
Se para os seres humanos a capacidade de esquecer é tão importante quanto lembrar de determinadas informações e situações, para a Inteligência Artificial (IA) não é diferente. Apesar de os dados serem a fonte vital para o funcionamento da IA, não basta acumulá-los; é preciso separar o “joio do trigo”. A visão é de Carlos Eduardo Mazzei, o Cadu, responsável por Tecnologia (Chief Technology Officer, CTO) no Itaú Unibanco.
O executivo foi um dos palestrantes na abertura do “AWS Financial Services Symposium Brasil 2025“, nesta terça-feira (14/10). O evento, realizado pela divisão de nuvem da Amazon no Brasil, contou com líderes de tecnologia e negócios dos setores bancário, de pagamentos, mercado de capitais e seguros. Por óbvio, o tema predominante foi IA, suas aplicações, oportunidades e seus riscos e desafios.
“Muitas vezes, a gente fala da memória, sobre a capacidade de guardar o conhecimento. Mas mais importante do que guardar o conhecimento é esquecer o conhecimento”, disse Cadu, ao explicar sobre diferentes habilidades da IA e também as memórias de curto e longo prazo.
“Às vezes, o cliente fala lá atrás para o agente de IA que quer um financiamento imobiliário, mas dois anos depois isso pode já não ser mais verdade. Então, a capacidade de esquecer e retornar o que é realmente relevante para aquela conversa é essencial para que ela tenha contexto e ajude o cliente no dia a dia.”
No Itaú, o executivo disse que a IA não chega para substituir os profissionais, mas ajuda as equipes do banco a repensar os produtos e serviços e, assim, criar melhores experiências para os clientes. “É muito menos sobre a tecnologia e muito mais sobre como a IA coloca o ser humano no centro de tudo que a gente faz, em todas as decisões que a gente toma”, apontou ele.
‘Equipe’ de agentes
Nesse sentido, a instituição construiu uma plataforma de IA Generativa (GenAI), que já pavimentou a construção de mais de 600 casos de uso no banco. No entanto, nem todos já estão rodando – atualmente, de acordo com o CTO, estão em produção mais de 120, ou cerca de 20% do número total de casos de uso.
A plataforma Inteligência Itaú, explicou ele, funciona como um guarda-chuva. Reúne debaixo de si diferentes agentes de IA especialistas, orquestrados simultaneamente. Cadu comentou sobre três deles, já lançados. Um deles cuida do Pix por WhatsApp, outro é parte da solução de ‘gerentes artificiais’ com foco em Pequenas e Médias Empresas (PMEs) e também existe um dedicado aos investimentos.
Por trás das “cortinas”, o Itaú montou uma arquitetura multiagente, que integra as principais fontes de dados do banco. O objetivo, conforme Cadu, é criar uma fundação que permita conectar produtos, sistemas e experiências de forma mais inteligente. “Muitas vezes esses sistemas tocam quatro, cinco, seis modelos diferentes em um único agente”, disse.
O executivo destacou, ainda, a importância de toda a jornada de IA ter segurança, governança e confiabilidade. Segundo Cadu, o banco tem uma política de IA responsável, para garantir que os agentes vão “trabalhar” conforme a cultura e os valores do banco. Além disso, há diretrizes de experiência do usuário (UX, na sigla em inglês) para a construção de interfaces para IA.
O CTO citou também o lançamento oficial, em abril deste ano, do Instituto de Ciência e Tecnologia Itaú (ICTi). O objetivo é desenvolver soluções tecnológicas para o setor financeiro em parceria com universidades brasileiras e internacionais. A iniciativa contempla cerca de 160 pesquisadores externos em 50 linhas de pesquisa, sendo 37 delas voltadas à IA e à computação quântica.