CRÉDITO CONSIGNADO

De olho no 'novo' consignado privado, Up.p prevê atingir seu primeiro bilhão

A fintech especializada em crédito com garantia atingiu seu "breakeven" no ano passado apenas fazendo antecipação de FGTS e consignado para funcionários públicos

Imagem: Pexels por Pixabay
Imagem: Pexels por Pixabay

A fintech Up.p, especializada em crédito com garantia, cresceu cinco vezes e atingiu seu breakeven no ano passado apenas fazendo antecipação de FGTS e consignado para funcionários públicos. Agora, prevê atingir um bilhão de operações até o final de 2026, surfando a onda do novo consignado privado.

“A gente acredita muito nessa modalidade de empréstimo com garantia e com desconto em folha. É um crédito sustentável, seja pelo o lado de quem está pegando esse empréstimo, seja pelo de quem está financiando”, diz Gabriel Pérgola, sócio fundador e CEO da Up.p. “A gente hoje tem uma operação geradora de caixa, já apresenta lucro apenas fazendo essa intermediação”.

Gabriel revela, ainda, que está falando com o governo e com associações sobre esse novo consignado privado. “Estamos bastante entusiasmados. A antecipação de FGTS é um empréstimo muito recorrente – tem cliente que já renovou a operação mais de 50 vezes! E hoje esses milhões de clientes da nossa base estão querendo fazer esse novo consignado privado. Então, é um produto que vai complementar a nossa prateleira. É nele que a gente está focado nesse momento”.

O crédito consignado privado é pouco explorado no Brasil. Segundo disse em outubro de 2023 Rafaela Nogueira, public policy manager no Nubank e economista-chefe da Zetta, os trabalhadores com carteira assinada em empresas privadas são 21% da população, mas só 6% recorrem ao crédito consignado. Isso porque a logística do consignado privado é complicada, é preciso fazer acordos bilaterais entre o banco e a empresa.

A proposta do governo, lançada em 1/3,mas ainda não regulamentada, permite o recolhimento do e-social pela plataforma FGTS digital, liberando as instituições financeiras de estabelecer esses convênios com as empresas empregadoras.

Modelos

A Up.p é uma Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP) autorizada pelo Banco Central em 2019 que testou inúmeros modelos, e chegou ao modelo atual somente em 2021.

Gabriel Pérgola/Up.p – Imagem: divulgação

“A gente não tinha um modelo de produto e canal bem definido. A gente testou muita coisa, de financiamento a fertilização in vitro a financiamento de máquinas pesadas, de veículos… testamos vários produtos e canais, seja em termos de pessoas, em termos de sistemas, em termos de processo, governança. Acho que isso foi bastante proveitoso para a gente estar hoje operando de uma maneira eficiente”, acredita Gabriel.

Gabriel diz que a escolha pela antecipação do FGTS aconteceu porque é um crédito com uma garantia muito robusta, e por isso, desperta grande apetite dos investidores – não falta oferta de funding no mercado de capitais. Segundo ele, um apetite da ordem de centenas de bilhões de reais. “Hoje, a gente é uma das instituições financeiras independentes, sem estar ligado a algum grande grupo, protagonista deste mercado.”

E a Up.p, fazendo essa intermediação, consegue ser sustentável. “A gente hoje tem uma operação geradora de caixa, já apresenta lucro”, diz.

Sem aplicativo

A Up.p usa dois canais de venda. “O principal é um canal próprio, temos estratégias orgânicas e inorgânicas de aquisição de clientes. Como a antecipação de FGTS é um produto com muita recorrência, alimentamos essa recorrência por diversas estratégias”. E o segundo canal de originação são as parcerias estratégicas. “Estamos praticamente em todos os marketplaces de crédito digitais”.

Mas a Up.p também adotou uma prática pouco comum nesse negócio de crédito digital: dispensou o aplicativo.

“Nossos clientes em potencial ganham até três salários mínimos; portanto, eles têm, na média, um aparelho celular que muitas vezes tem pouca memória, tem pouco processamento. Nos grandes bancos, para esse pessoal fazer antecipação de FGTS, ele precisa ter o aplicativo do banco. E muitas vezes o banco principal dele, do qual ele tem o aplicativo, não tem uma taxa tão atrativa como a nossa, por exemplo”, explica. Assim, a jornada do cliente na Up.p independe de qualquer aplicativo, é toda feita pelo próprio aplicativo do navegador padrão do celular. “Isso parece algo simples, mas não é. E portanto, muito poucos players fazem. Aqui na Up.p o cliente não precisa de um aplicativo nem de uma senha – nem sequer de e-mail.”

Oportunidades

O CEO, engenheiro de computação e mestre em economia com passagens como diretor executivo no BTG Pactual e BR Partners, Itaú, Santander e BBVA, afirma que a Up.p é a única SEP com PIX hoje no Sistema Financeiro Nacional, “e também a única SEP no Open Banking”.

Gabriel conta que foi no final de 2018 que começou a estudar a nova regulamentação do Banco Central (Lei 12.865, de 2013) que criou dois novos tipos de instituição financeira. “E ali eu percebi que tinha uma oportunidade muito grande. Basicamente, qualquer um poderia, a partir daquele momento, ‘criar’ um banco com um capital de um milhão de reais”.

Foi então que o executivo virou empreendedor, ao enxergar “muitas oportunidades” no mercado de crédito – e no de investimentos. “O mercado de crédito é um mercado de trilhão. E o mercado de investimento no Brasil está só começando. Em 2018, quem investia no Brasil havia começado há menos de cinco anos”.