O Braza Bank, parte do conglomerado que reúne ainda uma empresa de tecnologia, uma instituição de pagamento em Londres, um escritório em Portugal, e uma conta internacional multimoedas, prepara-se para entrar em uma nova fase. Estão nos planos pedir licença de banco múltiplo ao Banco Central (BC), mudar a sede europeia de Londres para Lisboa e entrar de cabeça no mundo cripto – “mas tudo dentro das regras”. As informações são de Bruno Perottoni, diretor de Tesouraria do Braza Bank, que concedeu entrevista exclusiva ao Finsiders Brasil no começo de fevereiro.
O objetivo, diz, é oferecer produtos mais completos aos clientes brasileiros, especialmente exportadores que precisam de crédito atrelado a operações de câmbio. “O mercado está evoluindo rapidamente e a demanda por soluções integradas de crédito e investimento tem crescido. Queremos oferecer um serviço mais completo aos nossos clientes, especialmente aqueles que operam no comércio exterior”, afirma Bruno.
Crédito, câmbio e futuro
O projeto de pleitear novas licenças reflete um movimento estratégico. Atualmente, o Braza Bank opera como banco de câmbio, mas muitos de seus clientes demandam linhas de crédito específicas para exportação, como o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) e o Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE). Com a ampliação da licença para banco múltiplo, a instituição poderá oferecer crédito diretamente, sem a necessidade de intermediação.
No mercado europeu, a mudança de Londres para Lisboa busca maior eficiência regulatória e logística. O ‘Brexit’ impôs novas barreiras para operações financeiras, e Portugal se tornou um destino mais favorável para empresas que atuam no mercado internacional. O Braza Bank já está estruturando sua operação no país e firmando parcerias estratégicas para consolidar sua presença na região.
“Hoje Portugal é um hub financeiro mais adequado para o nosso modelo de negócios, tanto pela estrutura regulatória quanto pela proximidade com o Brasil e outros mercados estratégicos”, diz o diretor.
Criptos: desafios regulatórios
Outro foco da instituição é o segmento de criptoativos. O Braza Bank aposta no setor, mas adota uma abordagem cautelosa. O objetivo é se consolidar como um banco crypto-friendly, atuando dentro das normas regulatórias.
“Acreditamos no potencial dos criptoativos, mas entendemos que a regulação precisa avançar para trazer mais segurança ao mercado. Nossa proposta é operar de forma transparente e alinhada com os órgãos reguladores”, explica.
Bruno afirma que a instituição participa ativamente de discussões sobre o tema, tanto no BC quanto na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), além de fazer parte de grupos de estudo da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam) e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). A principal preocupação está na segurança das operações e na regulamentação do setor para evitar fraudes, esquemas de pirâmide e lavagem de dinheiro.
O banco também observa com atenção as mudanças tributárias, já que a incidência de impostos sobre operações com criptoativos ainda não está totalmente definida. O planejamento da instituição é atuar nesse mercado com transparência, oferecendo soluções tecnológicas baseadas em blockchain e contratos inteligentes (smart contracts) para garantir eficiência e rastreabilidade nas transações.
Tecnologia e transações internacionais
Para Bruno, as vantagens competitivas do Braza Bank se baseiam em tecnologia proprietária e soluções como o aplicativo Braza On, uma conta digital multimoedas que permite ao usuário realizar câmbio instantâneo e pagamentos internacionais com a mesma rapidez de um Pix.
O Braza On na prática funciona como um “Pix câmbio”. A ideia é oferecer ao cliente uma experiência de pagamento internacional que elimine a necessidade de cartões de crédito e seus custos elevados de IOF, e que seja mais segura do que usar dinheiro em espécie. O usuário pode, por exemplo, pagar uma compra no exterior escaneando um QR Code. Em Portugal, já existe a possibilidade de fazer saques na rede MaxPay.
Outro serviço é o Braza Check-out, que permite que um cliente brasileiro pague em reais enquanto o lojista recebe na moeda local. Essa solução já está disponível em redes de varejo na Europa, Estados Unidos e Paraguai. No Brasil, a funcionalidade também tem sido adotada por empresas que precisam enviar pagamentos ao exterior com agilidade. Em breve, vai oferecer a possibilidade de parcelamento de compras internacionais, como um BNPL (Buy Now Pay Later, ou compre agora pague depois), mas com risco de crédito assumido por uma terceira instituição.
