Enquanto as instituições financeiras digitais brasileiras com ações em bolsa anotaram um crescimento de dois dígitos no lucro líquido consolidado na primeira metade de 2025, o retrato é um pouco diferente no caso dos principais bancos digitais e fintechs sem capital aberto. Creditas e Neon continuaram com prejuízo de janeiro a junho deste ano, ainda que a segunda tenha reduzido as perdas no período. C6 Bank e PicPay, por sua vez, mantiveram a trajetória de lucro, com expansão de receitas e rentabilidade elevada.
Última a publicar o desempenho, nesta terça-feira (30/09), a Neon registrou prejuízo líquido de R$ 35 milhões no primeiro semestre de 2025. O montante representa uma melhora de 87% em relação aos R$ 265,3 milhões de perdas em igual intervalo do ano passado. No relatório da administração que acompanha os números, a fintech fundada por Pedro Conrade disse crescer de forma acelerada, operando com margem positiva. Além disso, informou que, nos últimos meses, apurou os “primeiros resultados positivos não recorrentes”.
A Neon afirmou ter concentrado seus esforços na originação de crédito por meio da Neon Financeira. Isso vem permitindo, de acordo com a instituição, diminuir o custo de captação e a dependência exclusiva de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). A empresa voltou a dizer, no balanço, que as licenças de financeira e de Instituição de Pagamento (IP) também permitiram maior “independência operacional” em relação a processos e serviços bancários para os clientes. Assim, reduz “substancialmente” o custo operacional.
Ao longo do semestre, as receitas de intermediação financeira da Neon somaram R$ 1,7 bilhão, contra pouco mais de R$ 1 bilhão de janeiro a junho de 2024. Ou seja, uma alta de 64%. As despesas de intermediação financeira, por sua vez, totalizaram R$ 559 milhões, contra R$ 327,3 milhões, na mesma base de comparação.
A carteira de crédito (considerando cartão de crédito, consignado privado e crédito pessoal) ultrapassou R$ 7 bilhões na primeira metade de 2025, avanço de 25% em relação ao número do primeiro semestre de 2024. O maior portfólio segue sendo cartão de crédito (R$ 5,46 bilhões). O consignado privado, por sua vez, teve um forte crescimento de cerca de 26% entre um ano e outro.
No balanço, a Neon destacou ainda o reforço de capital com o fechamento da rodada Série E de R$ 720 milhões. O Finsiders Brasil havia antecipado, em setembro de 2024, a captação dos recursos, ou de parte deles. Na ocasião, a empresa não retornou à reportagem. Mas meses depois, em julho de 2025, anunciaria a conclusão daquela operação.
Creditas: impactos contábeis e de mercado
Ainda entre as fintechs com resultado negativo na última linha, a Creditas computou um prejuízo líquido de R$ 159 milhões de janeiro a junho de 2025, contra apenas R$ 14 milhões um ano antes. A maior parte das perdas neste ano até agora veio no segundo trimestre (R$ 104,7 milhões), conforme o resultado publicado no site de RI da fintech de crédito com garantia. Em termos operacionais, a empresa também registrou prejuízo – foram R$ 143 milhões no primeiro semestre deste ano, contra modestos R$ 12 milhões em igual período de 2024.
De acordo com a fintech fundada por Sergio Furio, os números do segundo trimestre de 2025 refletiram fatores contábeis e de mercado. Entre eles, a alta da taxa básica de juros (Selic), que elevou o custo de captação; as provisões para perdas esperadas antecipadas pelo IFRS, que concentram cerca de 70% do impacto nos primeiros nove meses das operações de crédito, ainda que os empréstimos tenham maturidade média de sete anos; e o efeito não recorrente de R$ 277 milhões em custos ligados à liquidação antecipada de estruturas de funding.
