O setor financeiro está no centro de uma revolução silenciosa. A transformação digital, impulsionada pela crescente integração de dados e Inteligência Artificial (IA), está reformulando como instituições financeiras – por exemplo, bancos e fintechs – gerenciam o crédito e otimizam a experiência dos clientes.
No Brasil, esse movimento é especialmente significativo, considerando o cenário econômico desafiador, com altas taxas de juros e índices expressivos de inadimplência. De acordo com dados recentes da Serasa, quase 73 milhões de brasileiros têm algum tipo de débito. Isso reflete a necessidade de estratégias mais eficazes para equilibrar acesso ao crédito e controle de risco.
A pandemia acelerou a digitalização das operações financeiras e trouxe uma nova perspectiva sobre o papel dos dados no setor. Empresas passaram a enxergá-los não apenas como uma ferramenta operacional, mas como um ativo estratégico capaz de orientar decisões, identificar comportamentos e criar soluções personalizadas.
Dados históricos e transacionais podem ajudar a traçar um perfil comportamental do consumidor. Assim, permitem que as instituições financeiras tracem estratégias de crédito mais assertivas e com maior aderência para cada público. No entanto, o desafio não é apenas coletar esses dados, mas também organizá-los, analisá-los e transformá-los em insights acionáveis.
Nesse sentido, os modelos de IA surgem como um poderoso aliado, que pode mudar o jogo para as empresas e seus clientes ao identificar tendências e prever situações de risco de forma eficaz e rápida.
Por exemplo, um cliente que apresenta mudanças abruptas em seu padrão de consumo pode ser sinalizado por um modelo preditivo, sinalizando situações de risco e agregando valor às estratégias de negócios. Essas respostas, em tempo real, possibilitam ajustes preventivos, como revisão de estratégias ou melhores condições de crédito, beneficiando tanto o cliente quanto a instituição financeira.
Além da prevenção
A integração de Business Intelligence (BI) e IA vai além da prevenção. Permite que os emissores identifiquem oportunidades de melhorar a experiência do cliente. Um exemplo é o ajuste de limites de crédito para consumidores que apresentam um perfil financeiro sólido, mas que, por algum motivo, foram subestimados por análises tradicionais.
Além disso, ferramentas avançadas permitem análises em tempo real, reduzindo o tempo necessário para revisar políticas de crédito e implementar mudanças estratégicas. Em um mercado competitivo e em constante mudança, essa agilidade pode ser o diferencial entre reter clientes ou perdê-los para a concorrência.
Embora o potencial dos dados seja enorme, o uso responsável é imprescindível. Governança de dados, conformidade regulatória e transparência com os clientes devem ser prioridades. Além disso, a construção de modelos robustos requer uma base de dados ampla e diversa, o que pode ser um desafio para algumas instituições.
Empresas de tecnologia em pagamentos desempenham um papel crucial na transformação do setor, desenvolvendo soluções que integram dados transacionais a modelos analíticos avançados. Em vez de substituir as estratégias internas dos emissores, essas soluções as complementam, oferecendo uma perspectiva mais ampla e integrada. Essa abordagem colaborativa da empresa, aliada à expertise analítica e ao uso de tecnologias emergentes, não só otimiza processos, como também gera valor significativo para todo o ecossistema de pagamentos.
À medida que o setor financeiro avança nessa jornada de transformação digital, a integração de dados e IA continuará a ser um pilar essencial para enfrentar desafios e explorar novas oportunidades. A adoção responsável dessas tecnologias será crucial para garantir que a inovação sirva não apenas às instituições, mas também aos clientes e à sociedade como um todo.
O futuro da gestão de crédito está sendo moldado hoje. Instituições que conseguirem equilibrar inovação, eficiência e impacto social estarão à frente nessa revolução.
*Diretor de Data Science da Visa do Brasil