Dario Palhares e Léa De Luca
Sucesso absoluto de crítica e público em transferências pessoais, com mais de 110 milhões de pessoas físicas cadastradas, o PIX promete conquistar agora conquistar o varejo. Para a atual temporada, por exemplo, estão previstos os lançamentos de cinco novas modalidades desse meio de pagamento, casos da Garantida, que permitirá parcelamentos de compras; da Internacional, específica, como sua denominação indica, para transferências além-fronteiras; e da versão Troco, que viabilizará saques em conjunto com pagamentos.
“O fim do dinheiro físico é uma das quatro tendências que listamos no nosso relatório anual. N˜åo apenas o PIX – que deve ganhar o varejo – mas carteiras digitais e pagamentos por QR Code também”, disse Fabiano Cruz, CEO e um dos fundadores da Zoop, especializada em serviços financeiros na nuvem. A Zoop, aliás, contabilizou 5% de todas as operações Pix realizadas de pessoa para empresa (P2B) no Brasil em novembro de 2021. O montante equivale a 8,7 milhões de transações do total de 171,4 milhões contabilizadas pelo Banco Central naquele mês. O Pix Zoop já realizou 54 milhões de vendas e movimentou R$ 2,3 bilhões em transações para mais de 600 clientes, como iFood, Sympla e Avec.
PIX crédito e criptomoedas
“Como o brasileiro tem o hábito de financiar compras nos cartões de crédito, prática que só agora começa a ganhar escala no exterior, acredito que o parcelamento via PIX se tornará uma realidade de mercado ainda em 2022”, prevê Bruno Diniz, sócio-fundador da consultoria Spiralem.
O Itaú Unibanco tem grandes chances de largar na frente nessa corrida por meio da Itaucard. No fim de novembro último, a controlada do grupo no segmento de cartões foi uma das sete selecionadas para o Sandbox Regulatório do Banco Central (BC), no qual vai desenvolver um projeto de concessão de crédito, rotativo ou parcelado, utilizando funcionalidades do PIX.
“Essa opção resultará, claro, em uma concorrência para os cartões de crédito da Itaucard, mas, por outro lado, permitirá à administradora a atração de novos clientes”, assinala Diniz. “Como as grandes redes de varejo já adotaram o novo meio de pagamento nas vendas à vista, a tendência é de um crescimento exponencial de negócios com a implantação do PIX Garantido.”
As criptomoedas são outra tendência irreversível nos meios de pagamento, na avaliação do consultor. Antes desprezadas pelos grandes nomes do comércio e das finanças, as moedas virtuais vêm conquistando espaço inclusive no mercado de investimentos, que assistiu, em 2020, à criação de 37 novos fundos de investimento ancorados em bitcoins, NFTs, DEFIs e outros ativos do gênero. No varejo, chama a atenção o apetite por criptos do Mercado Livre, que comprou cerca de US$ 7,8 milhões em bitcoins em 2021 e se tornou, em janeiro último, acionista do Grupo 2TM, que controla o Mercado Bitcoin, e da Paxos, plataforma de infraestrutura de blockchain.
“O exemplo vem de cima, mais especificamente do Banco Central, que planeja realizar neste ano os primeiros testes do Real Digital, para o lançamento efetivo em 2023”, diz Diniz. “Como o BC, sabe apresentar inovações ao mercado, como comprova o PIX, a iniciativa vai levar vários agentes a colocar o pé em criptoativos em geral. Na prática, será impossível ignorar os criptos”.
Ameaçados de extinção
Estudo encomendado ao Instituto Locomotiva pela Fiserv, de pagamentos e tecnologia de serviços financeiros, mostra que Pix, carteira digital e QR Code serão os meios de pagamentos mais comuns nos próximos 10 anos. Batizada de “Carat Insights – Futuro dos Meios de Pagamento” revelou, ainda, que os brasileiros pretendem experimentas novos meios de pagamento nos próximos 12 meses, período em que a disponibilidade em usar o Pix (91%) é predominante. A carteira digital (80%) e a leitura de QR Code (73%) também estão entre os meios de pagamento preferidos. Apesar da popularidade das redes sociais, pagamentos por WhatsApp, Facebook e Criptomoedas ainda são considerados distantes.
“O sucesso do Pix confirma a crescente inserção dos brasileiros no mundo da economia digital e aponta o potencial de crescimento que ainda existe no setor. E a criação de novos produtos como o Pix Saque, Pix Troco e Pix Cobrança; além dos próximos lançamentos previstos pelo Banco Central como Pix internacional e Pix offline deverão impulsionar este avanço”, afirma Roberto Moron, vice-presidente de Inovação para América Latina da Fiserv.
Além de apontar que meios de pagamento serão mais utilizados em 10 anos, a pesquisa “Carat Insights” também procurou responder quais meios de pagamento devem deixar de existir ou se tornar menos comuns. O cheque, por exemplo, foi usado apenas por 10% dos entrevistados nos 12 meses anteriores a pesquisa, e é indicado como o mais provável a deixar de existir por 60% dos brasileiros. TED (Transferência Eletrônica Disponível) e DOC (Documento de Crédito) aparecem em segundo lugar, com 27% da população apostando em sua extinção – um movimento que parece fazer sentido frente ao avanço do Pix.
Finalmente, um quarto dos brasileiros também acredita que os pagamentos presenciais em agências bancárias ou lotéricas devem deixar de acontecer. Um em cada cinco brasileiros acredita que o dinheiro em espécie deve desaparecer em 10 anos, sendo substituído pelo uso virtual. Ainda que esse cenário pareça improvável para a maior parte dos brasileiros atualmente, 57% apostam que o papel moeda será o meio de pagamento menos comum na próxima década.
A pesquisa foi realizada entre os dias 29 de outubro e 3 de novembro de 2021, com 1.500 respondentes com mais de 18 anos e acesso à internet, representando a população do Brasil segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
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Os três anteriores estão aqui:
Oito tendências para 2022 – Parte 3: novo marco legal aumenta interesse por fintechs de câmbio