A ACCredito Digital, fintech controlada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), acaba de lançar seu segundo produto: uma linha de crédito para investimento em ativos fixos. “Até fevereiro, vamos incluir na plataforma descontos de duplicatas”, antecipou Milton Luiz de Melo Santos, presidente da ACCredito, em entrevista exclusiva à Fintechs Brasil.
“Também vamos entrar com pedido para atuar no PIX e oferecer PIX parcelado”. E tem mais: a fintech está, nesse momento, negociando uma parceria para entrar no segmento das “maquininhas” de cartões. A ACCredito recebeu autorização para atuar como Sociedade de Crédito Direto (SCD) em julho, e começou a operar em novembro oferecendo capital de giro para micro e pequenas empresas.
A ACCrédito tem como funding inicial R$ 75 milhões aportados pela ACSP. O sistema reúne 400 associações comerciais no Estado, e embaixo dessas associações têm cerca de 300 mil empresas de comércio, varejo, serviços, indústria e agronegócio.
“Decidimos fazer o processo por fases, olhando primeiro para dentro do nosso próprio aquário; e começamos oferecendo capital de giro, com valores de até R$ 50 mil, prazo de 24 meses e seis de carência. Os juros ficam em torno de 1,62% ao mês, abaixo dos 2,5% a 3% do mercado para esse público-alvo. Esse dinheiro vai permitir aos empresários quitar dívida mais cara que está consumindo parte da sua margem, comprar insumos a vista, ou pagar dívida tributária”, acredita Santos.
A carteira ainda é pequena – mas logo mais os R$ 75 milhões serão poucos. Segundo Santos, a fintech pretende abrir para captação de recursos de outros sócios no ano que vem.
A linha de crédito para investimento fixos é de até R$ 80 mil, com prazo de 36 meses e nove de carência. “Já está faltando papel e papelão para as embalagens. As vendas online cresceram muito, o Mercado Pago já vale mais que muitos bancos. Este é o momento de investir e buscar o que é mais adequado para o negócio, como máquinas, equipamentos… e de trazer inovação, fazer reformas. Esses recursos vão ajudar”, afirma, acrescentando que pela sua experiência no setor público tem a cabeça voltada para fomento e desenvolvimento.
“É o acesso a investimento que leva as empresas a passar pelo ‘vale da morte’, aquele período de dois ou três anos mais desafiadores ao qual muitas acabam sucumbindo”.
Santos foi funcionário de carreira do Banco Central por 37 anos, depois foi presidente da antiga Nossa Caixa (incorporada pelo Banco do Brasil em 2009), e mais recentemente estava à frente da agência de fomento Desenvolve São Paulo. “Juntamos meu feeling e experiência com o gene do associativismo do controlador, mais as novas tecnologias de aprovação de crédito que permitem aos clientes fazer a solicitação 100% online 24 horas por dia e sete dias por semana, e receber aprovação em média em uma hora – já teve casos que levaram apenas dois minutos. O empresário não precisa pedir favor a gerente nem apresentar garantias físicas. É uma proposta tão disruptiva que até assusta os associados, principalmente os do interior”, comenta. “É inclusivo pois leva os pequenos negócios a outro nível de formalidade da economia”.
Fundo de aval
Para substituir as garantias físicas, a ACCredito fez um convênio com o fundo de aval do Sebrae Nacional, que vem sendo muito usado no Pronampe, o programa de ajuda emergencial a pequenas empresas que o Governo Federal lançou no começo da pandemia da Covid 19 (e que acaba de se transformar em programa permanente).
Segundo Santos, foi a primeira vez que o Sebrae aprovou uma instituição não bancária a fazer parte do fundo. “O uso do fundo de aval é fundamental para integrar ao sistema de crédito aquelas empresas que são barradas nos bancos por falta de garantias para oferecer”, diz, reconhecendo que o fundo tem um custo de contratação: “Mas ter acesso ao crédito compensa”.
A partir de fevereiro, os clientes da ACCredito vão poder também usar duplicatas como garantia, e/ou descontá-las para levantar recursos de curto prazo. “A maior parte das 780 fintechs brasileiras está voltada para meios de pagamento; as que atuam em crédito são pouco mais de uma centena, apenas, e dessas a maioria é voltada para pessoas físicas – e atuam no modelo de correspondente bancário. As SCD, que atuam com recursos próprios, não chegam a 40 – a maioria também só atende pessoas, não empresas. Esse é um mundo muito mais complexo, e é o nosso nicho”, afirma.
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