'CREATOR ECONOMY'

Trybo transforma fãs em investidores para financiar marcas digitais

Fintech desenvolveu um algoritmo próprio que analisa dados públicos de redes sociais, como Instagram

Da esq. para a dir., Neto Brito, Pedro Begotti, Roberta Oliveira (com óculos) e Carol Costa/Trybo | Imagem: divulgação
Da esq. para a dir., Neto Brito, Pedro Begotti, Roberta Oliveira (com óculos) e Carol Costa/Trybo | Imagem: divulgação

A Trybo quer reinventar o acesso a crédito para marcas D2C (sigla para direct to consumer, ou direto para o consumidor final) e criadores de conteúdo no Brasil. Recém-lançada, a fintech acredita na força das comunidades para viabilizar recursos a pequenas e médias empresas (PMEs) por meio de operações de dívida estruturadas. Com isso, permite que clientes (e fãs) se tornem investidores/credores dos negócios que seguem, admiram e, às vezes, até amam.

“As marcas D2C são carentes de crédito. Os VCs [fundos de Venture Capital] não olham para elas. O mercado financeiro também não tem interesse nesse tipo de cliente, que fatura entre R$ 5 milhões e R$ 100 milhões por ano. O modelo de crédito de banco ainda é feito para balanços perfeitos e auditados”, diz ao Finsiders Brasil o co-fundador e CEO, Pedro Begotti, ex-executivo de instituições como ABC Brasil e Banco do Brasil (BB).

Embora tenha elementos de uma plataforma de crowdfunding (financiamento coletivo), o modelo não funciona sob as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), explica Pedro. De acordo com ele, a fintech atua com base na regulamentação de correspondente bancário (corban), sob a alçada do Banco Central (BC). Como corban, a Trybo origina e estrutura as operações financeiras, que são formalizadas por meio de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs) emitidas pela instituição financeira parceira, a BMP.

Poder das comunidades

Para identificar marcas com potencial de mobilizar suas bases, a Trybo desenvolveu um algoritmo próprio que analisa dados públicos de redes sociais, principalmente do Instagram, onde as empresas D2C mantêm uma presença mais ativa. A ferramenta considera engajamento, consistência e força de influência para calcular o tamanho do “cheque possível” e estimar o potencial econômico da comunidade.

O modelo de negócio da Trybo é B2B2C. Ou seja, a fintech se conecta a empresas que, por sua vez, já possuem comunidades de clientes engajados. A Trybo ganha uma taxa sobre a estruturação da campanha e também um percentual dos juros pagos aos investidores. Segundo o CEO, a empresa se compromete a enviar atualizações periódicas sobre a saúde financeira da operação para os investidores. Além disso, atua como agente de cobrança.

A solução é white-label, o que significa que cada campanha mantém o estilo e a identidade da marca, com landing page própria, narrativa personalizada e até uma “carteirinha” para registrar os benefícios que os investidores recebem ao participar da captação.

Captações

Desde o lançamento da plataforma, em janeiro deste ano, a Trybo já se conectou com dezenas de empresas, incluindo marcas nos mercados de cosméticos, moda e vestuário, alimentação e equipamentos eletrônicos. Uma das captações feitas foi para a Kuba Audio, uma startup carioca de headphones e acessórios para fone de ouvido. A operação levantou R$ 250 mil em menos de 20 dias, com tíquete médio de R$ 14 mil por investidor. Além do retorno financeiro, quem investiu tem acesso prioritário a lançamentos, produtos personalizados e experiências com a marca, conta Pedro.

A Trybo também fechou uma parceria com a PlayNest, plataforma de profissionalização de influenciadores e criadores de conteúdo da Play9. Um dos primeiros pilotos desse acordo é uma captação para viabilizar o monólogo teatral “Hétero, Sigilo”, idealizado e estrelado pelo ator Bernardo Dugin. A campanha permitirá que fãs e apoiadores se tornem investidores do espetáculo, com retorno financeiro atrelado à bilheteria.

“Estamos prospectando 250 empresas em segmentos como moda, cosméticos, alimentação, entre outros. Nosso foco são marcas emergentes, cujas vendas são direto ao consumidor e acontecem principalmente no Instagram, que tem a vantagem de estar conectado ao WhatsApp“, diz Pedro.

‘Mina de ouro’

Conforme foi construindo seu algoritmo, a Trybo percebeu que tinha uma “mina de ouro”, como Pedro define. Com tantas informações sobre os perfis das empresas nas redes sociais, por que não transformá-las em um produto? Assim nasceu o Trybo Sparks, uma ferramenta por assinatura que entrega um diagnóstico com base no comportamento da audiência da marca nas mídias sociais. São avaliados itens como engajamento, consistência, força de influência e outros indicadores. Desde o lançamento, há menos dois meses durante o Web Summit Rio 2025, a solução é usada por cerca de 30 marcas, diz o CEO.

“Estamos nos tornando especialistas em gestão de comunidade”, diz Pedro. “Conseguimos dizer, por exemplo, que uma marca posta mais às terças, mas seu engajamento é maior aos sábados. Isso vira insight e também ajuda a direcionar a captação de forma mais assertiva”, afirma.

Investimento

Para financiar o início da operação, a Trybo já recebeu um aporte pré-seed de US$ 500 mil liderado pelo fundo norte-americano Haven Ventures, que também investe na fintech Jeeves e tem entre os investidores (limited partners, LPs) nomes como Larry Page, co-fundador do Google.

Além da Haven Ventures, a fintech tem como investidores e conselheiros nomes como Adam Zbar (CEO da Hamsa, de blockchain), Rodrigo Paiva (ex-executivo da Microsoft América Latina) e Gustavo Caetano (fundador da Samba Tech).

Sem abrir detalhes, Pedro diz que a Trybo está começando a desenhar uma nova captação de investimento, prevista para os próximos meses.

Mercado de influência

O crescimento do mercado de influenciadores e criadores de conteúdo vem atraindo outras fintechs para a área, que movimenta uma economia de bilhões (creator economy). A Caccao, por exemplo, se propõe a fazer o “match” entre os influenciadores de finanças (finfluencers) e o mercado financeiro. No começo de 2025, a fintech recebeu um aporte de R$ 2,2 milhões do fundo de Venture Capital Domo.VC.

A Noodle, por sua vez, oferece soluções financeiras para os influenciadores e criadores de conteúdo. Em novembro de 2024, a empresa levantou R$ 5 milhões com a QED Investors, fundo norte-americano de VC especializado em fintechs.