Câmbio as a service
O check-out é instalado em estabelecimentos físicos ou online e possibilita que os clientes brasileiros paguem suas compras ou serviços com métodos nacionais de pagamento, como o Pix, com uma economia de 60% a 85% nas taxas da operação quando comparado aos cartões convencionais, diz Bruno. Para possibilitar essa facilidade, o Braza fechou uma parceria com a Unicre no final do ano passado. Bruno cita a rede espanhola El Corte Ingles como uma das que usam a solução na Europa.
Além dessas soluções voltadas ao consumidor final, o Braza Bank também tem um lado B2C com sua API de câmbio as a service, prestando serviços de câmbio para grandes instituições financeiras. Hoje, cerca de 60 bancos utilizam a infraestrutura do Braza Bank para oferecer operações de câmbio a seus clientes, sem precisar de uma estrutura própria, segundo Bruno. API é a sigla em inglês para interface de programação de aplicação.
“Atuamos como provedores de câmbio para grandes bancos e fintechs, o que nos permite ganhar escala e oferecer preços mais competitivos. Como somos um player relevante no mercado interbancário, conseguimos operar com eficiência e liquidez”, destaca.
O banco está entre os dez maiores operadores desse segmento. No ranking geral de câmbio do País, está entre as 16 maiores instituições, com participação na formação de preços.
De projeto pessoal a banco global
O Braza Bank surgiu em 2013 como MS Bank, fundado pelo brasileiro Marcelo Sacomori. A ideia inicial era atender imigrantes brasileiros que precisavam enviar dinheiro para o Brasil. Na época, esse era um mercado mal visto por grandes bancos devido ao risco percebido nas operações de remessas de pequeno valor.
Marcelo começou o projeto em Londres, operando uma empresa de money service business, equivalente às Instituições de Pagamento (IP) brasileiras, mas focada em transações internacionais. No entanto, ao perceber as dificuldades de fazer negócios com o Brasil, decidiu criar sua própria instituição financeira. Em 2013, conseguiu a licença de banco de câmbio no Brasil e iniciou as operações em 2015, atendendo pequenos importadores e exportadores.
O banco cresceu no setor cambial, expandindo sua base de correspondentes e fortalecendo sua tesouraria. Em 2017, entrou no mercado de câmbio interbancário.
A reestruturação da marca em 2022 consolidou as operações do grupo sob o nome Braza Bank, unificando as operações no Brasil e no exterior.
Mas a mudança de marca trouxe uma questão central para o Braza Bank: “Somos um banco ou uma fintech?”, indaga Bruno.
A resposta encontrada foi um meio-termo. A instituição mantém o rigor regulatório de um banco, sendo fiscalizada pelo BC e pelo Banco Central Europeu. No entanto, a operação e estrutura são voltadas para tecnologia, com soluções digitais e processos ágeis.
“Somos um banco com a mentalidade e a eficiência de uma fintech. Precisamos combinar a solidez de uma instituição financeira com a agilidade que o mercado exige”, resume.
Denúncia contra a TransferWise
O planejamento do futuro do Braza ocorre às vésperas de completar quatro anos da denúncia feita contra uma das fintechs de remessas internacionais mais famosas do mundo. Em 18 de fevereiro de 2021, o Braza Bank ainda era MS Bank e a empresa de remessa de origem inglesa, hoje Wise, se chamava TransferWise. A denúncia tirou a empresa do Brasil por dois meses, que voltou com o novo nome. Na mesma época, o então MS Bank, que fazia as compensações de câmbio para a Wise, lançou a Cloud Break, hoje rebatizado de Braza On.
A Cloud Break nasceu para ser apenas uma parada estratégica dos clientes, que depositariam dinheiro ali para usar no exterior. Mas segundo Bruno, eles estão usando a carteira como um ‘hedge‘ para compras e viagens internacionais, fazendo nela uma espécie de poupança. A plataforma de remessas acabou assim ocupando o espaço deixado pela Wise – e sem depender de terceiros na retaguarda.
No segmento de remessas, além da Wise, o Braza Bank tem vários outros concorrentes, como a Remessa Online (comprada pelo Ebanx em 2021), Nomad e outras.