ESTADO DE ALERTA

Golpes no Pix: 9 em cada 10 brasileiros temem ser vítimas

Segundo pesquisa da empresa de antifraude Data Rudder, 70% dos usuários notaram aumento desses casos do último ano para cá

Fraudes, segurança digital | Imagem: Adobe Stock
Fraudes, segurança digital | Imagem: Adobe Stock

Apesar da confiança no Pix, a escalada de golpes e fraudes assusta cada vez mais os brasileiros. Tanto é que 93% das pessoas têm medo de serem vítimas, um em cada cinco usuários já sofreu esse tipo de problema e 18% afirmam não utilizar o sistema de pagamento instantâneo por receio de fraudes. Os dados são da segunda edição da pesquisa “Data Report Pix“, feita pela empresa de antifraude Data Rudder em parceria com a Opinion Box.

De acordo com o estudo, divulgado em primeira mão ao Finsiders Brasil, sete em cada dez brasileiros (70%) notaram um aumento nos golpes e fraudes via Pix. Trata-se de uma alta de quase 13 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, de 2024. Houve um crescimento nas fraudes com compras e boletos falsos. Elas superam, por exemplo, os golpes no WhatsApp. Os principais temores dos usuários envolvem roubo de celular (72%), clonagem de cartão (71%), clonagem do WhatsApp (69%) e roubo de dados (68%).

“Além disso, hoje tem toda uma parte de Inteligência Artificial (IA) para apoiar os fraudadores, simulando voz, imagem e vídeo de familiares”, conta a cientista de dados Rafaela Helbing, CEO e cofundadora da Data Rudder. “Também existem novas modalidades de golpes, como malwares em aplicativos que mudam a chave Pix sem o usuário perceber na hora de uma transação.”

Papel de bancos e fintechs

A pesquisa mostra também que quase 70% dos brasileiros esperam que as instituições financeiras sejam as principais responsáveis por prevenir e combater fraudes. Apesar disso, mais da metade das pessoas (55%) que sofreram golpes por Pix relatam não ter recebido suporte. E 19% dos que receberam atendimento não tiveram solução para o problema. Além disso, 31% afirmam que o nível de confiança na instituição caiu após o golpe. Já 13% dizem não confiar mais.

Na visão de Rafaela, a questão merece mais atenção por parte de bancos e fintechs. “As instituições financeiras não estavam dando tanta atenção à fraude no Pix porque não tinham uma perda financeira no final do dia. Diferente do cartão de crédito, que tem chargeback e obriga o banco a arcar com a fraude; no Pix, não [tem isso]. Então, faltou priorizar a proteção do usuário”, defende.

“Muitas vezes, quando alguém cai em um golpe de engenharia social, o banco diz que não pode fazer nada porque foi o próprio cliente que se autenticou e realizou a transação. Mas o banco pode, sim. Tanto o que enviou o dinheiro poderia identificar uma operação fora do padrão, como o que recebeu poderia detectar que estava acolhendo recursos de fraude.”

MED 2.0

O estudo indica, ainda, que a dificuldade em obter reembolso ainda é um dos principais entraves para a adoção do Pix. Entre os entrevistados, 18% afirmam não usar o sistema justamente por não conseguirem recuperar valores em caso de fraudes. O problema também aparece entre quem já foi vítima: 44% dos usuários que sofreram golpe relataram não ter conseguido reaver o dinheiro perdido.

A partir de fevereiro de 2026, as instituições participantes do arranjo Pix serão obrigadas a adotar uma nova funcionalidade que permitirá devoluções em até 11 dias após a contestação. O recurso é o MED 2.0, chamado assim por ser uma nova versão do Mecanismo Especial de Devolução (MED). Na prática, será possível rastrear os caminhos percorridos pelo dinheiro em casos de fraudes, golpes ou coerção.

Para Rafaela, o MED 2.0 deve trazer avanços no combate a fraudes e golpes, mas não será a solução definitiva. Ela explica que fraudadores não dependem apenas de “contas laranjas”, mas também usam transações lícitas para disfarçar o dinheiro, como compras de produtos. “O desafio será diferenciar o que é fraude do que é uma transação comum”, afirma a especialista.

Mesmo com o aumento da percepção de fraudes e golpes, o Pix tem a confiança dos brasileiros, de acordo com o estudo. Tanto é que 81% dos entrevistados dizem ter usado o sistema nos últimos 12 meses e 80% o consideram bastante seguro. Além disso, oito em cada dez fazem transações semanais. A maioria das operações (59%) tem valores entre R$ 50 e R$ 300, para compras do dia a dia, transferências familiares e pagamentos de contas.