DEBATE

Pix ofusca o Drex e Open Finance ameaça o BaaS, apontam especialistas

Executivos de empresas como Celcoin, Zeztra, Slice, Trio, Muevy e Innovation Latam debateram temas em evento da ABFintechs com Teros

Fintechs -  | Imagem: Adobe Photoshop
Fintechs - | Imagem: Adobe Photoshop

O futuro dos serviços financeiros passa por uma transformação acelerada, mas as tecnologias já consolidadas como o Pix e o Open Finance estão redesenhando prioridades. Essa foi uma das principais conclusões dos painéis realizados no dia 30/7 pela Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) em parceria com a Teros, reunindo executivos de empresas como Celcoin, Zeztra, Slice, Trio, Muevy e Innovation Latam.

Durante o debate, José de Carvalho Júnior, CEO da Muevy, afirmou que “o Pix atrapalha o Drex”. Para ele, o sucesso do sistema de pagamentos instantâneos compromete o espaço que a moeda digital do Banco Central (BC) poderia ocupar. “O Pix já é rápido, já permite programações, já é mensageria… Se você não tivesse nada, o Drex seria um avanço. Mas o Pix já resolveu muita coisa”, explicou.

Arthur Silveira, diretor de produtos da Slice, concordou e destacou que o Pix, com sua variedade de funcionalidades e modelos de negócios embarcados, eliminou o espaço imediato do Drex no mercado de pagamentos. Segundo ele, “muita gente está investindo pesado no Pix. O Drex perde força nesse cenário”. Embora ambos reconheçam o potencial do Drex para aplicações como tokenização de ativos e contratos inteligentes, o consenso foi de que, para pagamentos do dia a dia, o Pix já ocupa o protagonismo.

Da esquerda para a direita: Ligia Lopes (Teros), João Pedro Brasileiro (Innovation Latam), Arthur Silveira (Slice) e José de Carvalho Junior (Muevy) | Imagem: Léa De Luca

Open x BaaS

Algo semelhante foi levantado em relação ao impacto do Open Finance sobre o modelo de Banking as a Service (BaaS). Luís Moraes, responsável pela área de banking da Celcoin, defendeu que o avanço do Open Finance ameaça tornar obsoleto o BaaS. Segundo ele, o Open Finance permite acesso direto às contas e cria modelos mais abertos, tornando o BaaS cada vez mais uma tecnologia voltada apenas à concessão de crédito, já que outras funcionalidades estão sendo substituídas. Luís acrescentou que “em algum momento, o BaaS se torna redundante”.

Juan Ferrés, fundador da Teros, reforçou essa leitura ao afirmar que, com o Open Finance, já é possível construir jornadas completas de antecipação de recebíveis com base em dados transacionais reais, sem depender de infraestruturas fechadas. “Isso muda o jogo”, concluiu.

Questão cultural

Além das mudanças estruturais no setor, os executivos alertaram que a maior barreira para a transformação digital não está na tecnologia, mas na cultura corporativa. João Pedro Brasileiro, CEO da Innovation Latam, afirmou que “a maior resistência vem da área financeira. Tem gestor que não quer abrir mão do controle manual”. Ele explicou que, mesmo com sistemas capazes de orquestrar pagamentos por API, é comum ver profissionais querendo revalidar manualmente cada etapa. API é a sigla em inglês para interface de programação de aplicações, um conjunto de regras e protocolos que permite que diferentes softwares se comuniquem e interajam entre si.

Arthur, da Slice, compartilhou a experiência de um cliente, um grande varejista, que resistia à automação por conta da complexidade de suas regras internas. “Eles achavam impossível automatizar. Mas a ferramenta acertou 100% e mostrou que estavam pagando fora das regras sem saber. Perdiam dinheiro todos os dias”, relatou.

Sistemas de gestão

Beatriz Montandon, vice-presidente de Expansão e Negócios da Trio, e Alexandre Álvaro, cofundador da Zeztra, destacaram o papel dos ERPs e das APIs na nova arquitetura financeira. Beatriz afirmou que o ERP (sigla em inglês para sistemas de gestão empresarial) é a grande base de dados transacionais, e que, se a informação está ali, é possível utilizá-la para crédito, cobrança e conciliação.

Alexandre completou dizendo que é mais barato, seguro e preciso trabalhar com dados diretamente da origem do que depender de extratos bancários. Para Arthur, a Inteligência Artificial (IA) ainda amplia esse potencial, gerando insights antes invisíveis para os analistas financeiros.

Na visão dos painelistas, a área financeira das empresas deve deixar de ser apenas um centro de custo para se tornar um centro de inteligência. Para João Pedro, a automação precisa liberar tempo para que o setor financeiro se torne um parceiro estratégico das áreas de negócio. “O mundo está ficando mais complexo. Quem não automatizar vai ficar para trás. Mas é preciso trazer as pessoas junto, com capacitação e mudança cultural”, completou o executivo da Muevy.