O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse a jornalistas nesta quinta-feira (26/6), durante live para divulgação do Relatório de Política Monetária, que a derrubada dos decretos que aumentavam o IOF não vai ter efeito imediato sobre os juros. Segundo ele, o governo já havia indicado que, neste caso, haveria a necessidade de um contingenciamento fiscal maior — ou seja, um bloqueio de despesas públicas.
Galípolo lembrou que, quando houve anúncio da alta do IOF, se discutiu muito sobre o impacto na trajetória da política monetária. E a conclusão foi de que não haveria. “A gente não considerou e seguimos a política monetária na nossa trajetória, independentemente disso.”
Quando o governo anunciou a intenção de elevar o IOF, Galípolo expressou preocupação com a medida por entender que poderia parecer uma “fricção na mobilidade de capitais”. No entanto, deixou claro que não era essa a intenção do governo. Seu comentário, disse, era sobre a dimensão mais estrutural e simbólica da medida — e não à tributação em si.
“Eu estava falando especificamente da ideia do IOF, que poderia parecer – mas estava claro que não era a intenção -, algum tipo de medida que pudesse se aproximar ou sugerir algo que gerasse algum tipo de fricção na mobilidade de capitais.”
Outros tributos
Galípolo também respondeu sobre a proposta do governo de tributar instrumentos financeiros antes isentos, como as LCIs e LCAs. “Tem empresas que conseguem captar a uma taxa de juros abaixo da taxa livre de risco, o que é um contrassenso […] Isso provoca uma fluidez singular da política monetária no Brasil.” A proposta de taxar esses papéis, portanto, pode aumentar a sensibilidade do sistema de crédito à política monetária, o que é positivo do ponto de vista técnico, acredita.
O BC tem reforçado que monitora com atenção medidas fiscais ou de crédito que reduzam a eficácia da política de juros. Um exemplo é o novo crédito consignado privado. “A forma como a gente incorporou o consignado privado […] tem um impacto bastante limitado na projeção de crescimento, porque é só através de aumento de renda disponível”, disse o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, na mesma live.
Da mesma forma, qualquer medida que subsidie ou crie exceções fiscais para produtos de crédito — como seria o caso do aumento do IOF, dando ao imposto função arrecadatória ou regulatória mal calibrada — pode ser vista como um entrave à eficácia do BC.