Aaron Morais/Google Pay | Imagem: print de tela
Aaron Morais/Google Pay | Imagem: print de tela

“O futuro do mercado de meios de pagamentos e fintechs se baseia na desconstrução de barreiras e na integração”. Essa foi a mensagem deixada por Aaron Morais, responsável por compliance em pagamentos no Google Pay, a carteira digital do Google, durante a abertura do “Fintech Trends 2025”, evento realizado nesta quinta-feira (30/10) pela Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate). Para ele, a próxima onda competitiva virá da combinação entre desregulamentação inteligente e alianças tecnológicas que conectem dados, contas e experiências fora do “muro” bancário.

Aaron selecionou essas barreiras e essas formas de integração no mercado de meios de pagamento e fintechs em cinco verticais diferentes. Em primeiro lugar, uma barreira que já foi desconstruída lá atrás, de acesso ao meios de pagamento. Depois, citou a integração entre contas de instituições diferentes; depois, a de acesso a dados. Em quarto, a quebra de fronteiras entre o financeiro e o não-financeiro; por último, a queda das fronteiras internacionais, a expansão global.

Se a primeira década abriu a porta com novos emissores e contas, a próxima exige decisões de integração. Ou seja, levar o pagamento ao ponto de experiência do cliente; transformar dados em produto; e conectar, com governança, o mundo financeiro ao não financeiro. “Estamos muito à frente”, disse. “Mas a competição de agora é por UX [experiência do usuário, na sigla em inglês] e inteligência: quem reduz atrito e orquestra o ecossistema vence.”

Pagamento modulares

A “primeira barreira” caiu com a Lei 12.865/2013 e a regulação do Banco Central (BC), que permitiram a oferta de serviços de pagamento independentemente de atividade bancária — o que ele chama de “modularização”. Desse caldo nasceram as contas de pagamento e a escalada de players como Nubank, Mercado Pago, PagSeguro (hoje PagBank) e Stone.

A etapa seguinte foi derrubar a barreira entre contas, com o Pix viabilizando transações rápidas, práticas e gratuitas. Agora, diz ele, o País entra na “segunda fase” do Pix — Automático, Garantia e Parcelado —, uma agenda que mexe com hábitos de consumo e disputa espaço com débito automático e cartão.

No terceiro bloco, o executivo mirou a assimetria de dados. Com o consentimento do cliente via Open Finance, instituições podem acessar e tratar informações para personalizar ofertas — um avanço que, segundo ele, colocou o Brasil entre os ecossistemas mais avançados do mundo (mais do que o UPI indiano no recorte de finanças abertas) e virou referência para o México.

Check-out vira canal financeiro

A quarta barreira cai quando o Iniciador de Transação de Pagamento (ITP) leva o pagamento para fora do app do banco. Na prática, o usuário “aperta um botão” no site ou app da loja e autoriza o débito na conta escolhida — sem pular para o aplicativo bancário. “Isso é revolucionário”, afirmou, defendendo que modelos como Banking as a Service (BaaS) viabilizam a experiência sem exigir que cada varejista vire regulado do BC.

Aaron criticou a fricção do “Pix copia e cola” no check-out — “isso não vai acontecer mais” — e citou o caso colombiano (Bre-B), em que a exigência de autenticação no app do banco destrói a fluidez da jornada: se o cliente já foi ao app, “faz o Pix de lá e não volta”. Para ele, o Brasil lapidou os detalhes de UX com rara competência, com forte protagonismo do BC.

A fronteira global

Na quinta frente, o executivo projetou a internacionalização dos fluxos: blockchain, stablecoins para pagamentos transfronteiriços, tokenização e CBDCs. Citou o Genius Act nos EUA, de viés liberal com stablecoins, e a resposta europeia ao acelerar o euro digital — mais voltado a varejo — numa região que ainda não replicou a fluidez do Pix.

Com tantas “camadas” coexistindo — pagamentos instantâneos, compartilhamento de dados, iniciadores, stablecoins e BaaS —, a pergunta é como processar tudo. “É impossível dar conta sem Inteligência Artificial (IA)”, disse. Na visão dele, a IA deixa de ser adereço para virar driver de risco, produto e atendimento.

Além da coordenação técnico-regulatória, Aaron destacou o diálogo constante do regulador com a indústria (Open Finance, Pix, Lift) e reconheceu influências externas, como o sandbox britânico. “Essa fome de inovação que existe no Brasil, inclusive por parte do regulador, eu não vejo igual”, afirmou.