Nos últimos anos, o setor financeiro tem passado por uma transformação significativa em todo o mundo, impulsionada principalmente pela ascensão das inovações tecnológicas em nossa sociedade. Neste cenário, uma tendência que se mostra emergente é a Embedded Finance – ou Finanças Integradas – que vem ganhando destaque no Brasil.
O Embedded Finance refere-se à integração de serviços financeiros em plataformas não financeiras, como aplicativos de compras, redes sociais, e-commerce, entre outros. Isso quer dizer que em vez de depender exclusivamente de instituições financeiras tradicionais, os consumidores podem acessar uma variedade de serviços financeiros diretamente por meio de suas plataformas favoritas, eliminando barreiras e proporcionando uma experiência mais clara e prática.
No Brasil, o Embedded Finance está em ascensão, impulsionado pela crescente digitalização da economia e pela adoção generalizada de smartphones, por exemplo. Plataformas de fintechs e startups têm se unido a empresas de diversos setores para oferecer uma gama diversificada de serviços financeiros integrados; desde pagamentos e empréstimos até seguros e investimentos, os consumidores brasileiros estão encontrando soluções financeiras em seus aplicativos diários.
Receitas de R$ 24 bi até 2026
Um estudo da consultoria Deloitte, feito em 2022, estima que a oferta de serviços financeiros de Embedded Finance pode ser ampliada no país e gerar receitas de até R$ 24 bilhões até 2026. Além disso, o levantamento também reforça que, desde 2013, o Banco Central vem criando novas regulações para flexibilizar as estruturas necessárias para que novos entrantes possam ofertar serviços financeiros de uma forma segura e, assim, desenvolver a competitividade e a qualidade dos serviços prestados.
Oferecer serviços financeiros permite que empresas diversifiquem suas fontes de receita, reduzindo a dependência de um único produto ou serviço. Companhias que já detêm uma grande base de clientes podem oferecer serviços financeiros adicionais para aumentar a fidelidade dos mesmos e gerar receita adicional, o que reduz os custos de aquisição de clientes em comparação com as instituições financeiras tradicionais. Quanto maior a oferta de serviços financeiros, maior a possibilidade de aumentar o envolvimento do cliente, proporcionando uma experiência mais completa.
O uso de programas de fidelidade e créditos como parte do Embedded Finance é uma estratégia inteligente. Isso não apenas aumenta o engajamento do cliente, mas também oferece oportunidades para as empresas monetizarem esses programas de fidelidade de maneiras inovadoras. Já os consumidores podem se beneficiar da conveniência e personalização de serviços financeiros, uma vez que o Embedded Finance proporciona maior conforto e possibilidade de personalizar produtos e serviços de acordo com o perfil de cada usuário.
Dessa maneira, é possível afirmar que o Embedded Finance é tendência. Há diversos exemplos no mercado de grandes varejistas atuando como bancos e oferecendo crédito aos consumidores, ilustrando como essas empresas estão diversificando suas fontes de receita e se relacionando com seus clientes. Além do varejo, já é possível observar uma expansão para os mercados de utilities, agricultura, entre outros.
Desafios regulatórios
E o que as empresas podem fazer para aproveitar essa tendência? Assim como podemos adquirir uma variedade de produtos e serviços na Amazon, por exemplo, sem precisar entender a complexidade por trás da infraestrutura de compras online, as empresas podem agora alugar a infraestrutura financeira – por meio do modelo White Label – e oferecer uma variedade de serviços, como crédito e contas bancárias, sem a necessidade de se tornarem especialistas em finanças. A ideia de que empresas em diferentes setores possam se tornar provedoras de serviços financeiros sem a necessidade de se tornarem instituições financeiras tradicionais é fascinante.
Apesar do entusiasmo em torno de tudo isso, alguns desafios precisam ser enfrentados. Questões como segurança, privacidade e regulação, por exemplo, devem ser vistas com mais atenção. Acredito que o Brasil, assim como outros países, pode desenvolver um quadro regulatório mais claro para governar as transações financeiras e, dessa forma, conseguir proteger os interesses e a segurança de todos os consumidores brasileiros.
Está claro que o Embedded Finance está moldando o futuro do setor financeiro no Brasil, proporcionando uma maneira mais acessível e eficiente para os consumidores gerenciarem suas finanças. No entanto, é fundamental que a regulamentação evolua para acompanhar essa transformação, garantindo a proteção e a confiança dos usuários. Certamente o cenário brasileiro estará prestes a testemunhar mudanças significativas e inovadoras à medida que mais empresas se unem ao movimento de Embedded Finance.
*Fundador e CEO da QI Tech