
Quase nove meses depois de comunicar o fim de sua solução de compartilhamento de despesas, a Cumbuca anuncia detalhes da pivotagem do negócio. A fintech passa a atuar no modelo B2B, com infraestrutura financeira especializada em dados e pagamentos via Open Finance. A aposta é oferecer a grandes empresas o acesso direto às APIs oficiais do ecossistema criado pelo Banco Central (BC).
API é a sigla em inglês para Interface de Programação de Aplicação. Na prática, é um conjunto de regras e protocolos que permite que diferentes softwares e sistemas se comuniquem e interajam entre si.
A nova solução da fintech (agora uma infratech) funciona como um proxy, ou seja, atua como uma espécie de “ponte” entre as empresas e as APIs reguladas do Open Finance. “Não existe API da Cumbuca. Nossos clientes têm acesso às APIs oficiais do Open Finance exatamente como teriam se fossem regulados”, explica Daniel Ruhman, CEO e fundador, ao Finsiders Brasil.
Enquanto outros fornecedores de infra no Open Finance criam APIs proprietárias para padronizar operações entre centenas de clientes, a Cumbuca se propõe a atua mais como uma espécie de Provedor de Serviços de Tecnologia da Informação (PSTI) com foco no Open Finance. “Nossos clientes não dependem de nós para adotar novos produtos lançados pelo ecossistema, como Pix Automático e Jornada Otimizada, e também não ficam fora do ar por nossa causa. Queremos ser um intermediário a menos, não a mais.”
Público-alvo
Para rodar a sua infra, a Cumbuca tem autorização no BC desde 2023 para operar como uma Instituição de Pagamento (IP) regulada, na modalidade Iniciador de Transação de Pagamento (ITP). A empresa foi uma das primeiras a pedir licença como ITP “pura”, ou seja, sem atuar também como detentora de conta.
De acordo com o fundador, a solução não é para qualquer empresa. A ideia é atender empresas internacionais entrando no Brasil que ainda não decidiram se serão reguladas, assim como companhias brasileiras que já validaram o Open Finance, mas cresceram demais nos provedores atuais. Entre os segmentos na mira estão, por exemplo, ecossistemas de crédito, soluções de orquestração de pagamentos e negócios de recorrência/assinaturas.
Segundo ele, nesta nova fase, a Cumbuca já tem clientes operando tanto em dados quanto em pagamentos, mas não pode divulgar nomes por questões contratuais. “São contratos grandes. A gente constantemente recusa clientes por achar que não têm capacidade técnica ou maturidade de compliance“, revela.
O empreendedor destaca, ainda, a flexibilidade para migração de um fornecedor para outro. Como os clientes usam APIs oficiais do BC, podem migrar para licença própria sem mudar código, diz Daniel. “Você para de apontar para nosso proxy e aponta para sua própria licença.”
Na nova fase como empresa de infra, a Cumbuca também reforçou a liderança com a contratação de Gustavo Lino (ex-Quanto e Swap) e Nic Marcondes (outro oriundo da Quanto e com passagem pela Delend). O primeiro é responsável por Política, Jurídico e Compliance. Já Nic é diretor de Open Finance. Ambos têm posições na Associação Brasileira de Iniciadores de Transação de Pagamento (Init). Gustavo é também membro do conselho do Open Finance.
Fim do B2C
Questionado sobre os motivos para a mudança no modelo de negócio, Daniel disse que a operação chegou a ultrapassar 1 milhão de contas abertas. O desafio, porém, estava na rentabilização do negócio B2C, que teve muita “queima de caixa”, segundo ele. “O modelo não era rentável, tentamos de todas as formas”, reconhece.
O processo de encerramento da solução de compartilhamento de despesas foi concluído em abril, sem quaisquer problemas, diz o fundador. “Não tivemos nenhum cliente insatisfeito. Com dinheiro dos outros não se brinca”, afirma Daniel. Para ele, a nova fase é promissora, e desistir não está nos planos. “Só vamos desistir se não der certo nem a pau e o dinheiro acabar. Enquanto tiver dinheiro, enquanto o negócio não morrer de vez, a gente vai continuar tentando.”