RETRATO DESIGUAL

Cadê elas? Mais da metade das fintechs no Brasil não têm mulheres em diretoria

Pesquisa do escritório Silva Lopes Advogados, com base em dados disponíveis no Banco Central (BC), mapeou a presença feminina nas instituições reguladas

Imagem gerada por IA/Adobe
Imagem gerada por IA/Adobe

De um total de 354 fintechs reguladas pelo Banco Central (BC), mais da metade delas (208 ou 58,8%) não têm sequer uma mulher em cargo de diretoria. A constatação está na pesquisa “Women in Fintech: Agora é a nossa vez“, do escritório Silva Lopes Advogados. O escritório lançou nesta semana o movimento “Women in Fintech”, cujo objetivo é mapear, dar visibilidade e ampliar o impacto da força de trabalho feminina no mercado de fintechs e pagamentos. 

O levantamento se baseia em informações públicas disponibilizadas pelas próprias instituições junto ao BC, com dados até 19/9. Foram consideradas os seguintes perfis de players: Instituições de Pagamento (IPs), Sociedades de Crédito Direto (SCDs), Instituidores de Arranjos de Pagamento e Sociedades de Empréstimo entre Pessoas (SEPs).

De acordo com a pesquisa, mesmo nas fintechs que contam com mulheres em posições de diretoria, as profissionais femininas representam, em média, apenas 37,8% dos cargos. Ou seja, pouco mais de uma em cada três cadeiras. “Isso mostra que já existe representatividade, mas também evidencia que a maioria das cadeiras ainda é ocupada por homens”, escreveu no relatório Daniela Froener, sócia e responsável por Operações (Chief Operating Officer, COO) do Silva Lopes Advogados.

Para a advogada, o “equilíbrio parcial” não deve ser encarado só como um número, mas como um sinal de que o mercado brasileiro de fintechs está em processo de mudança. “Por ser um setor novo, há espaço para que mais mulheres avancem para esses cargos e tragam perspectivas que unem crescimento empresarial e impacto social”, apontou ela.

Representatividade feminina no alto escalão

Se as mulheres em posições de diretoria respondem por pouco mais de 41% das fintechs (ou 146) no País, o percentual cai bastante em cargos de maior poder decisório, como diretora presidente, CEO ou diretora executiva.

Conforme o levantamento, as 146 empresas com mulheres na diretoria englobal um total de 213 profissionais. Dessas, 77 aparecem apenas com a designação genérica de “diretora”, sem detalhamento das funções. Nas demais 136 posições com cargo especificado, somente 14 mulheres ocupam o posto de “diretora presidente” [veja lista de empresas ao final da matéria]. Já nove são “administradoras”, enquanto outras nove aparecem como “diretoras executivas”. Há, ainda, outras funções listadas em menor número.

Imagem: print de tela – relatório “Women in Fintech”

A representatividade feminina nos cargos de liderança varia entre os tipos de instituição. As IPs, por exemplo, apresentam o maior percentual: 42,3% delas têm mulheres na diretoria (83 de 196 empresas). As SCDs registram 35% (49 de 140), enquanto os Arranjos de Pagamento apresentam 33,3% (2 de 6) e as SEPs computam 25% (3 de 12).

Em termos geográficos, há uma concentração em São Paulo. O estado reúne 63,9% das diretoras, seguido de longe por Minas Gerais (6,4%), Santa Catarina (5,1%) e Rio Grande do Sul (5,1%). No recorte por cidades, a capital paulista soma quase metade (47,8%) do total de fintechs com mulheres em postos de diretoria. Na sequência, aparecem outros (38,6%), Barueri (9,4%) e Cuiabá (5%).

Na contramão

Embora minoritárias, algumas fintechs apresentam um quadro completamente diferente. CDC, dLocal, Mova, Nvio SCD e PagCerto são exemplos de instituições com diretorias integralmente femininas. Outras instituições, como Adyen, Astro, Bitso, Credi-shop, UzziPay e Worldpay, têm dois terços dos assentos ocupados por mulheres.

Em termos de volumes absolutos, grandes instituições financeiras concentram o maior número de mulheres na alta liderança, de acordo com o levantamento. O Itaú Unibanco está na dianteira, com dez diretoras. Em seguida, aparecem Nu Pagamentos (Nubank), Cielo, ACG e Credi-shop, cada uma com quatro.

Perfil

O relatório traz também um levantamento com 103 profissionais do setor, conduzido entre 11/8 e 26/9. Conforme os dados, apenas sete mulheres (6,8%) ocupam posições de C-level, como CEO, CTO (Tecnologia) e CMO (Marketing). Existem, ainda, 16 diretoras (15,5%) e 24 gerentes (23,3%). A maior concentração, porém, está entre as 31 analistas pleno/sênior (30,1%).

Entre as participantes da pesquisa, mais da metade (52,9%) têm entre 26 e 35 anos. A maioria (63,1%) possui pós-graduação ou MBA. Já outras 12,6% fizeram mestrado. O Direito é a área mais recorrente, reunindo 50,5% das profissionais, seguido por Administração (15,5%).

Imagem: print de tela – relatório “Women in Fintech”

No mercado de trabalho, a experiência varia. Quase um quarto (24,5%) das respondentes atua há mais de dez anos no setor, enquanto outra parcela semelhante (27,7%) tem entre um e três anos de trajetória.

Desafios e diversidade

As percepções das entrevistadas sobre a presença feminina no mercado brasileiro de fintechs reforçam a ideia de que a diversidade é vista como motor de inovação e tomada de decisão mais qualificada. A maioria absoluta concorda que as mulheres trazem perspectivas centradas no cliente e contribuem para melhorar os processos decisórios. Ainda assim, quando questionadas sobre valorização de suas contribuições em comparação aos colegas homens, as respostas revelam divisão: apenas 30% afirmam se sentir plenamente reconhecidas, enquanto 33% discordam dessa afirmação.

Na visão delas, o maior obstáculo não é técnico, mas cultural. Mansplaining, a necessidade constante de provar credibilidade e a ausência de referências femininas em cargos estratégicos foram apontados como barreiras recorrentes. Apesar disso, também apareceram caminhos de superação: preparo técnico, autoconfiança, networking e mentoria vêm fortalecendo a presença feminina no setor.


Fintechs reguladas com diretoras presidentes

  • Cooper Benefícios
  • Cooper Card
  • Naip
  • LAUNCH PAD SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO S.A.
  • LAMARA SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO S.A.
  • BIGCASH SOCIEDADE DE CREDITO DIRETO S.A.
  • NVIO BRASIL SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO S.A.
  • Credi-shop
  • Adyen
  • NU Pagamentos
  • Repasses Financeiros e Soluções Tecnológicas
  • KONECT SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO S/A
  • PALMA SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO S.A.
  • SEDONA SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO S.A.

Fonte: Mapeamento Women in Fintech/Silva Lopes Advogados, com base em dados disponíveis no BC