Juliana Soane
Com cerca de 5 milhões de clientes em pouco mais de três anos de atuação, o will Bank almeja ser um case mundial na bancarização de pessoas das classes sociais mais vulneráveis. Por enquanto, no médio prazo, o foco é expandir sua atuação em território nacional.
Hoje, cerca de 55% dos seus clientes são moradores de cidades com até 100 mil habitantes, a maioria no Nordeste. Das 5 milhões de contas abertas, pelo menos 1 milhão são de pessoas que tiveram acesso a um cartão de crédito pela primeira vez através do will Bank. “Estamos chegando onde ninguém consegue chegar”, diz o CEO Felipe Felix.
É daí que vem o desejo de ser uma referência global na bancarização entre pessoas das classes C/D/E no futuro. “A ambição vai ser alcançada quando a gente conquistar três pilares: construir um grande negócio no Brasil e na América Latina; impactar positivamente na vida de milhares de pessoas e ser referência por nossa cultura”, diz Felix.
A fintech acredita que “crédito deveria ser um direito humano”. “O que a gente quer é ser um grande negócio impactando positivamente a vida de milhões de pessoas”, defende o CEO. Ele comenta, ainda, que vai saber que o objetivo foi alcançado quando “jovens escolherem qual faculdade fazer pensando em trabalhar no will”.
Apesar das metas de expansão para a América Latina já serem ditas em voz alta, na prática os planos estão em uma etapa mais modesta, olhando para as outras regiões do Brasil. Felix acredita que, em médio prazo, é possível que o sudeste possa competir com o nordeste em número de clientes ativos, que concentra 70% do seu púbvlico.
“O foco hoje é olhar para nossa operação e ganhar eficiência. O mercado está muito volátil, então não é um ambiente muito propício para pensar na expansão [internacional] que a gente quer fazer. Vamos olhar para o nosso produto, trazer eficiência, aumentar mais a receita para que a gente possa ter o ano mais rentável possível”, diz.
“Dismorfia financeira”
A fintech lançou, em 15/6, o estudo Dismorfia Financeira, que trata sobre a relação emocional do brasileiro com seu próprio dinheiro. O resultado mostrou que 47,3% dos entrevistados usam palavras negativas para descrever sua vida financeira, enquanto 24% optam por palavras neutras.
O objetivo do estudo, segundo Felix, foi entender a relação do brasileiro com suas finanças pessoais, fugindo da ótica de ter ou não o dinheiro em si — mas sim como é a inclusão e o sentimento de pertencimento dessas pessoas em suas próprias realidades. Para isso, foram entrevistadas mais de 2 mil pessoas, entre 18 e 40 anos, de diferentes grupos étnicos, classes sociais e de todas as regiões do País.
Dos entrevistados, 71% responderam que há lugares em que se sentem desconfortáveis de estar ou de pensar em ir. A dismorfia financeira pode, além de atrapalhar o bem-estar das pessoas, criar uma aversão ao assunto. Querer “evitar” o problema pode ter como resultado uma falta de consciência dos próprios gastos e ausência completa de metas financeiras, facilitando o caminho para o endividamento.
“A discussão é longa e necessária. Somos conscientes de que a diferença entre classes econômicas e seus efeitos ainda vai existir amanhã, assim como a busca incessante por melhores oportunidades e condições de vida. Mas acreditamos que seja possível transformar as atuais e as futuras gerações propondo um novo olhar e novos caminhos de inclusão, criando um hoje melhor que ontem”, diz o CEO.
A questão da falta de pertencimento e acolhimento é um tema discutido há tempos pelo will, tanto que desde sua fundação. “A pesquisa confirmou a percepção que tínhamos de que o brasileiro pode não estabelecer uma relação com o banco por motivos que vão além da questão de ter o perfil aceito pela instituição financeira, passa também pela questão da confiança, do gerenciamento do dinheiro físico e, principalmente, pelo pertencimento àquele universo de serviços pensados para o mercado financeiro, e não para ele. Vamos seguir criando e olhando para esse público, e propondo uma agenda positiva para o mercado discutir meios de minimizar o fenômeno da dismorfia financeira”, conclui Felix.