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NOVAS ENTRANTES: Senior Bank estreia em outubro, para "tirar a cruz do crédito consignado das costas dos aposentados"

Dario Palhares

Reza um antigo dito popular que o melhor negócio no Brasil é um banco bem administrado e o segundo mais lucrativo é um banco mal administrado. Exageros à parte, a fila de candidatos a ingressar no mercado financeiro pela porta da inovação, ou seja, com a criação de fintechs, segue a crescer. Entre 2016 e 2022, surgiram 976 startups do gênero, elevando o total para mais de 1,3 mil, segundo o Distrito – do ano passado pra cá foram 30, apesar da redução do apetite dos investidores por novos empreendimentos de perfil high tech.

“No segundo semestre de 2022, a demanda por nossos serviços apresentou alguma instabilidade, em razão, sobretudo, das incertezas geradas pela corrida eleitoral. Desde janeiro, contudo, consultas e assinaturas de contratos vêm crescendo”, diz Maurício Miguel, sócio e CEO da Diletta Pay, plataforma white label que já colocou em operação cerca de 30 bancos digitais desde 2020.

A primeira reportagem da série especial NOVAS ENTRANTES, sobre calouras e novatas promissoras no universo da inovação em finanças é um perfil do Senior Bank: com estreia prevista para outubro, a nova fintech quer “tirar a cruz do crédito consignado das costas dos aposentados e pensionistas do INSS”. Mas a lista das que surgiram nos últimos meses é longa: PaGol, 2W Bank, NossBank, UY3, T10, Fandi, ValePay, GoBank, 2GO, Fincrop (da Bunge), VOU (da Volkswagen), Mêntore Bank, WasteBank, Silver Bank (da Mercedes-Benz)…

Marketplace

A ideia do Senior Bank é ser um alento para brasileiros com mais de 50 anos, que representam 26,6% da população mas ainda são desprezados pelo sistema financeiro, inclusive pelas startups do ramo. O lançamento deve ser no Dia Nacional do Idoso, em 1/10, durante o Longevidade Expo Fórum, em São Paulo.

Carro-chefe de um marketplace homônimo, a fintech tem como uma de suas principais metas reduzir o elevado grau de dependência de seu público-alvo em relação ao crédito consignado aos beneficiários do INSS, modalidade de financiamento que, com taxas de até quase 28% ao ano, vem depenando cinquentões e demais idosos.

De acordo com o Mapa da Inadimplência e Negociação de Dívidas no Brasil, da Serasa Experian, o contingente de cidadãos de mais de 60 anos com pagamentos em atraso cresceu 21,75% desde junho de 2021, para 12,9 milhões, e já corresponde a 18,1% do total de inadimplentes*.

“Tem gente que passa de 15 a 18 anos pendurada no consignado, linha que representa risco zero para os financiadores e é, a rigor, o único produto de crédito oferecido pelos bancos para os idosos”, comenta o jornalista Ricardo Mucci, de 70 anos, o idealizador do Senior Bank. “Também vamos atuar em consignado, mas com taxas bem mais em conta, entre as três menores do mercado. Não queremos que aposentados e pensionistas sejam reféns desses financiamentos.”

Sócio e investidor

A fintech começou a ser esboçada há quatro anos, quando Mucci, que se tornou um influenciador digital de grande prestígio entre o público 50+, decidiu dar um passo além na sua militância. Apresentado na SP Tech Week de 2020, o projeto despertou interesse no segmento de inovação e rendeu ao jornalista um estágio de seis meses no LogBank, plataforma de banking as a service (BaaS) do grupo Stefanini que atende mais de 150 bancos digitais.

Pouco depois, Mucci ganhou um sócio, o cientista da computação Rodrigo Valicelli (ex-Banco Original, Santander, Ergondata etc.), e passou a contar com o apoio de um investidor, Diego Rondon (ex-99 e WebMotors).

“A montagem do Senior Bank teve início em julho de 2022 e os primeiros testes, com parentes e amigos, foram realizados em abril último”, diz o jornalista. “O aplicativo da conta digital ainda não está no ponto ideal, mas já oferece o essencial, como cartão de débito, envio e recebimento de TEDs e pagamentos de contas e tributos.”

O cronograma de lançamento do banco sofreu atraso em razão das recentes turbulências no setor financeiro do hemisfério norte – com destaque para a quebra do Silicon Valley Bank (SVB), nos Estados Unidos, e a compra emergencial do Credit Suisse pelo UBS, na Europa –, que causaram uma retração momentânea dos investidores em fintechs.

