
A tokenização de ativos desponta como a grande fronteira da criptoeconomia para os próximos anos. Embora tokens representem apenas 17% das prioridades atuais das empresas do setor, 73% enxergam oportunidades claras na tecnologia. É o que mostra uma pesquisa da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABcripto) em parceria com a consultoria PwC Brasil, concluída em maio deste ano e divulgada na quarta-feira (26/11) em evento para jornalistas.
“Eu, particularmente, entendo tokens como um produto que vai crescer de forma exponencial nos próximos anos”, afirmou Fábio Moraes, diretor de Educação e Pesquisa da ABcripto. Ele citou mercado imobiliário, agronegócio, energia e carbono como setores promissores. Atualmente, a tokenização é dominada por direitos creditórios, que representam 70% do mercado, de acordo com o executivo.
Eficiência operacional
Entre os benefícios da tokenização, a melhoria na eficiência operacional lidera com 70% das menções, seguida por diversificação de investimentos (60%) e captação de recursos (53%). Ana Gonçalves, sócia de Digital Assurance & Transparency da PwC Brasil, destaca que a tecnologia já nasce com lastro pronto, o que reduz custos com auditorias e processos de verificação.
“A tokenização pode trazer acesso a crédito e produtos financeiros para uma população que nunca teve essa oportunidade”, afirmou Fábio, posicionando a tecnologia como elemento de inclusão financeira e transformação social.
O horizonte de consolidação é de médio prazo: 60% das empresas acreditam que a tokenização se firmará entre dois e cinco anos, enquanto 23% projetam prazos mais longos e apenas 17% apostam em maturidade em até dois anos.
As finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês), embora representem 0% das prioridades atuais conforme a pesquisa, são outra grande aposta do setor. “Se a gente fizer essa pesquisa daqui a um ano, isso já vai mudar. Certamente será um produto estrela desse mercado para os próximos três, quatro anos”, projetou Fábio.
Regulação como divisor de águas
O aspecto regulatório aparece como principal preocupação em todas as dimensões pesquisadas, citado por 83% dos respondentes quando questionados sobre blockchain, 73% sobre tokens e 90% sobre criptomoedas.
A pesquisa foi realizada antes da publicação das regras sobre ativos virtuais. O Banco Central (BC) anunciou neste mês três resoluções que regulamentam a negociação desses ativos. “O Brasil sai à frente com uma regulação moderna. O País tem um Banco Central que, na minha opinião, é o mais moderno do mundo em relação a todas as entregas”, avaliou Fábio.
O BC estabeleceu prazo de nove meses para adequação das empresas, com as novas regras entrando em vigor em fevereiro de 2026. Apenas 23% das empresas se declaravam prontas para os aspectos regulatórios previstos quando a pesquisa foi realizada. Já 40% estavam em processo de adequação. A maioria (63%) projeta que seus parceiros de negócios estarão alinhados às exigências em dois a três anos.
Um dos pontos mais sensíveis da nova regulação é o capital mínimo exigido das instituições. Segundo a regra do BC, o capital mínimo das Sociedades Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (SPSAVs) vai variar de R$ 10,8 milhões a R$ 37,2 milhões. O número depende do conjunto de atividades que essas instituições realizará. Os valores são bastante superiores aos requisitos mínimos de capital presentes na consulta pública 109. O texto previa três níveis: R$ 1 milhão para custodiantes, R$ 2 milhões para intermediários e R$ 3 milhões para corretoras.
“Levantar R$ 10 milhões do dia para a noite não é fácil. Estamos dialogando com o BC para que a regra geral de aumento gradual do capital se aplique também ao mercado cripto”, disse Bernardo Srur, presidente da ABcripto. “A gente sabe que descer o capital mínimo é muito difícil, mas pelo menos ter um maior prazo de adaptação”, defendeu ele.
Consolidação
A pesquisa mostra, ainda, que a maioria (63%) das empresas não têm qualquer tipo de licença bancária. Muitas dessas organizações são novos entrantes, diz o levantamento. Mais da metade (53%) das companhias está em fase de consolidação, enquanto 20% já estão em estágio de expansão. Outras 20% se encontram em etapa inicial de operação. E o restante (7%), ainda no MVP (sigla em inglês para Mínimo Produto Viável).
O levantamento, realizado com 30 empresas associadas, traça um retrato de um setor concentrado em serviços financeiros (53% dos respondentes) e tecnologia (23%). “Serviços financeiros são o berço da criptoeconomia, até porque o setor nasceu com as criptomoedas. Mas isso não quer dizer que não vá se ampliar para outros mercados”, disse Fábio.