Ainda que esse ano tenha sido duro, com investidores adotando critérios mais rigorosos, ajuste nos valuations e a tendência ao down-round, as fintechs brasileiras seguem recebendo investimentos e provando sua resiliência a crises. Dois estudos divulgados nesta semana mostram que esse grupo é o que menos sofreu até agora.
De acordo com o LatAm Startup Activity Report de outubro, elaborado pela Sling Hub, as fintechs latinas seguem “devagar e sempre”: elas foram responsáveis por 78% dos US$ 920 milhões captados (US$ 718 milhões), e 30% dos 111 rounds de funding registrados em outubro. No Brasil, o saldo das fintechs soma US$ 256 milhões.
Já segundo a plataforma de inovação Distrito, as fintechs brasileiras captaram 66% (US$ 250,2 milhões) do total investido em startups locais em 18 rodadas. Em setembro, as cifras foram bem menores (US$ 28,7 milhões em oito rodadas). Já em relação a outubro do ano passado, o resultado ficou praticamente estável ante os US$ 247,8 milhões captados naquele mês, como noticiou o portal parceiro Finsiders.
Entre as captações recentes, destaque para a Cerc, registradora de recebíveis, que anunciou uma Série C de US$ 100 milhões em um round liderado pelo Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, e que contou ainda com recursos do Valor Capital. Também em outubro, o birô de crédito Quod — controlado pelos maiores bancos do país — divulgou que receberá um investimento estratégico de US$ 80 milhões (R$ 420 milhões) da norte-americana LexisNexis Risk Solutions, fornecedora de soluções de avaliação de risco e compliance.
Cômputo geral
Como um todo, o ecossistema de investimentos em startups na América Latina manteve alguma estabilidade, diz o Sling Hub. O volume de investimentos no ano até agora foi 4% menor do que no mesmo período de 2021, enquanto a quantidade de rodadas(US$ 256 milhões) caiu 9%. Considerando apenas outubro foram US$ 920 milhões, uma queda de 25% em 12 meses. A variação negativa em comparação com os resultados de 2021 vem sendo uma ocorrência frequente este ano, com 6 dos 10 meses (ou 7, desconsiderando rounds debt) se encaixando nessa descrição.
De acordo com a Distrito, o volume aportado em startups brasileiras foi de US$ 376,4 milhões em 54 rodadas, o que representa um aumento de 159% em relação ao registrado em setembro. Trata-se do melhor resultado deste junho.
Apesar da melhora, os números de outubro ficaram bem aquém do montante captado no mesmo mês de 2021, quando as startups brazucas levantaram US$ 924,8 milhões em 80 rodadas. No acumulado de 2022, os investimentos chegam a US$ 4,1 bilhões com 557 deals, contra US$ 8 bilhões em 705 operações no mesmo período de 2021.
Embora o volume de recursos captados nos dez primeiros meses deste ano seja a metade da quantia apurada em 2021, os US$ 4,1 bilhões não são de todo ruim – a cifra supera o montante total investido em startups brasileiras em 2020, o que demonstra que não existe uma ruptura na oferta de capital para essas empresas no país.