
Para além dos mais de 110 milhões de consentimentos ativos e cerca de 70 milhões de contas conectadas em sua trajetória de cinco anos, o Open Finance no Brasil começa a mostrar resultados por meio de casos de uso. É o que indicam informações coletadas semestralmente pelo Banco Central (BC) junto às instituições mais relevantes no ecossistema. Em operações de crédito, por exemplo, já são R$ 31 bilhões em originação com base no compartilhamento de dados via Open Finance. Desse montante, R$ 12 bilhões foram no primeiro semestre de 2025. E as fintechs responderam por R$ 5,4 bilhões dos R$ 31 bilhões, ou seja, pouco mais de 17%.
“O Open Finance tem mais de 800 instituições participantes, 111 milhões de consentimentos ativos e cerca de 70 milhões de contas conectadas. Lembrando que uma mesma pessoa pode ter mais de uma conta conectada. A média de chamadas de APIs é de 3,5 bilhões por semana. Mas quero destacar os números ligados a casos de uso porque eles tangibilizam os benefícios para os clientes”, disse Matheus Rauber, chefe de Subunidade no Departamento de Regulação do BC, em painel durante o “Fintouch 2025“, evento realizado nesta terça-feira (23/9) pela Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs).
Segundo ele, as soluções de gestão financeira por meio da agregação de múltiplas contas bancárias estão entre os casos de uso mais comuns. Hoje, elas já alcançam 55 milhões de contas ativas – 35 milhões apenas nos seis primeiros meses de 2025. Na gestão de investimentos, mais de R$ 30 bilhões foram movimentados via Open Finance, dos quais R$ 14 bilhões apenas no primeiro semestre deste ano.
Notificações e “alertas inteligentes” com base na conexão das contas por meio do Open Finance também são recursos encontrados com frequência no mercado. Por exemplo, ao compartilhar dados entre as instituições onde tem conta, o cliente pode ser avisado pelo banco A se entrou no cheque especial no banco B. “Uma instituição reportou que poupou R$ 16 milhões apenas com notificações relacionadas ao cheque especial”, citou Matheus, sem dar o nome do player.
Portabilidade: crédito, salário e investimentos
De acordo com o porta-voz do BC, o Open Finance traz eficiência também para os mecanismos de portabilidade de crédito e de salário. Na primeira, já são mais de 62 mil operações, sendo 7 mil de janeiro a junho de 2025. No segundo processo, por sua vez, a quantidade total de operações passa de 92 mil, com quase metade (44 mil) somente nos seis primeiros meses deste ano.
Apesar de algumas instituições já terem números em relação à migração de crédito e salário, o regulador trabalha em regras para que esses processos ocorram, de forma padronizada, por meio da infraestrutura do Open Finance. Os testes da portabilidade de crédito começam ainda em 2025, com previsão de lançamento em fevereiro de 2026. No caso da portabilidade de salário, o BC prevê avanços para os próximos dois anos.
No futuro, a expectativa é também ampliar o escopo de dados de investimentos, permitindo a portabilidade integral de aplicações financeiras. “Hoje, os dados de investimentos cobrem apenas produtos mais populares. Para entregar a melhor experiência ao cliente, vamos precisar aumentar esse escopo”, explicou Matheus.
Além disso, o porta-voz do BC reforçou a necessidade de melhorar a jornada do cliente, permitindo consentimentos múltiplos — como dados de saldo e iniciação de pagamentos — em uma única etapa. Segundo ele, está em desenvolvimento e se chama jornada otimizada. “Vai reduzir erros e tornar a experiência muito mais fluida.”
‘Virada de chave’
Na parte de iniciação de pagamentos, no primeiro semestre de 2025, houve a movimentação de R$ 1,3 bilhão em operações entre contas de mesma titularidade e outros R$ 300 milhões entre contas de diferentes titulares, citou Matheus. Por meio da Jornada Sem Redirecionamento (JSR), foram R$ 211 milhões transacionados via carteira digital nesse mesmo período. Já o Pix por Aproximação começa a ganhar força, registrando R$ 7,2 milhões no intervalo.
Para Murilo Rabusky, cofundador da infratech Lina, houve uma mudança importante no mercado do segundo semestre de 2024 para cá. “Foi uma virada de chave. Antes, o Open Finance era visto como um ‘problema’ de tecnologia e compliance. Agora, ganhou protagonismo nas áreas de negócios, que passaram a ver a infraestrutura do ecossistema como catalisador de oportunidades de negócios”, afirmou ele, também no painel.
Já Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem e conselheiro independente do Open Finance, ressaltou como o sistema vem viabilizando novos modelos de negócio. Entre eles, por exemplo, estão soluções via WhatsApp com uso de Inteligência Artificial (IA), como as das fintechs Magie e Jota. “Seja para hiperpersonalizar ou aumentar a principalidade, há uma série de retornos. Alguns são mais objetivos, como o crédito, mas também tem a questão dos relacionamentos [entre os clientes e as instituições].”