Apesar das perdas, a receita da Creditas avançou cerca de 16% entre um ano e outro, alcançando R$ 1,13 bilhão no encerramento do primeiro semestre de 2025. A carteira de crédito, por sua vez, atingiu R$ 6,46 bilhões ao final de junho – alta de 14% em 12 meses. A fintech destacou, contudo, que manteve fluxo de caixa neutro pelo sexto trimestre consecutivo. Isso permite financiar o crescimento com recursos próprios e sem necessidade de capital externo. Ainda assim, a fintech estuda uma nova rodada.
No texto que acompanha os resultados, a fintech afirmou que vive “uma nova fase de crescimento, sustentada pela alta recorrência de clientes, pelo bom desempenho da carteira de crédito e pelo claro ajuste entre produto e mercado em suas principais ofertas”. Segundo a Creditas, os investimentos em experiência do usuário e Inteligência Artificial (IA) já trazem resultados concretos. “Isso nos posiciona para uma meta de crescimento anual acima de 25% nos próximos anos, mantendo a rentabilidade da carteira”, destacou.
No PicPay, lucro três vezes maior
Em contraste com Creditas e Neon, dois dos maiores bancos digitais do País, C6 Bank e PicPay, voltaram a apresentar lucro na primeira metade de 2025. Dessa forma, continuaram na trajetória de resultados positivos já vista no ano anterior.
O PicPay, parte do grupo J&F, mais do que triplicou seu lucro líquido entre um ano e outro. Ao final de junho, registrou ganhos de R$ 208,4 milhões. O valor já representa mais de 80% de todo o lucro obtido no ano de 2024, que foi de R$ 251,8 milhões. O retorno sobre patrimônio (ROE) anualizado alcançou 20,3% ao final de junho.
De acordo com o CEO, Eduardo Chedid, os números mostram a capacidade de o banco digital crescer com rentabilidade e eficiência. “Ampliamos o resultado, o engajamento dos clientes e, ao mesmo tempo, trabalhamos na expansão de novas avenidas de crescimento para consolidar o PicPay como principal banco de milhões de brasileiros”, afirmou o executivo, em nota. A instituição soma 64 milhões de contas, sendo 41,3 milhões de usuários ativos.
Nos seis primeiros meses de 2025, a fintech viu sua receita líquida quase dobrar, atingindo R$ 4,5 bilhões. A carteira de crédito totalizou R$ 16,1 bilhões, triplicando de tamanho em um ano. Segundo o PicPay, um dos maiores responsáveis pela originação do segundo trimestre de 2025 foi o novo consignado privado, com mais de R$ 1,5 bilhão. A linha foi criada em março pelo Governo Federal sob o nome “Crédito do Trabalhador“.
C6: crescimento com rentabilidade alta
No C6, banco que tem o norte-americano JP Morgan Chase como acionista, o lucro líquido foi de pouco mais de R$ 1 bilhão entre janeiro e junho de 2025. A cifra representa um aumento de 8% em relação ao mesmo período do ano anterior. De acordo com a instituição, fundada por ex-sócios do BTG Pactual, o resultado pode ser explicado por uma combinação de fatores. Eles incluem aumento de receitas, crescimento da carteira de crédito (principalmente em consignado e veículos) e controle dos custos.
“Nesse semestre, nosso balanço deixa evidente duas características do nosso modelo de negócio: crescimento, de receitas e de lucro, por meio da expansão das nossas áreas de atuação, e a capacidade de gerar um ROE [retorno sobre patrimônio líquido] elevado e recorrente, resultado da alavancagem operacional que nossa estrutura proporciona”, disse Marcelo Kalim, em nota. O ROE anualizado ficou em 43%, informou o C6.
A receita líquida do banco atingiu R$ 4,2 bilhões no primeiro semestre deste ano, contra R$ 4,1 bilhões em igual intervalo de 2024. A carteira de crédito expandida fechou junho em R$ 72,4 bilhões, o que significa uma expansão de 49% ante o mesmo período do ano passado. O crescimento foi sustentado, entre outras frentes, pelo financiamento de veículos e pela concessão de crédito consignado. O C6 tem mais de 37 milhões de clientes.