
Os brasileiros reconhecem benefícios trazidos por fintechs e bancos digitais no País, mas temem que o aumento da tributação sobre o setor resulte em custos mais altos. É o que revela uma pesquisa realizada pela Atlas Intel a pedido de Zetta, Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), Associação Brasileira de Internet (Abranet) e Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD). O levantamento, que ouviu 2.227 pessoas entre 28/10 e 10/11, tem margem de erro de 2 pontos percentuais e nível de confiança de 95%.
De acordo com a pesquisa, a maioria dos brasileiros (92%) acreditam que, se a tributação das fintechs aumentar, os custos serão repassados aos clientes, total ou parcialmente. A percepção surge em meio ao debate acirrado sobre a proposta do governo de taxar bancos digitais e fintechs. Além disso, mais de 75% dos entrevistados já ouviram falar no assunto.
Para 63,5% dos brasileiros, regras de tributação específicas para bancos digitais e fintechs são necessárias para estimular crescimento, competição e inovação no setor financeiro. Apenas 16,2% consideram que essas regras prejudicam os grandes bancos tradicionais.
Se a mudança tributária for aprovada, 77% dos brasileiros acreditam que haverá aumento nas tarifas e anuidades. O mesmo percentual prevê alta nos juros de empréstimos para pessoa física. Outros 75% esperam elevação nos juros do cartão de crédito.

Reações distintas
Questionados sobre o que fariam se as instituições digitais repassassem o custo da taxação para os clientes, os entrevistados se dividem. A maior parte (36,8%) diz que continuaria usando o banco digital, mesmo com tarifas. Já 32,3% afirmam que voltariam a utilizar bancos tradicionais. O restante (30,9%) não sabe.
Em coletiva com um grupo de jornalistas, Eduardo Lopes, presidente da Zetta, ressaltou que a decisão sobre eventual repasse será de cada empresa, mas condicionada pela realidade. “É natural se esperar que vá haver reações e elas vão diferir um pouco de acordo com o porte, a maturidade e a capacidade de absorver ou não [o aumento de imposto]”, explicou ele. A entidade representa algumas das maiores instituições financerias digitais do País, entre elas, Nubank, Mercado Pago e PicPay.
Também presente na entrevista, Diego Perez, presidente da ABFintechs, destacou que muitas fintechs operam com margens apertadas e um só produto. “Você acaba atingindo um grupo muito grande de fintechs com essa tributação que muito potencialmente vão ficar no meio do caminho”, afirmou. “Talvez não é nem repassar o custo disso para o cliente. É ter o seu modelo de negócio inviabilizado”, complementou.
Inclusão financeira
Apesar da preocupação com a tributação, a população reconhece benefícios com o avanço de fintechs e bancos digitais. Para 85% dos brasileiros, o crescimento do setor teve impacto positivo ou muito positivo em suas vidas. Outros 84,5% concordam que essas empresas tornaram os serviços financeiros mais acessíveis.
“A pesquisa vem justamente para mostrar qual é a opinião do cidadão. Ela revela que os brasileiros gostam e valorizam muito as fintechs”, afirmou Eduardo, da Zetta.
A inclusão financeira de pessoas de baixa renda foi percebida por 77% dos entrevistados. O mesmo percentual reconhece melhorias nos aplicativos bancários. Outros 74% apontam que as fintechs aumentaram a concorrência entre os bancos. Já 71% veem maior acesso a oportunidades de investimentos, enquanto 70% citam facilidade no acesso a crédito. A redução de tarifas e anuidades, por sua vez, é citada por 40% dos brasileiros.
Os custos dos grandes bancos são considerados elevados ou proibitivos por 84% dos ouvidos. Para 49,6% das pessoas, as tarifas de manutenção de conta e anuidades de cartão estão dentro das possibilidades, mas são altas. Outros 34,4% classificam esses valores como proibitivos.

Quando questionados sobre tarifas e juros abusivos, 63,1% apontam os bancos tradicionais como principais responsáveis. Apenas 7,7% atribuem essa prática às instituições financeiras digitais.
O atendimento também pesa contra as instituições tradicionais. Para 49,4% dos entrevistados, os bancos convencionais oferecem pior atendimento e mais dificuldade para resolver problemas. Outros 19% apontam problemas em ambos os perfis de instituições. E 16,4% apontam fintechs/bancos digitais como players com pior atendimento.
Competição
A percepção de que o mercado ainda tem grande concentração aparece em diversos pontos da pesquisa. Para 52,5% dos brasileiros, por exemplo, há muito pouca competição e os grandes bancos ainda dominam o setor. Outros 51,6% acreditam que as fintechs não competem em igualdade de condições com os bancos tradicionais.
“É muito difícil competir contra o poder de mercado estabelecido há décadas”, disse Eduardo, da Zetta. “A competição vem crescendo, mas ela ainda é nascente, e vai levar mais tempo para produzir os efeitos desejados, que é a gente ter um sistema mais desconcentrado, com muito mais players. Ainda existem muitas barreiras para a concorrência ser ampla e plena como a gente gostaria e como acho que a sociedade também espera”, afirmou ele. “É um trabalho de formiguinha”, enfatizou.
Múltiplas instituições financeiras
A pesquisa revelou, ainda, um fenômeno importante no comportamento financeiro da população brasileira: as múltiplas instituições onde as pessoas mantêm conta bancária. Os dados mostram que os entrevistados não se limitam a uma instituição financeira.
A liderança da Caixa Econômica Federal (60,2%) e do Nubank (55,4%) no topo da lista demonstra essa convivência entre modelos distintos. No ‘top 5’ das instituições onde os usuários têm contas abertas aparecem, ainda, Banco do Brasil (36,3%), Itaú (27%) e Bradesco (24,2%).

Grandes fintechs e bancos digitais Mercado Pago (23,4%) e PicPay (22%) vêm logo após as maiores instituições incumbentes. Fechando o ‘top 10’, estão Santander (18,6%), Inter (16,9%) e 99 Pay (8,3%). A categoria “outro” (13,7%) indica a pulverização do mercado.