Nova onda dos pagamentos será com agentes de IA; Brasil ainda espera

Imagine pedir para uma das plataformas de Inteligência Artificial (IA) reservar um voo e hotel de uma viagem, com base em suas preferências, e deixar nas mãos da “máquina” o pagamento de tudo. Parece cena de filme de ficção científica, mas isso está próximo de se tornar realidade. Pelo menos essa é a aposta das duas maiores bandeiras de cartões do mundo, Mastercard e Visa, que anunciaram nos últimos dias movimentos nessa frente – curiosamente ou não, no mesmo timing.

Para as empresas, os agentes de IA são a próxima onda dos pagamentos. No futuro, a expectativa é que o “comércio agêntico” (ou agentic commerce) represente boa parte do volume transacionado no setor. Por enquanto, aterrissando para “a vida como ela é”, as soluções ainda estão em testes e têm desafios pela frente. No Brasil, por exemplo, não há previsão de lançamento.

Em evento global, na última semana, a Visa lançou o que está chamando de “Visa Intelligent Commerce“, um leque de produtos e ferramentas para viabilizar os pagamentos na era da GenAI. Já a Mastercard anunciou o “Mastercard Agent Pay“, que integra pagamentos aos agentes de IA. As soluções rodam com uso de tecnologias de tokenização e autenticação para garantir a segurança das transações. Ambas mencionaram acordos com algumas das principais plataformas de IA.

No caso da Visa, a iniciativa está em sandbox (ambiente controlado de testes). A expectativa é começar pilotos com poucas transações em junho deste ano, com um MVP (produto mínimo viável) em setembro, informou Romina Seltzer, vice-presidente sênior de Produtos e Inovação da Visa para América Latina e Caribe, em entrevista a jornalistas nesta quarta-feira (7/5). Segundo ela, a solução terá lançamento inicial nos Estados Unidos e depois será ampliada para outros mercados, embora ainda não haja uma definição de quais.

Já a Mastercard, em comunicado à imprensa, não deu mais detalhes sobre prazos de implementação da solução, nem em quais países pretende testá-la. O Finsiders Brasil questionou a empresa sobre previsão de chegada da novidade ao Brasil e aguarda retorno.

Parcerias com gigantes de IA

Inicialmente, a Mastercard diz que colaborará com a Microsoft em novos casos de uso para escalar o “comércio agêntico”. Em seguida, fará parceria com habilitadores de tecnologia como IBM, para acelerar os casos de uso B2B (entre empresas). Além disso, a bandeira trabalhará com adquirentes e plataformas de pagamentos em e-commerces, como Braintree e Checkout.com.

“O lançamento do Mastercard Agent Pay marca nossos primeiros passos na redefinição do comércio na era da IA, incluindo novas interfaces de comerciantes para distinguir agentes confiáveis de atores mal-intencionados usando tecnologia agêntica”, disse Jorn Lambert, executivo responsável globalmente por Produtos na Mastercard. 

Romina, da Visa, explicou que a iniciativa de pagamentos com agentes de IA utiliza credenciais (informações dos cartões) tokenizadas, autenticadas, programáveis e adaptadas para o ambiente de IA. Toda transação passa por tecnologias de biometria e validação de identidade. O cliente poderá estabelecer parâmetros como limite de valor, número de transações e prazos, garantindo que o agente só conclua a compra dentro dessas condições. A ideia é que os agentes de IA também forneçam sugestões personalizadas, com base em histórico de compras do usuário, a partir do consentimento dado pela pessoa.

Hoje, as soluções funcionam com base em comandos de texto nos assistentes de IA. “No futuro, podemos imaginar que será iniciado até por voz, usando um relógio, uma pulseira. Estamos construindo a primeira fase desse futuro”, disse Romina.

A Visa abriu sua rede para desenvolvedores e engenheiros que estão à frente dos agentes de IA. Além de um conjunto de APIs integradas, a bandeira montou um programa de parcerias comerciais para plataformas de IA. E já tem parcerias com algumas das principais, como OpenAI, Anthropic e Perplexity.

Desafios de pagar com agentes de IA

Na conversa com os jornalistas, Romina mostrou como o comércio passou por várias ondas de evolução – do primeiro cartão de crédito no mundo, nos anos 1950, à transformação do setor décadas depois com os e-commerces e, depois, com os pagamentos móveis. A próxima fase, na visão dela, é a do comércio orientado por IA.

Assistentes como Operator (da OpenAI) e Alexa+ (da Amazon) já realizam tarefas cotidianas, mas ainda enfrentam desafios na hora de efetuar pagamentos, citou Romina. Por exemplo, o usuário precisa preencher campos, revisar o pedido, inserir senhas ou códigos de verificação para, daí sim, confirmar a transação. “Os agentes de IA ainda não são treinados para pagamentos. Então, o potencial é grande. São novas tecnologias e softwares que atuam por nós, de forma autônoma e inteligente”, disse a executiva.

Mas a adoção dessa novidade traz uma série de desafios, de acordo com Romina. Um deles é a confiança do consumidor em relação ao uso dos agentes para pagar. Já as instituições financeiras precisam garantir que quem está realizando a transação é realmente o titular. E os estabelecimentos devem ter certeza de que a compra é válida e que receberão o pagamento. “Essa tecnologia abre uma série de perguntas.”