A RecargaPay, fintech que se posiciona como um aplicativo financeiro para investir, pagar, financiar e ganhar dinheiro, está começando a oferecer crédito para quem ainda não é cliente, ou seja, em “mar aberto”. Em junho, a empresa lançou um cartão de crédito com 1,5% de cashback e também estuda a entrada no mercado de crédito consignado – público e privado.
“Estamos explorando novos produtos de crédito, como consignado privado e público, que são potenciais bem interessantes. Estamos olhando com carinho [essas modalidades], mas por enquanto não temos novidades”, diz Gustavo Victorica, cofundador e responsável por Operações (Chief Operating Officer, COO), ao Finsiders Brasil durante a “Rio Innovation Week 2025“, na quarta-feira (13/8). “Tenho acompanhado o novo consignado privado, e tem muita fintech, muita financeira nova aproveitando essa oportunidade. Assim como teve a onda do FGTS [antecipação de saque-aniversário].”
Enquanto busca avançar na oferta de crédito, a RecargaPay pavimenta um novo caminho na captação de recursos (funding). No mês passado, a fintech colocou no ar seus primeiros Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). O movimento ocorre cerca de sete meses depois da obtenção da licença de financeira junto ao Banco Central (BC). Até então, a empresa atuava como uma fintech de crédito do tipo Sociedade de Crédito Direto (SCD), cuja regra permite operar apenas com recursos próprios.
“Lançamos a primeira oferta para os clientes. Agora estamos criando mais opções de prazo e papéis”, diz Gustavo. A intenção neste momento, contudo, não é construir uma plataforma de investimentos com diferentes modalidades dentro do app. “O planejamento é continuar com renda fixa, que é o que o povo quer realmente”, afirma ele. O cenário de juros altos naturalmente contribui para essa estratégia.
Open Finance e IA
A RecargaPay também vem utilizando bastante os dados compartilhados pelos clientes por meio do Open Finance, inclusive na análise de crédito. Segundo Gustavo, a empresa desenvolveu um score específico baseado em Open Finance e combina essa avaliação com outros dois outros modelos – um baseado no histórico e comportamento do cliente e outro fruto de scores de mercado. “Temos uma assertividade muito alta. Metade dos nossos empréstimos pessoais é para negativados.”
A RecargaPay bebe da fonte do Open Finance no momento da abertura de contas por novos clientes, o chamado onboarding, cita o COO. O recurso, em fase de testes, vem sendo chamado pela empresa de “cadastro express“. Isso porque reduz etapas na análise e validação dos dados desses novos usuários. “Eu peço consentimento [para compartilhar dados via Open Finance] na largada, recebo informações do histórico financeiro, e dependendo de qual instituição, eu confio mais ou não no dado”, explica o executivo.
Ainda na abertura de contas, que no mês passado foi “recorde” segundo Gustavo, as equipes de Prevenção à Lavagem de Dinheiro (PLD) da RecargaPay vem aplicando Inteligência Artificial (IA) para dar conta do crescimento acelerado de novos usuários. De acordo com o executivo, a solução foi criar um sistema que consulta automaticamente múltiplas fontes: birôs, validação de CPF, listas restritivas e bases públicas, mídias e justiça. A IA sugere a decisão, que passa por revisão manual, e depois monta o dossiê eletrônico.
“São duas etapas de economia muito grande, com ganho operacional de 90%. Com isso, liberamos essas pessoas para fazerem outras avaliações porque o BC está mais exigente. Então, a IA amplifica o poder humano.”
Competição
Em relação à acirrada concorrência no setor financeiro, inclusive com outros neobancos e carteiras digitais que viraram gigantes, Gustavo lembra que há muita oportunidade no Brasil. “Os challengers representam apenas 4% do total de serviços financeiros no País. O espao é grande”, aponta o executivo.
Para a RecargaPay, atualmente com mais de 10 milhões de usuários e negócio lucrativo desde 2023, a estratégia combina eficiência operacional, foco no produto e uso intensivo de tecnologia, como IA. “Sabemos que pagamento é commodity. A forma como crescemos, e nós crescemos organicamente, é focar muito na experiência do usuário, nos casos de uso e passar economia para o cliente – taxas mais baixas, cashback mais alto. E conseguimos fazer isso com equipe enxuta.”
*O jornalista viajou ao Rio de Janeiro a convite da RecargaPay.