Dario Palhares
Depois do Banco BS2, que vendeu sua carteira de pessoas físicas (PFs) para o Next para concentrar sua atuação no nicho corporativo, e da plataforma Omie, que adquiriu o Linker, que atende cerca de 30 mil empresas de menor porte, hoje foi a vez do Asaas anunciar que decidiu trilhar esse mesmo caminho. “Mudamos o posicionamento para sermos reconhecido como a conta digital completa para empresas que faturam em torno de R$ 100 mil por mês”, informou Piero Contezini, CEO e Cofundador do Asaas.
O movimento não vai parar por aí. Em busca de margens mais gordas do que as propiciadas pelo concorrido mercado de PFs, várias outras startups de finanças continuarão criando e reforçando cardápios para PJs, casos do Nubank, que apresentou em setembro o seu cartão de crédito para empreendedores, Banco Inter e C6, que lançaram contas para empresas em 2021.
“Percebemos que no mercado atual, acompanhar tendências e antecipar passos são pontos cruciais no caminho para o sucesso”, afirma Contezini, do Asaas. A fintech nasceu em Joinville e hoje atende o Brasil inteiro, além de contar com mais de 540 mil contas digitais criadas por empresas e quase 500 colaboradores de vários estados. Desde 2014, recebeu mais de R$ 90 milhões em investimentos. Em 2021, a marca foi autorizada pelo Banco Central a atuar como a 31ª instituição de pagamentos do Brasil.
“A América Latina, com destaque para o Brasil, e a África se tornaram referências em fintechs voltadas ao grande público, mas a dupla ainda têm muito a fazer em relação às empresas”, comenta Julian Colombo, CEO e cofundador da N5, desenvolvedora de softwares para o setor financeiro. “Se os aplicativos brasileiros para pessoas físicas nada ficam a dever, por exemplo, aos alemães, a coisa muda radicalmente de figura na seara das pessoas jurídicas.”
Uma estratégia a ser considerada pelas fintechs nesse mercado, observa Colombo, é a segmentação. A prática já está consolidada em economias mais desenvolvidas, que contam com especialistas na prestação de serviços financeiros para setores, categorias profissionais e até mesmo regiões específicas – caso de boa parte dos cem melhores bancos dos Estados Unidos, de acordo com o ranking da revista Forbes. “As instituições tradicionais atendem de forma padronizada quase todos os seus clientes”, diz Colombo. “Quem falar a mesma língua e atender sob medida demandas de públicos e segmentos específicos vai garantir espaço no mercado.”
Um dos principais desafios que as fintechs terão pela frente na abordagem massiva de companhias, na avaliação do consultor Boanerges Ramos Freire, é o descompasso tecnológico de boa parte desse filão. Se as PFs vêm aderindo em escala crescente ao Pix, lançado há pouco mais de um ano, o mesmo não ocorre no meio empresarial, que ainda recorre, preferencialmente, a TEDs, DOCs, boletos e até cheques como meios de pagamento. “Os cheques, a rigor, só sobrevivem graças às empresas”, diz ele. “No entanto, por conta dessas práticas jurássicas, o segmento de pessoas jurídicas representa um oceano azul de oportunidades para as fintechs.”
Uma exceção à regra, observa Boanerges, é o ramo de logística. Depois da criação do Target Bank, em 2011, o mercado assistiu ao surgimento de várias startups voltadas a transportadoras e caminhoneiros, casos da Senior Sistemas, Truck Pad, R4 Digital, parceria entre a Randon e a 4all Ventures, E-Frete, adquirida em setembro pela NSTech, e da Trucker Pay, lançada pela Volkswagen em maio de 2021. “A experiência com fintechs na logística é tão positiva que já tem gente pensando em estender os serviços na área para veículos de passageiros”, diz Boanerges.
Não perca os próximos capítulos desse especial sobre o que 2022 reserva!
Os quatro anteriores estão aqui:
Oito tendências para 2022 – Parte 3: novo marco legal aumenta interesse por fintechs de câmbio
Oito tendências para 2022 – Parte 4: O ano em que o PIX vai conquistar o varejo
Leia também: