
O Nubank vive um daqueles momentos em que precisa “arrumar a casa” no Brasil enquanto acelera no exterior, e, curiosamente, as duas histórias se cruzam. A fintech se prepara para obter uma licença de banco, após a nova regra do Banco Central (BC) e do Conselho Monetário Nacional (CMN) limitar o uso dos termos “banco” e “bank” por instituições que não têm autorização como tal. Com mais de 110 milhões de clientes no País, o grupo está no centro da mudança e tem até um ano para se ajustar.
Ao programa “Fechamento de Mercado”, da CNN, na segunda-feira (9/12), David Vélez, CEO do Nubank, não descartou a possibilidade de o grupo comprar um banco para acelerar o processo. “Anunciamos que estaremos procurando uma licença. Essa procura pode ser via aquisição ou vir do zero”, afirmou.
Vélez também comentou o potencial da operação nos Estados Unidos, onde o Nubank já solicitou licença bancária. Segundo ele, o país representa metade do sistema financeiro global. “Só mercados como o Texas já são maiores do que o Brasil em termos de PIB”, explicou.
Fora daqui, porém, o clima é bem mais de expansão do que de burocracia. Na Colômbia, o Nubank já soma 4 milhões de clientes, de acordo com dados divulgados pela instituição financeira nesta quinta-feira (11/12). E o ritmo impressiona: conforme Marcela Torres, gerente nacional da operação colombiana, a marca foi alcançada mais rápido do que no Brasil e no México quando estavam no mesmo nível.
O que explica o avanço do Nubank na Colômbia
O ambiente ajuda: tarifas altas, concorrência baixa e só 35% da população com acesso ao crédito formal. O cartão Moradita virou porta de entrada, seguido pelo NuControl, pela Morada Abre Caminos e por duas linhas de empréstimos criadas neste ano. O entrave, segundo a executiva, é a chamada taxa de usura, um teto de juros em torno de 25% ao ano que deixa boa parte da população fora do radar dos bancos e empurra muita gente para o crédito informal.
“Temos o benefício de aprender com o Brasil e com o México. Podemos aprender com os erros deles. Também podemos adotar as melhores práticas. E podemos aproveitar o fato de termos uma tecnologia mais avançada e trazer funcionalidades e produtos mais rápido para os nossos clientes”, disse a executiva, no “Nu Videocast”, publicado nesta quinta-feira (11/12) no canal da instituição no YouTube.
Segundo ela, a recepção do produto no país tem sido particularmente forte devido ao contexto competitivo local. Ela explica que, assim como ocorre no Brasil e no México, o setor financeiro colombiano é altamente concentrado, com apenas cinco bancos detendo cerca de 80% do market share em praticamente todos os indicadores relevantes.
Nesse ambiente, afirmou Marcela, a chegada do Nubank com uma oferta simples, transparente e de baixas tarifas encontrou terreno fértil, e a resposta do consumidor refletiu isso rapidamente.
“Além desses fatores explicarem nosso crescimento rápido. Também tem o fato de David [Vélez] ser colombiano, e isso também nos ajudou a crescer. Acho que os colombianos sentem muito orgulho do fato de o fundador de uma empresa tão influente ser colombiano. E isso trouxe para o negócio muita associação de marca e muito amor pela marca, muita consciência de marca”, completou ela.
Expansão mexicana entra no radar do mercado
No México, a velocidade também é tema. Até outubro deste ano, o Nubank tinha 13 milhões de clientes em solo mexicano. O número equivale a 14% da população adulta do país, com forte presença fora das grandes capitais, conforme dados divulgados pela companhia.
À época, Daniel Rojas, diretor de crescimento e marketing da empresa no México, disse em artigo publicado pela fintech que a digitalização abriu caminho para que milhões de pessoas começassem a poupar, acessar crédito e movimentar dinheiro mesmo vivendo em regiões sem agência bancária.
E é justamente no México que o BTG Pactual vê um ponto de virada para o banco digital. Um relatório do banco, divulgado na quarta-feira (10/12) mostra que o Oxxo, onipresente rede de conveniência mexicano, virou um hub de depósitos em dinheiro: desde maio deste ano, esses depósitos já representam cerca de 1% do volume mensal do Nubank.
Os analistas calculam que zerar tarifas de depósito e saque no Oxxo teria impacto mínimo: algo perto de 0,7% do lucro pré-impostos do grupo no terceiro trimestre deste ano. Feito com algumas travas, como exigência de saldo mínimo ou uso do cartão, o movimento poderia acelerar ainda mais o engajamento no país.