Aplicativo Quero-Quero Pag | Imagem: divulgação
Aplicativo Quero-Quero Pag | Imagem: divulgação

Enquanto grandes bancos e fintechs paulistas concentram as discussões sobre inovação em pagamentos, uma empresa gaúcha mostra que o Open Finance pode ir muito além da Faria Lima. Em 2025, a VerdeCard, braço financeiro do grupo Lojas Quero-Quero, tornou-se uma das 20 primeiras instituições do País homologadas pelo Banco Central (BC) para operar a Jornada Sem Redirecionamento (JSR) via Pix.

Na prática, a funcionalidade permite que o cliente realize um Pix direto no fluxo de compra, seja no ambiente físico ou digital, sem precisar abrir outro aplicativo. A solução é fruto de parceria com o Iniciador, Instituição de Pagamento que atua como Iniciador de Transação de Pagamento (ITP), conforme regulamentação vigente. Nesse modelo, o Iniciador responde pela camada técnica e regulatória da iniciação. Já a VerdeCard, por meio do Quero-Quero Pag, atua como detentora de conta, responsável pela execução da transação e pela experiência do usuário.

O Quero-Quero Pag é o aplicativo de mobile banking do grupo. Concentra as funcionalidades de conta de pagamento e demais operações financeiras para pessoas físicas (PFs) e pessoas jurídicas (PJs)dentro do ecossistema da Quero-Quero. O app permite realizar pagamentos, receber vendas, antecipar valores e gerenciar o caixa de forma simples e segura.

Com a JSR, o pagamento é por biometria facial ou digital. Assim, a empresa traz ao mercado uma experiência de check-out mais fluida, segura e conveniente. A Quero-Quero poderia ter esperado até 2026, quando a adesão à JSR se tornará obrigatória para todas as instituições participantes do Pix. Mas preferiu se antecipar.

Na vanguarda

“Queríamos sentir a adesão do mercado e mostrar que também estamos na vanguarda”, diz Helioir Antonio da Silva Júnior, gerente-geral de Tecnologia e Soluções Financeiras Digitais da VerdeCard, que opera como participante direto do Pix desde 2022. “O Pix é ótimo para o lojista, que paga menos taxa e recebe na hora. Mas, na prática, escanear QR Code e digitar senha torna o processo lento, especialmente em supermercados e postos de gasolina”, completa Luiza Dexheimer, gerente de Produtos Financeiros B2B da VerdeCard.

Por meio da colaboração com o Iniciador, a instituição transforma uma obrigação regulatória em vantagem competitiva. “O Iniciador nos dá toda a camada regulatória e técnica. Isso é essencial para times enxutos como o nosso. Assim, conseguimos fazer parte do ecossistema sem dor de cabeça”, afirma Júnior.

Dessa forma, a VerdeCard vem pavimentando novas oportunidades de negócio, assim como ampliando a presença digital da marca e aproximando os clientes do Open Finance. “Quando vimos nosso nome entre as instituições homologadas, foi uma gratificação enorme. Estamos no Sul, um pouco isolados, e às vezes não somos lembrados. Mas mostramos que também acreditamos nisso e queremos acompanhar os principais players do País”, afirma o executivo.

O rollout da nova funcionalidade terminou em 2025, e o resultado já é expressivo: quase 60% das chamadas de pagamento via Open Finance feitas pela instituição passam pela JSR. A empresa também passou a integrar o Google Pay, a carteira digital do Google, antes dominada apenas por grandes bancos.

Luiza Dexheimer
Helioir Antonio da Silva Júnior

Democratização

Com 60 anos de história e quase 600 lojas espalhadas pelo interior da Região Sul, a Quero-Quero atende um público muito distinto dos grandes centros: cidades de 10 a 20 mil habitantes, onde muitas vezes existe apenas uma agência bancária. Nessas localidades, as lojas funcionam como centros de convivência e serviços financeiros, aproximando a tecnologia ao dia a dia da população.

“Em cidades de 10 ou 15 mil habitantes, muitas vezes há só um banco. A presença da nossa loja acaba sendo quase como um shopping”, comenta Júnior. “Levar facilidades como conta digital, Pix por aproximação e pagamentos por NFC é muito relevante para esse público.”

Hoje, mais de 50% dos pagamentos nas lojas são feitos com o cartão VerdeCard, bandeirado Elo, e o Pix já representa uma aceitação considerável do volume total do varejo – e a participação do meio de pagamento continua crescendo. Além disso, a empresa desenvolveu soluções próprias de split de pagamento via Pix, voltadas a e-commerces e estabelecimentos de food service, que permitem dividir automaticamente o valor entre diferentes parceiros de um mesmo pedido.

O caso da Quero-Quero prova que a inovação financeira não é exclusividade da Faria Lima. No interior do Brasil, o Open Finance já está em pleno funcionamento — conectando tecnologia, regulação e inclusão de forma prática e transformadora.