MERCADO

Inter, Creditas e Neon crescem com cautela no novo consignado privado

Modalidade, que estreou há cerca de cinco meses, passa por ajustes operacionais, disseram executivos em evento do Santander

Henrique Navarro/Santander, Alexandre Riccio/Inter, Erica Stols/Creditas e Jamil Marques/Neon na 26ª Conferência Anual Santander | Imagem: Danylo Martins
Henrique Navarro/Santander, Alexandre Riccio/Inter, Erica Stols/Creditas e Jamil Marques/Neon na 26ª Conferência Anual Santander | Imagem: Danylo Martins

Cerca de cinco meses depois da estreia do novo consignado privado, alguns dos maiores bancos digitais e fintechs do País veem na modalidade uma grande oportunidade. Entretanto, adotam um crescimento com cautela. Na avaliação de executivos de Creditas, Inter e Neon, que participaram de painel na “26ª Conferência Anual Santander” nesta terça-feira (19/8), o produto ainda enfrenta desafios operacionais, assim como passa por um amadurecimento natural.

Quando as questões forem solucionados, a expectativa é que o mercado dê um salto dos atuais R$ 40 bilhões para mais de R$ 200 bilhões, projetou Alexandre Riccio, CEO do Inter no Brasil. “Começamos com apetite para crescer, mas crescer de forma conservadora”, disse o executivo. Atualmente, as linhas de crédito com garantia respondem por dois terços da carteira de R$ 40 bilhões do Inter, informou ele. “Temos conseguido crescer essa carteira entre 25% e 35%, tanto no colateralizado [com garantia] quanto no sem garantia. E o consignado privado é uma alavanca para esse crescimento.”

O executivo do Inter revelou que o banco já origina mais de 5% do volume divulgado do novo produto e tem mais de 10% de participação nos desembolsos. Mas mantém “conservadorismo” na adequação de prazo e taxas. Sobre o público potencial da modalidade, ele faz a comparação com a carteira de antecipação de saque-aniversário do FGTS. “Quase 4 milhões de clientes nossos fazem antecipação do saque-aniversário — quem tem FGTS é celetista, ou seja, é uma base que se encaixa como uma luva [para o novo consignado privado]”, explicou.

Na Creditas, que já atuava com o consignado privado no modelo antigo – por meio de convênios firmados com as empresas, o conservadorismo também impera. “Nesta transição [para o novo modelo], como foi um produto colocado de pé muito rápido, tem questões operacionais e de amadurecimento do produto. Por isso estamos entrando de modo mais conservador”, apontou Erica Stols, vice-presidente de Tesouraria da Creditas. De acordo com a executiva, a carteira de consignado hoje é a menor unidade de negócio da fintech. Segundo ela, representa cerca de 15% dos R$ 6,5 bilhões da carteira de crédito.

Com o novo consignado privado, a Neon já origina o dobro do que fazia no modelo antigo, informou Jamil Marques, executivo responsável por Finanças e Operações (CFO & COO). Segundo ele, a fintech atua com a modalidade desde 2021. “No modelo antigo, tínhamos cerca de 300 convênios com empresas, mas havia o desafio de ser uma operação quase analógica”, disse. Hoje, cerca de 75% da carteira da Neon está em crédito sem garantia, disse o executivo. “Esperamos crescer 40% neste ano, em receita e carteira.”

Além do consignado, os executivos discutiram sobre o uso de Inteligência Artificial (IA) e a combinação dessa tecnologia com dados do Open Finance. No Inter, a IA vai da hiperpersonalização à produtividade interna — hoje, cerca de 25% da força de desenvolvimento opera com GenAI. Na Creditas, as frentes vão de modelagem de crédito a automatização de processos internos. No caso da Neon, o primeiro nível do atendimento ao cliente é 100% realizado hoje por IA. A fintech diz avançar para IA contextual, copilotos e uma cultura “AI-first”.