Em meio à escalada de fraudes e crimes financeiros, o Inter aposta na Inteligência Artificial (IA) para detectar casos suspeitos de lavagem de dinheiro. Com o uso de IA Generativa (GenAI), combinada com a IA tradicional, o banco digital mineiro aumentou em cerca de 15 vezes (ou 1.480%) as comunicações dessas atividades suspeitas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em 2024, comparado a 2023.
O dado foi revelado por Carlos Pedrosa, diretor de Tecnologia da Informação (TI) do Inter, durante o “AWS Financial Services Symposium Brasil 2025“, nesta terça-feira (14/10). O evento, realizado pela divisão de nuvem da Amazon no Brasil, contou com líderes de tecnologia e negócios dos setores bancário, de pagamentos, mercado de capitais e seguros.
Batizada internamente de “Penélope Liz Dias“, a “detetive” – ou melhor, agente de IA – funciona como assistente de investigação, “trabalhando” em conjunto com os times de Prevenção à Lavagem de Dinheiro (PLD). De acordo com Carlos, a tecnologia combina modelos generativos com algoritmos tradicionais de machine learning para monitorar transações suspeitas. O desafio não é trivial: só em Pix, o Inter movimenta R$ 10 milhões por minuto, segundo o executivo.
“Com uso de GenAI, a produtividade da equipe de PLD aumentou em 108%”, citou ele. A utilização da tecnologia não significa, entretanto, a eliminação dos seres humanos no processo de verificação das transações. “O Coaf cobra que todos os dados passem por uma decisão humana”, explicou Carlos. A automação, segundo ele, tem o papel de ampliar a capacidade de detecção e reduzir o número de “falsos positivos” — casos em que clientes legítimos acabam envolvidos por engano em transações suspeitas.
Por meio de uma IA chamada de “Dente de Leão”, o Inter também mapeia correlações entre redes criminosas. “Antes a gente pescava com vara, analisando conta a conta, transação a transação. Hoje pescamos com uma rede”, explicou Carlos.
Banco sabe até o time do coração
A adoção de IA no banco vai além do combate ao crime financeiro. O executivo contou que o Inter construiu uma plataforma proprietária de GenAI que já conta com mais de 160 agentes em produção. Eles estão distribuídos entre soluções automatizadas via RPA (sigla em inglês para Automação Robótica de Processos) e orquestradores via MCP, protocolo que facilita a comunicação entre agentes de IA e ferramentas externas.
O banco digital vem investindo no uso de dados e IA para hiperpersonalizar o relacionamento com os mais de 40 milhões de clientes, assim como a oferta de soluções nas oito verticais de negócios. O super app inclui desde serviços bancários básicos a rede social, passando por shopping. Para isso, o Inter se vale de informações diversas, como faixa de renda, hábitos de consumo e até preferências pessoais.
“Sabemos até para qual time o cliente torce”, brincou ele. “Se o cliente comprou passagem para a Disney, por exemplo, podemos recomendar gift cards para usar durante a viagem. Se abasteceu o carro, sabemos que tem veículo e podemos oferecer seguro”, citou. Conforme o executivo, as esteiras de hiperpersonalização se apoiam em um data lake, com dados curados e estruturados.
Internamente, a plataforma integra diferentes modelos de linguagem de grande escala (LLMs, na sigla em inglês). Permite, assim, que desenvolvedores gerem códigos, equipes de compras façam equalização de propostas, ou ainda profissionais do jurídico até montem contratos. “É possível criar novos agentes do zero, usando até linguagens de programação como Phyton.”