Os bancos digitais mantiveram sua trajetória de crescimento no Sistema Financeiro Nacional (SFN), contribuindo para a desconcentração bancária. Não houve apenas aumento na participação de mercado no crédito, mas também dos ganhos de eficiência operacional e da rentabilidade, que chegou a 19,1%.
As conclusões estão no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do Banco Central, divulgado nesta quinta-feira (21/11). No primeiro semestre de 2024, essas instituições cresceram suas carteiras em mais de 40%. Como resultado, alcançaram 18% do saldo de crédito pessoal não consignado, e 22% do saldo de cartões de crédito. “O modelo digital permite maior agilidade e flexibilidade para competir em mercados de varejo, mas o impacto em segmentos como crédito corporativo ainda é limitado”, diz o REF.
Já a recuperação gradual da rentabilidade no segmento digital “é resultado direto do controle de custos e da maior diversificação de receitas”, diz o relatório.
O avanço na eficiência operacional desses bancos digitais é outro destaque positivo. Isso reflete o modelo de negócios mais enxuto das instituições digitais, que dependem menos de redes físicas e têm custos operacionais inferiores. “Desde 2022, entidades digitais vêm obtendo êxito na alavancagem operacional e na rentabilização de suas bases de clientes, demonstrando o impacto positivo da digitalização de serviços bancários”, avalia o relatório. Neste quesito, quanto menor o índice, melhor.
Crescimento e riscos
Outro quesito onde os bancos digitais também performam pior do que a média é em inadimplência, como se vê no gráfico abaixo. O motivo é exatamente o fato de serem mais agressivos em operações de crédito sem garantia e de risco elevado, como os cartões.
“O crescimento em segmentos de maior risco, como o crédito pessoal não consignado, exige atenção à qualidade das concessões”.
Crédito e estabilidade
Não foi apenas nos bancos digitais que o crédito bancário voltou a crescer. Modalidades como financiamento de veículos e crédito pessoal não consignado foram as principais responsáveis pelo avanço.
Apesar da expansão, o Banco Central ressalta que as instituições financeiras mantiveram critérios rigorosos em suas concessões, especialmente no crédito corporativo. “Os riscos relacionados à atividade econômica e ao endividamento das famílias e empresas exigem preservação da qualidade nas operações contratadas”, afirma o relatório. Houve redução da pressão de despesas com provisões, que se estabilizaram em 1,10 vez as perdas esperadas.
Riscos digitais
Em entrevista à imprensa, o diretor de Fiscalização do BC, Ailton Aquino, ressaltou que apesar de os desafios do cenário internacional seguirem elevados, no cenário doméstico a atividade econômica e o mercado de trabalho seguem dinâmicos. Segundo o relatório, apesar do elevado comprometimento de renda das famílias, – que permaneceu em 32% no período, com endividamento total de 69,1% – a melhora no mercado de trabalho, com aumento real dos salários e queda na taxa de desemprego, tem contribuído para a estabilidade na inadimplência das modalidades de crédito para pessoas físicas.
“Se tem algum risco que me tira o sono é o cibernético. Risco de uma instituição não abrir no dia seguinte por uma crise cibernética, tecnológica. Mas nossas pesquisas apontam, claramente, que temos um sistema financeiro resiliente”, disse. Na avaliação realizada junto a oito instituições sistemicamente relevantes, o BC constatou maturidade na gestão dos riscos cibernéticos.
Ou seja, para o BC o sistema financeiro permanece sólido, com níveis de liquidez e capitalização confortáveis. Testes de estresse realizados pelo BC mostram que, mesmo em cenários adversos, o sistema teria capacidade de absorver choques sem comprometer sua operação. A capitalização e a liquidez foram apontadas como os principais fatores de resiliência.
O Índice de Basileia está em 17,7%, bem acima do mínimo regulatório de 10,5%; o Índice de Liquidez de Curto Prazo (LCR), em 154%, superando a exigência mínima de 100%; e as Provisões para perdas esperadas ficaram em apenas 1,10 vezes superiores às perdas projetadas, garantindo amortecimento contra inadimplência.
“Não há riscos relevantes para a estabilidade financeira. O Sistema Financeiro Nacional mantém níveis confortáveis de capitalização e liquidez, com provisões adequadas às perdas esperadas”, destaca o documento.
Novas regras
A partir de 1º de janeiro de 2025, entram em vigor as novas regras contábeis que alinham o Sistema Financeiro Nacional (SFN) às normas internacionais, como os padrões IFRS 9 e IFRS 7. Essas mudanças incluem novos critérios para mensurar e registrar instrumentos financeiros e exigirão das instituições financeiras maior rigor no provisionamento de perdas esperadas relacionadas ao risco de crédito.
“Temos tranquilidade de que nossos sitema financeiro suportará as mudanças em curso”, disse o diretor.
De acordo com o BC, as instituições responsáveis por 84% das exposições de crédito do SFN projetam um aumento de R$ 37,8 bilhões em provisões, o que equivale a 10,7% das provisões atuais. Apesar do impacto inicial, o BC acredita que as novas regras deixarão o sistema mais robusto para enfrentar riscos de crédito. “Essas alterações vão melhorar a transparência e a comparabilidade das demonstrações financeiras, tornando-as mais próximas das condições econômicas reais”, aponta o relatório.
“É uma mudança robusta, mas estamos nos preparando ha três anos. O impacto vai ser de apenas 10%”.