Em recente entrevista ao jornal britânico Financial Times, o CEO do Nubank, David Vélez, disse que está em curso um movimento de consolidação das fintechs – e que o maior banco digital da América Latina, que também vem sofrendo na pele a onda de desvalorização global – está atento às pechinchas. As ações do Nubank caíram dois terços desde o IPO, em dezembro, levando sua capitalização de mercado para cerca de US$ 15 bilhões, depois de encostar em US$ 50 bilhões.
Mas como o aumento das taxas de juros e o crédito mais restrito restringem os fluxos de capital de risco globalmente, há alertas de que algumas das startups da região podem ter dificuldades, criando alvos atraentes.
“Haverá uma racionalização de algumas das fintechs que estão no mercado, provavelmente haverá alguma consolidação”, disse Vélez ao Financial Times. “Isso permitirá a sobrevivência dos mais aptos.”
O colombiano apontou a proliferação de “cerca de 40 bancos digitais diferentes” no Brasil. “Provavelmente foi demais. Os consumidores não terão 20 aplicativos de pagamento diferentes em seus smartphones. É simplesmente muito complexo. Você pode ter três ou quatro, não 20.”
Vélez previu “várias aquisições” no setor. “Algumas das conversas de M&A que tivemos 12 meses atrás estão voltando com 70% de desconto . . . Procuraremos fazer mais fusões e aquisições.” O Nubank comprou várias startups nos últimos dois anos e se expandiu para oferecer seguros, investimentos e, apenas no mês passado, negociação de criptomoedas.
Fundado em 2013, o provedor de cartões de crédito, contas correntes e empréstimos baseado em aplicativos tem quase 60 milhões de clientes hoje.
Ao contrário de alguns de seus pares digitais, o Nubank começou com crédito em vez de pagamentos. Desde então, construiu um pool considerável de depósitos de varejo no Brasil, onde o mercado é altamente lucrativo e fortemente concentrado entre gigantes como Itaú Unibanco, Bradesco e Santander.
Vélez acredita que esse foco mais amplo dará ao Nubank uma boa posição em meio à turbulência do mercado e à reação dos bancos incumbentes. Os investimentos de capital de risco na fintech latino-americana totalizaram US$ 1,2 bilhão no primeiro trimestre de 2022, segundo a associação comercial Lavca, 27% abaixo do quarto trimestre de 2021.
“O ambiente de financiamento certamente será um pouco mais difícil do que você viu nos últimos anos”, disse Vélez. Mas ele insistiu que não estava preocupado.
Vélez disse que o Nubank está “muito próximo do ponto de equilíbrio no Brasil. Poderia ser totalmente lucrativo amanhã, mas estava colocando o crescimento em primeiro lugar”. O grupo estava em uma posição financeira forte depois de levantar cerca de US$ 2,8 bilhões no IPO e suas perdas de crédito foram menores do que a média do mercado, acrescentou.
Além disso, o Vélez disse que sua empresa tem a ganhar com taxas de juros mais altas, já que não paga rendimento sobre os depósitos de clientes de pequenas e médias empresas e tem uma operação de cartão de crédito grande e lucrativa.
Finsiders é uma plataforma de conteúdo especializada no ecossistema de fintechs, fundada pelo jornalista Danylo Martins
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