O lucro líquido consolidado das cinco fintechs brasileiras com ações em bolsa no primeiro semestre de 2025 cresceu 29,2%, para R$ 12,1 bilhões. Um ano antes, foi de R$ 9,3 bilhões. O Nubank registrou R$ 6,6 bilhões (considerando um dólar médio de R$ 5,5); a XP, R$ 2,6 bilhões; Stone, R$ 1,2 bilhão; PagBank, R$ 1,1 bilhão; e Inter, R$ 639 milhões.
“O forte engajamento dos clientes impulsionou as receitas para US$ 3,7 bilhões e nos permitiu quase triplicar nosso lucro líquido trimestral nos últimos dois anos”, disse em nota o CEO do Nubank, David Vélez. “É possível escalar eficientemente, com disciplina, e ainda gerar lucros enquanto construímos a base para o longo prazo”. A inadimplência acima de 90 dias no Brasil ficou em 6,6%, e o portfólio de crédito total alcançou US$ 27,3 bilhões (R$ 150 bilhões).
Já a XP encerrou o segundo trimestre com lucro líquido de R$ 1,3 bilhão e receita líquida de R$ 4,5 bilhões, além de carteira de crédito de R$ 24 bilhões. No caso da XP, os dados reforçam a estratégia menos dependente de crédito e mais atrelada a serviços financeiros e distribuição de investimentos.
Os próximos seis
Na Stone, o trimestre trouxe receita de R$ 3,5 bilhões, atrasos acima de 90 dias de 4,7% e carteira de crédito de R$ 1,8 bilhão. “Entregamos mais um trimestre consistente, com disciplina na gestão de capital e forte geração de caixa”, afirmou o CEO Pedro Zinner, em nota.
O PagBank divulgou receita líquida de R$ 5,1 bilhões no segundo trimestre, e lucro recorrente de R$ 565 milhões. A carteira de crédito expandida somou R$ 48 bilhões e os depósitos, R$ 37,2 bilhões. “Crescemos com rentabilidade e seguimos gerando valor aos nossos acionistas. Estimamos um retorno de 18% aos nossos acionistas, considerando dividendos e programas de recompra”, disse o diretor financeiro Artur Schunck, em nota. “Continuamos evoluindo com nossa plataforma de negócios; para o segundo semestre, mantemos uma visão otimista, guiada pela disciplina na execução”, completou o CEO Alexandre Magnani.
No Inter, o lucro líquido foi de R$ 315 milhões (+53% em um ano), com carteira de crédito em R$ 40,2 bilhões (22% maior). A inadimplência em 90 dias ficou em 4,6% (excluindo antecipação de recebíveis). “Com disciplina na execução, estamos colhendo os benefícios da nossa estratégia focada em rentabilidade, crescimento sustentado e inovação”, disse em nota o CEO João Vitor Menin.
Cícero Santos, diretor executivo da Peers Consulting + Technology, acredita que “payments puro virou commodity e o banking emergiu como o diferencial competitivo”. No PagBank, “o banking já responde por mais de 26% do lucro bruto”. Isso é sinal de que a conta e os produtos de banco já pesam no resultado e reduzem a dependência só da adquirência. Já na Stone “os depósitos crescem 2,9 vezes mais rápido que o Volume Total de Pagamentos (TPV)”.
Análise
Ou seja, processar transações, apenas, tende a render margens menores e pouca diferenciação entre competidores. O que passa a fazer diferença, na visão dele, é o banking: conta, depósitos, cartões, crédito e serviços bancários que elevam o relacionamento com o cliente e abrem espaço para receitas recorrentes.
Para Cícero, no mercado de fintechs de pagamento a captura de clientes perdeu espaço para precificação, funding e cross‑sell como motores de resultado. Isso explica em boa parte porque o lucro combinado dessas cinco cresceu no semestre. Não é só mais transação; é mais receita bancária, melhor precificação e gestão de risco. Nesse contexto, métricas como inadimplência e carteira de crédito indicam qual mix sustenta o lucro. Já depósitos e ex‑ITC ajudam a enxergar quanto do resultado fica na casa (receita que não é mero repasse) e quanto custa financiar o crédito. Ex-ITC significa “ex‑interchange”, ou seja, exclui a tarifa de intercâmbio dos cartões, um repasse do sistema. Isso ajuda a ler a geração de receita que fica com a empresa.
A mesma lógica por trás do comentário de que o Pix funciona como um “cavalo de Troia” para o cross‑sell: o Pix QR Code cresce muito mais rápido que o TPV de cartões. TPV significa Volume Total de Pagamentos (Total Payment Volume), uma métrica que representa o valor total das transações processadas por uma plataforma ou negócio num determinado período. Segundo o consultor, com rentabilidade similar ao débito. Se a operação não perde margem ao migrar pagamentos para Pix, abre espaço para, a partir desse uso frequente da conta, vender cartão, crédito, seguros e outros serviços (cross‑sell). Em outras palavras: o tráfego transacional vem pelo Pix, e a monetização mais ampla vem da oferta de produtos bancários.