
Mesmo com o avanço da digitalização financeira, as transações entre empresas (B2B, na sigla em inglês) ainda são majoritariamente por boleto bancário — e não pelo Pix. Isso indica que as barreiras estão mais nos sistemas e nos processos internos do que na tecnologia em si.
De acordo com a pesquisa “Panorama de Gestão Fiscal e Financeira 2026”, conduzida pela Qive (antiga Arquivei) em parceria com a Endeavor, na maioria das empresas brasileiras entrevistadas o boleto bancário é o meio de pagamento que mais usado.
A análise também mostrou que, em volume de notas, Transferências e Depósitos se consolidam, juntos, como uma segunda força relevante (19,5%). Pagamento em dinheiro se mantém relativamente alto (8% em 2025). Isso porque, apesar de seguir uma curva ascendente (indo de 0,2% em 2023 para 0,5% em 2025), o Pix ainda é um método bastante coadjuvante no volume das transações entre os CNPJs e também em valor financeiro (1,61% em 2025).

Apesar de lento, o avanço para o Pix entre empresas já está em curso. A mesma pesquisa indica que as organizações estão planejando ampliar o uso do Pix em seus fluxos de pagamento.
Para virar mainstream no B2B, o Pix precisa ser incorporado às plataformas financeiras das empresas. Sistemas de gestão empresarial (ERPs), de contas a pagar e conciliação devem suportar APIs, automações, relatórios e auditoria do mesmo nível que o boleto já oferece.
Rotina, integração e volume
A pesquisa destaca que 41% das companhias realizam entre 101 e 500 pagamentos mensais e 35% ultrapassam as 500 transações mensais. Esse volume elevado exige processos robustos, auditáveis e integrados. Nesse cenário, o boleto ainda “vence” em confiança operacional. Isso porque gera comprovantes padronizados, permite aprovações múltiplas antes do vencimento e se encaixa melhor nos fluxos tradicionais de conciliação.
Já o Pix, apesar de ser instantâneo e amplamente adotado no varejo, enfrenta limitações: muitos ERPs, por exemplo, ainda não têm integração completa com o Pix. Isso obriga operação manual, eleva risco de erro e reduz o apelo para adoção corporativa.
Previsibilidade, controle e auditoria
Uma das razões mais citadas para a preferência pelo boleto é que ele oferece uma trilha de auditoria mais previsível. Isso significa emissão formal, vencimento definido e registro que se encaixa nas políticas de contas a pagar. A pesquisa mostra que o boleto é mais associado à “segurança e compatibilidade com sistemas” pelas empresas.
No ambiente corporativo, onde cada pagamento pode passar por departamentos de compras, aprovação, controle financeiro e auditoria, essa previsibilidade pesa. O Pix, embora rápido, ainda está “correndo atrás” no quesito aceitação institucional como meio principal de pagamento entre empresas — justamente porque exige que os controles internos acompanhem a velocidade.
Cultura, segurança e arquitetura legada
Além dos aspectos operacionais e contábeis, existe uma dimensão cultural: as empresas estão acostumadas ao boleto. Ele “funciona”, está integrado nos processos, bancos, ERPs e não gera surpresas.
A pesquisa revela que muitos decisores entendem que “o boleto ainda entrega com eficiência” o que se espera de uma transação B2B: rastreabilidade, previsibilidade, capacidade de revisão antes da liquidação.
Adicionalmente, com altos volumes de transações, mecanismos de controle e compliance ganham peso — o boleto com seu sistema já consolidado ganha vantagem nesse quesito.