
O Banco Central (BC) intensificou o ritmo de publicações regulatórias nos últimos 12 meses. Levantamento do escritório Silva Lopes Advogados, antecipado ao Finsiders Brasil, aponta que o volume de normas e comunicados atingiu 2.103 entre 10/11/2024 e 10/11/2025. Trata-se de uma alta de 16% frente ao intervalo anterior (09/11/2023 e 09/11/2024). É o ciclo mais intenso desde 2020, de acordo com a pesquisa, batizada de “Ruído zero“.
Novas regras sobre Pix e Instituições de Pagamento (IPs) lideram a agenda regulatória do BC. O sistema de pagamento instantâneo, por exemplo, concentra quase metade (48,5%) das regulamentações mais relevantes no período. A quantidade de normas referentes ao Pix aumentou 80%, impulsionada por novas modalidades e trilhas antifraude. Já as IPs – como operam muitas fintechs no Brasil – permaneceram como eixo central, com 754 normas.
De acordo com Pedro Branco, sócio de Compliance do Silva Lopes, a escalada de fraudes e golpes no setor financeiro ajuda a explicar o grande volume de regras sobre Pix e IPs. Mas não é o único fator. “A evolução de algumas tecnologias e mercados criminosos permitiu o uso indevido de diversas plataformas de fintechs para o cometimento de crimes. As regras e controles antes exigidos já não mais estavam sendo suficientes para evitá-los, motivo pelo qual um volume maior de regras, e regras mais complexas, para as IPs e participantes Pix foram os campeões no volume.”
Para Layon Lopes, CEO do Silva Lopes Advogados, o Banco Central sinaliza que o tempo de experimentação deu lugar ao ciclo de solidez. “Para as fintechs e empresas de tecnologia, o desafio não é apenas inovar, mas integrar o compliance como ferramenta de negócio”, afirmou ele, em nota.
Barra mais alta
Entre as normas mais relevantes para as IPs estão o fim da janela de transição para IPs não autorizadas. Resolução BCB 494/2025, todas as instituições devem pedir autorização ao BC até 31/5/2026. Outro destaque do período são as novas regras de capital mínimo definidas pela Resolução Conjunta 14 e pela Resolução BCB 517. “Fintechs com forte intensidade tecnológica e operações de Banking as a Service (BaaS) verão aumento relevante nas exigências”, analisa o relatório.
Em relação ao Pix, a Resolução BCB 429/2024 restringiu a participação no arranjo a instituições autorizadas. Além disso, elevou o capital mínimo para provedores de conta transacional, com exigência de R$ 5 milhões a partir de 2026. Houve, ainda, aprimoramentos no Mecanismo Especial de Devolução (MED), novas obrigações de reporte, limites adicionais para transações por aproximação e atualizações nos manuais operacionais.
“Junto da grande adesão por parte da população, os fraudadores e criminosos que buscam lavar dinheiro também migraram para o Pix, principalmente pelo fato de ser disponível 24/7 e com liquidação instantânea”, diz Pedro Branco, sócio de Compliance do Silva Lopes. Desta forma, segundo ele, “a regulação tenta correr atrás com novas regras de segurança”.
Aceleração no segundo semestre
Vale notar, ainda, as mudanças nas regras para os Provedores de Serviços de Tecnologia da Informação (PSTIs), após a onda de ataques hackers dos últimos meses. Na prática, o regulador subiu a barra para esses players. Merecem destaque também as novas regulamentações para financeiras (SCFIs, na sigla técnica), o fim das “contas bolsão” para uso irregular e as regras para o mercado de ativos virtuais.
O segundo semestre deste ano marcou aceleração nas publicações do BC: seis meses seguidos acima de 180 publicações, de acordo com o levantamento. Se o ritmo se mantiver, 2025 pode terminar acima de 2 mil publicações, superando o recorde de 2020 e consolidando um novo padrão de atuação do regulador.
As Instruções Normativas (INs) responderam por 42,8% das normas no período. As Resoluções BCB, por sua vez, registraram o crescimento mais expressivo do período, saltando de 77 para 94 publicações, uma alta de 22,1%.
A expectativa é que a agenda prudencial continue ganhando peso em 2026, aponta o levantamento. Entre os temas já no radar estão MED 2.0, regulação do BaaS, expansão do Open Finance para crédito, consolidação das regras para as Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (PSAVs) e ajustes no Drex. Outra expectativa é a revisão das normas para serviços de transferências e pagamentos internacionais (eFX).
Metodologia
O estudo analisou o período de 10/11/2024 a 10/11/2025, comparando-o com o ciclo imediatamente anterior. A equipe mapeou todas as publicações do Banco Central registradas na aba “Normas”, incluindo Resoluções do BC, Resoluções do CMN, Instruções Normativas, Circulares (ainda que descontinuadas), comunicados e atos oficiais. A base bruta foi organizada por data, tipo de norma, assunto e link.
Em seguida, os conteúdos foram categorizados por temas relevantes ao mercado de fintechs — como Pix, Open Finance, Instituições de Pagamento, SCDs, SEPs, SCFIs, fraude, PLD/FT, BaaS, PSAVs, Cosif, Cadoc, “conta bolsão” e capital mínimo. A metodologia também incluiu cálculo de crescimento mensal e anual, além da identificação dos principais marcos regulatórios. Para interpretação qualitativa, o estudo incorporou entrevistas com oito players do setor, adicionando a percepção prática de líderes de mercado sobre o impacto e a complexidade das normas.