Nos bancos digitais, a disputa agora é por 'market share', diz BofA

Em junho, os bancos digitais brasileiros registraram uma queda de 34% no número de downloads, para 12,4 milhões, indicando uma saturação

Desde o início da década passada, os bancos digitais no Brasil despontaram e se tornaram importantes no processo de democratização aos serviços financeiros dos usuários, até então concentrado nas mãos de poucas instituições. Agora, no entanto, os neobanks começam a dar os primeiros sinais de saturação, de acordo com pesquisa mensal do tradicional Bank of America (BofA).

Em junho, os bancos digitais brasileiros registraram uma queda de 34% no número de downloads, para 12,4 milhões. Em abril e maio, o setor já havia registrado baixas de 41% e 40%, respectivamente.

No mês passado, os bancos digitais mais baixados foram Nubank (2,78 milhões), PicPay (1,50 milhão), C6 (1,26 milhão), Banco Inter (1,03 milhão), Mercado Pago (1 milhão), PagBank (761 mil) e Iti Itaú (705 mil).

Desses, o único que apresentou variação positiva sobre o mês anterior foi o Nubank, com avanço de 3%. O neobank com a menor queda foi o PicPay, de 5%, e o que teve o principal recuo entre eles foi o PagBank, com redução de 38%.

“Continuamos a ver evidências de consolidação e saturação do setor em junho. Os cinco principais neobanks representaram mais de 60% de todos os downloads (ante 44% em junho de 2022), enquanto players menores consolidaram ou perderam tração”, diz o BofA, em relatório assinado pelos analistas Mario Pierry, Antonio Ruette, Flavio Yoshida e Ernesto Gabilondo.

Além disso, outro indicativo de que o segmento está dando os primeiros indícios de estagnação é que o total de clientes ativos vem se mantendo estável nos últimos 12 meses. “Isso provavelmente sugere que o crescimento de usuários ativos agora deve vir de ganhos de ‘market share’, em nossa visão, pois vemos pouco espaço para o número total de contas ativas no país crescer”, acrescentam os analistas.

Movimentos

Assim, o BofA observa que as instituições começaram a se movimentar para se manter em evidência. No Grupo J&F, os clientes pessoa física do Banco Original passaram para o PicPay; no Bradesco, os clientes da carteira digital Bitz foram para o Next. Em 2021, o banco digital também havia absorvido a base de PFs do BS2, que passou a se dedicar a empresas.

Outras fintechs, como C6, Neon e, mais recentemente, o alemão N26, anunciaram programas de layoff, “a fim de ajustar sua base de custos a um ambiente de altas taxas”. O N26 negou, inclusive, que estaria de saída do Brasil.

“O número de usuários ativos mensais, melhor proxy para lucratividade, permaneceu estável no mês a mês no Nubank e melhorou no C6, enquanto a maioria dos pares perdeu usuários ativos em relação a maio. Neon, Next e PagBank tiveram os piores desempenhos”, diz.

Por outro lado, os incumbentes fecharam junho com um total de 6,3 milhões de downloads, recuo de 31% sobre maio, puxado pelos resultados de Caixa (de -68%, somando o app da Caixa e do Caixa Tem), Santander (-31%) e Banco do Brasil (-24%).

Entre as instituições financeiras tradicionais, a ordem dos apps mais baixados em junho são Caixa (2,52 milhões, somando os dos aplicativos), Bradesco (1,06 milhão), Itaú Unibanco (944 mil), Santander (942 mil) e Banco do Brasil (823 mil).​

Leia também:

“Podem nos provocar à vontade”, diz presidente da Febraban a fintechs e bancos digitais

Bancos digitais e fintechs ampliam fatia no crédito, mostra BC

BofA: Neobanks ganham relevância, mas ainda têm desafio para fidelizar