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"Nossos clientes não sabem se PIX é pra encher pneu ou passar no pão", diz CEO da Surf Fintech

No dia de estreia do PIX no Brasil, a maioria dos brasileiros ainda não sabe o que é isso – e vai continuar por fora por muito tempo. “Nossos clientes não sabem se PIX é para encher pneu ou passar no pão”, diz Yon Moreira, presidente do Grupo Surf , holding da Surf Fintech e Surf Telecom. “É outra realidade. É gente que nunca teve conta em banco. Estamos em lugares onde não há outra opção, nem de celular nem de banco, só a Surf. São dezenas de milhares de brasileiros para os quais precisamos oferecer primeiro o básico do básico”, diz. “A maioria das fintechs mira em clientes dos grandes centros urbanos”.

A empresa atua em localidades como Anta Gorda (RS), Cruzeiro do Sul (AC), Piripiri (PI), Tauá (CE) e São Miguel do Gostoso (RN). E também em comunidades como as da Rocinha (Rio), Paraisópolis (SP) e Coroadinho (MA). A Surf foi uma das duas escolhidas pela Central Única de Favelas (Cufa) para prover servicos de telefonia celular de baixo custo que começou a funcionar na semana passada em comunidades associadas.

“O foco da Surf é promover inclusão digital e financeira. Não é possível ter uma sem a outra”, diz Moreira. A Surf já nasceu atuando como fintech e telecom: “Fomos a primeira empresa a juntar as duas pontas”, diz, lembrando que a tendência das teles se associarem a fintechs é recente. A Surf Fintech primeiro ofereceu conta digital, depois cartões prepagos e, no ano passado, começou a dar microcrédito para quem não tem conta – portanto, nem credit score. “Banco tradicional não dá empréstimo para quem não tem histórico nem oferece garantias em troca”, diz.

O segredo da Surf, segundo Moreira, são investimentos pesados em Inteligência Artificial e Big Data para análise do comportamento dos clientes. “Nossa inadimplência é de um dígito, assim como nossas taxas de juros. Temos milhares de contratos de microcrédito sem garantia para desbancarizados; estamos na oitava onda de concessões”, afirma.

O executivo diz que não pode abrir os números da empresa, uma S.A. de capital fechado, pois ainda não publicou o balanço de 2020: “No ano que vem isso vai mudar”, afirma, referindo-se à abertura de capital, que foi suspensa por liminar por um dos sócios, a Plintron. Moreira espera receber sinal verde para o IPO nos Estados Unidos no ano que vem.

Lançada em 2017, a Surf Connect – a operadora virtual de celular – tem atualmente mais de dois milhões de chips vendidos, e um milhão de clientes ativos em mais de cinco mil municípios brasileiros e em todos os Estados. A marca é pouco conhecida do público porque os chips que vende levam a marca de seus mais de 50 parceiros (como times de futebol e associações). A Surf Connect é uma rede de telefonia digital e uma plataforma que atua como “white label” para os parceiros. “Assim, eles não precisam se preocupar com a parte técnica, somente com a parte comercial de fidelizar clientes. Segundo a Anatel, desde 2018 somos a empresa de telefonia que mais cresce no Brasil”, diz. É um negócio conhecido como MVNO, ou operadora movel virtual, na sigla em inglês – que funciona normalmente usando a infraestrutura de outras empresas. No caso da Surf, ela tem rede própria.

Moreira explica que seu pai foi executivo do Bradesco e que ele mesmo morou e estudou na Cidade de Deus, sede do banco em Osasco (SP). “O banco foi um dos primeiros no Brasil a dar crédito para pobre, a convivência muito de perto imprimiu a preocupação com inclusão social em mim”.

Moreira foi vice da extinta Brasil Telecom e em 2012 presidiu a empresa de telecom de Angola, que viveu guerra civil por 30 anos e viu todas as suas redes de infraestruturas demolidas. “Na época, o Banco Nacional de Angola percebeu que celulares eram tnao necessários quanto água para promover a recuperação do país. “Aprendi muito lá e trouxe experiência para cá”.

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