward, já estabeleceram residência em São Paulo, assim como outros caciques do negócio, caso do administrador de empresas Max Biocca. “Depois de duas ‘missões exploratórias’, em novembro e fevereiro, me mudei para São Paulo há quatro semanas”, conta o CEO. “Deixei o guarda-roupa de meu apartamento em Buenos Aires completamente vazio.”
A Lemon Cash começou a surgir há quatro anos de forma inusitada: Cavazzoli criou uma conta no Instagram que, com apenas dois cliques, permitia compras de bitcoins. As 300 adesões ao perfil na rede social motivaram o jovem engenheiro a estruturar um projeto de maior fôlego, que foi premiado pela Cámara de Industria y Comercio Argentino-Alemana, no fim de 2019.
No primeiro semestre do ano seguinte, Seward embarcou na canoa e, graças aos seus contatos no Vale do Silício, deu início à atração de grandes investidores, caso do Draper University Ventures, da Califórnia. “Hoje temos como sócios cerca de 12 fundos de venture capital e dez investidores pessoas físicas, entre eles Andres Bilbao, cofundador da Rappi”, assinala Cavazzoli.
A expansão internacional começou a ser traçada na última temporada. Depois do Brasil, a fintech programa para 2023 a sua chegada a outros cinco mercados latino-americanos: México, Peru, Chile, Colômbia e Uruguai. “O objetivo é contar com 10 milhões de usuários na América Latina até o fim do próximo ano”, diz Cavazzoli. “Queremos nos tornar o ‘Google’ das criptomoedas na região.”