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Como o 5G pode impactar positivamente as fintechs? Bruna Cataldo/Instituto Propague

Bruna Cataldo*


O 5G – tecnologia que garante baixo tempo de resposta entre o servidor e o dispositivo – completou seu primeiro aniversário de operação no Brasil em julho, renovando o interesse sobre o quanto já avançou e o que pode oferecer para o setor financeiro.

Há registros de que essa tecnologia pode ser até 20 vezes mais rápida que o 4G e conectar até 1 milhão de aparelhos por quilômetro quadrado. Para fins comparativos, o limite do 4G é de 10 mil dispositivos.

Essas características representam grandes oportunidades para as fintechs, pois garantem dois aspectos fundamentais de uma experiência positiva no ambiente digital: velocidade e estabilidade. O 5G permite a expansão da atuação na internet das coisas, possibilitando transações em produtos como relógios, geladeiras e carros inteligentes. Embora esse tipo de solução já exista, seu crescimento é limitado pela qualidade da rede no país, o que dificulta a conexão de múltiplos aparelhos ao mesmo tempo e resulta em conexões lentas e instáveis em ambientes remotos e congestionados, exatamente pontos que o 5G promete corrigir.

A expectativa é de que o 5G permita que as fintechs desenvolvam sistemas de segurança mais complexos e eficientes, uma evolução de mercado cada vez mais importante diante do crescimento exponencial de fraudes. O problema chegou ao ponto de, no 1º trimestre de 2023, o Brasil ter registrado 2,8 mil tentativas de fraude por minuto.

A maior capacidade de processamento de informações deve aumentar também a eficácia das fintechs na personalização da experiência do cliente. Esse já é um diferencial dessas empresas no mercado, mas é esperado que o 5G otimize e eleve tais funcionalidades a um novo patamar.

De forma mais indireta, as fintechs também podem se beneficiar da expansão da cobertura de internet associada ao 5G: uma das condições da concessão da tecnologia foi a obrigatoriedade de instalação em áreas do país que antes eram digitalmente excluídas, o que resultará em um aumento do universo potencial de clientes. Esse movimento incluirá pessoas que antes estavam desconectadas e, portanto, não podiam consumir produtos financeiros digitais. Ao oferecer acesso à rede, o 5G dá a elas a possibilidade de eventualmente usá-la para fazer transações financeiras digitais. Assim, cabe às empresas, sabendo dessa possibilidade, pensar em formas de atender às necessidades específicas desse público e convertê-los em clientes.

No entanto, é importante ser realista sobre a implementação do 5G no país. Além do cronograma originalmente estabelecido pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), que se estende até 2028 – enquanto a China e outros países já começam a falar em 6G – a falta de infraestrutura jurídica e material pode atrasar ainda mais esse processo.

Considerando os dados, após 1 ano de operação, a ANATEL reportou que o 5G chegou a 30% dos municípios e atingiu 8 milhões de brasileiros. Também há relatos de instabilidade e concentração no Sudeste, mesmo com instalações já registradas em todas as regiões. Além da questão do alcance, o alto custo dos dispositivos compatíveis com 5G pode dificultar o acesso para aqueles que precisam ser incluídos financeiramente, além de digitalmente, podendo minimizar o impacto esperado para as fintechs.

Apesar das dificuldades, vale dizer que os dados da ANATEL também mostram que o avanço do 5G está sendo mais rápido do que o do 4G: o primeiro levou 9 meses para alcançar 8 milhões de brasileiros, enquanto o último levou o dobro do tempo. Da mesma forma, o aumento de aparelhos compatíveis, que já ultrapassou 100 modelos, pode reduzir os custos.

Assim, as fintechs que estiverem preparadas para aproveitar as oportunidades criadas pela tecnologia podem sair na frente na corrida por novos clientes e produtos que a tecnologia tem o potencial de atrair e impulsionar.

*Head de Pesquisa do Instituto Propague e colunista do portal Fintechs Brasil