Rodada a caminho

Como tiveram de tirar o pé do acelerador, Mucci e seus pares decidiram ampliar o projeto, para torná-lo mais atraente ao mercado. “Resolvemos criar um marketplace, o Senior, proposta que já estava em nossos planos”, diz ele. “A ideia é oferecer um ecossistema financeiro e de serviços para o público de 50 anos ou mais, com opções de crédito, investimentos, viagens, lazer, saúde, medicamentos etc.”

O parceiro do Senior na jogada é a paulista Venddor, que fornece ferramentas e consultoria para a estruturação de marketplaces e conta com um dos mais valorizados “gurus” do comércio virtual local, German Quiroga, um dos responsáveis pela criação, em 1999, do portal Americanas.com. Com a ajuda da Venddor, Mucci e seus sócios estão elaborando o novo plano de negócios e definindo o valor (valuation) do empreendimento.

A seguir, vão oferecer seu peixe a potenciais investidores. “Planejamos uma rodada inicial de captação de recursos em agosto e uma segunda, mais parruda, apostando na evolução do maketplace, daqui a um ano”, diz o jornalista.

Sapo ou macaquinho?

Em elaboração, o cardápio de produtos e serviços do Senior prevê alguns itens fora da curva. Uma das propostas em estudo na área de investimentos é a “poupança do neto”, cujos depósitos, claro, ficarão a cargo dos avós. Outra vertente a ser explorada é o incentivo ao empreendedorismo na terceira idade, com a oferta de linhas de crédito para pequenos negócios e até mesmo de franquias de cafés e cervejarias artesanais, por meio de microarranjos produtivos.

“Com a elevação da expectativa de vida no país e no mundo, é preciso garantir aos idosos fontes de geração de rendas. Se não, a conta dos aposentados não fecha”, diz Mucci, que planeja encerrar o primeiro ano do Senior Bank com algo entre 3 mil e 5 mil correntistas. “Não temos a pretensão de ser unicórnios. Se virarmos um sapo ou um macaquinho, já ficaremos satisfeitos.”

* Segundo o último levantamento da Serasa Experian, 71,45 milhões de brasileiros estavam com pagamentos em atraso em junho último. Dos R$ 346,3 bilhões de dívidas, 31,13% eram referentes a bancos e cartões (2,53 pontos percentuais a mais do que em junho de 2021), 22,07% a contas de serviços públicos e 11,44% ao varejo. Nos dois últimos anos, os idosos (pessoas com 60 anos ou mais) foram o grupo etário que apresentou maior crescimento entre os inadimplentes, saltando de 17% para 18,1% do total.

Diletta Pay movimenta R$ 450 milhões

A Diletta Pay, fornecedora de tecnologia por trás do Senior Bank, está surfando essa onda de novas fintechs – entre seus clientes está também outra novata, o Silver Bank, da Mercedes-Benz, (desenvolvido para a montadora pelo Diesel Bank, também de Campinas).

Com um volume de operações em sua plataforma já ao redor de R$ 450 milhões por mês, a Diletta Pay traça planos de expansão. A meta é fechar o ano com 65 clientes ativos. “Está tudo bem encaminhado para uma rodada de investimentos, que será realizada nos próximos três meses. O objetivo é captar de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões”, diz Miguel.

Mas nem só de fintechs vive a Diletta. Boa parte da freguesia é composta por cooperativas e redes de varejo, que vêm ganhando, ultimamente, a companhia de razões sociais de outros segmentos.

“Temos sido muito procurados por factorings, fundos de investimento em direitos creditórios, FIDCs, prestadores de serviços de ERP e empresas do ramo de benefícios”, conta Miguel.

A Diletta também vem investindo na ampliação do seu cardápio de produtos serviços – com a inclusão de opções de seguros, crédito e criptoativos – e na área de vendas, hoje sob os cuidados de um solitário vendedor, que passará a contar com seis profissionais. “Nossa estratégia terá foco em três verticais de negócios: crédito, imobiliário e saúde”, diz Miguel.

Os planos de captação começaram a sair do papel no ano passado, quando a Diletta Solutions, a holding do grupo, iniciou contatos com potenciais investidores, inclusive com um fundo de investimento alemão. Em média, o comando da empresa tem conversado com oito candidatos por semana ao longo dos últimos meses.