OPINIÃO

Fintechs de crédito comprovam força e capacidade de adaptação

O avanço das empresas do setor ano passado esteve mais alinhado ao crescimento orgânico do que ao lançamento de produtos

Imagem gerada por IA/Adobe
Imagem gerada por IA/Adobe

Desde que começaram a se popularizar, ainda antes do processo massivo de digitalização ocorrido na esteira da pandemia, as fintechs vêm desempenhando um papel importante na democratização do acesso a crédito no Brasil. E são várias as razões para isso.

Num primeiro momento, essas empresas chegaram ao mercado reduzindo a complexidade na contratação de produtos e serviços financeiros, por meio de processos simples, ágeis e alinhados com o perfil de cada usuário. Na prática, significou uma evolução significativa em um ecossistema que por muito anos foi marcado pela concentração e, consequentemente, pela participação de poucos competidores.

Com o desenvolvimento do setor, potencializado pelo emprego intensivo de tecnologia, as inovações – antes pontuais -, tornaram-se a regra. Surgiram, assim, ofertas cada vez mais disruptivas disponíveis a um clique. E, graças à capilaridade proporcionada pelas transações digitais, essas soluções chegaram a um contingente cada vez maior de brasileiros.

Uma vez estabelecido, esse movimento não cessou e dá mostras de que tende a seguir, apesar das inevitáveis oscilações do ambiente econômico. É o que vem comprovando ano a ano a Pesquisa Fintechs de Crédito Digital, realizada por Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD) e PwC Brasil. O levantamento analisa de forma abrangente o mercado desde 2019.

Expansão

Mantendo o crescimento em meio a um cenário de forte volatilidade, as fintechs reafirmaram sua força e expandiram de forma relevante sua atuação em 2023. De acordo com a pesquisa, no ano passado, as empresas concederam R$ 21,1 bilhões em crédito, volume 52% maior na comparação com 2022.

Francisco Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD)

O resultado, para além de uma forte demanda por soluções de crédito digital, aponta também para a crescente confiança dos consumidores nos serviços oferecidos pelas empresas do setor. Isso se reflete no aumento de 79% na base de clientes pessoas físicas no período analisado. Estamos falando de 46,7 milhões de usuários no Brasil. No exterior, por sua vez, o número chega a cerca de 7 milhões.

Seguindo uma tendência que vem se desenhando desde a edição anterior da pesquisa, o avanço das empresas de crédito digital no ano passado esteve mais alinhado ao crescimento orgânico do que ao lançamento de produtos. Isso sugere, então, que as fintechs inovaram com o objetivo de captar novos segmentos de mercado.

Fortalecidas por esse contexto, 58% das fintechs de crédito participantes do levantamento classificaram-se como consolidadas. Elas registraram faturamento anual ou investimento total acima dos R$ 20 milhões, o que representa um aumento de dez pontos percentuais desde 2022.

Perfil

Outros achados expressivos do relatório apontam que atualmente 35% das fintechs de crédito têm mais de 150 funcionários. Trata-se de um aumento de quatro pontos percentuais em relação ao ano anterior.

Além disso, quase metade das fintechs pesquisadas (46%) já têm a licença do Banco Central para operar como Sociedade de Crédito Direto (SCD) ou Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP), em comparação com apenas 11% em 2019. E mais: 8% das empresas estão aguardando a liberação de licenças já solicitadas.

Mesmo com presença majoritária no Sudeste – atualmente 74% das fintechs de crédito estão sediadas em São Paulo -, a pesquisa detectou uma expansão considerável do setor no Nordeste em 2023. Na região, por exemplo, a base de clientes ultrapassou 17,5 milhões de pessoas físicas.

Sempre central na estratégia das fintechs, a tecnologia da vez no segmento, como tem ocorrido em todas as verticais de negócios, é a inteligência artificial (IA). Conforme o estudo, 53% das empresas planejam investir em IA nos próximos dois anos. O destaque é a IA generativa, com foco na automação de processos, especialmente em funções voltadas ao atendimento ao consumidor.

Combinados às demais conclusões, os dados nos levam a atestar que a experiência digital prova diariamente sua eficácia e valor para o fornecimento de crédito. No que depender da expansão do mercado e das inovações tecnológicas incorporadas pelas empresas do setor, tende a seguir ampliando seus benefícios à medida que o mercado amadurece.

*Presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD)