Desde que colocou em compasso de espera sua estreia no Brasil, o banco digital alemão N26 viu o mercado mudar bastante, com o avanço de diferentes players, num movimento acelerado (como você está cansado de ler) pela pandemia, afinal o brasileiro buscou por mais soluções digitais.
Para ficar em alguns exemplos… O Nubank consolidou sua liderança e, com quase 50 milhões de clientes, está prestes a fazer IPO na Nyse. Em apenas dois anos, o C6 Bank nasceu e ganhou musculatura a ponto de figurar entre os maiores neobanks do país, com mais de 10 milhões de clientes.
Já o Inter, com mais de 14 milhões de correntistas, está preparando as malas para listar suas ações na Nasdaq. O Next, gestado dentro do Bradesco, passou a ter vida própria e já soma mais de 8 milhões de clientes. O BTG Pactual tirou da cartola o BTG+, seu banco digital de varejo.
É, de fato, um cenário mais competitivo. Nem por isso o N26 abandonou os planos, por mais que digam que perdeu o melhor momento de um mercado em ebulição para lançar a operação brasileira.
A partir desta quinta-feira (4), a fintech vai começar a selecionar pessoas da lista de espera, atualmente com quase 200 mil inscritos, para testar e cocriar o novo produto. Neste momento, um grupo pequeno de family and friends — algo como 200 pessoas — está experimentando as soluções.
“Estamos com força total para fazer o lançamento até o primeiro semestre do ano que vem, com estratégia local, inclusive todas as funcionalidades criadas do zero, com core banking local, exatamente porque ficou claro que gostaríamos de resolver um problema novo”, explica Eduardo Del Guerra Prota, general manager Brasil do N26, ao Finsiders.
O problema ao qual Eduardo se refere é a dificuldade do brasileiro em lidar com o dinheiro. Para o executivo, apesar da experiência com serviços financeiros ter melhorado nos últimos anos com a criação dos bancos digitais, faltou melhorar a experiência com dinheiro. “A gente entende que focar em saúde financeira é o próximo horizonte”, aponta.
É com essa estratégia que o N26 pretende se diferenciar no mercado brasileiro, claramente um país com muitas oportunidades e ineficiências. A intenção é liderar o que Eduardo classifica como a “segunda geração de fintechs”. A primeira geração, diz ele, deu muito foco para crédito e pagamentos, e trouxe serviços com custos mais baixos para o consumidor.
“O que queremos fazer mais na segunda geração de clientes é um modelo mais SaaS. Conforme gera mais valor, paga mais”, diz Eduardo. Este sistema operacional com foco em saúde financeira terá, claro, serviços e produtos bancários básicos, como conta, cartão de crédito e pagamentos via Pix.
Para colocar de pé o banco digital no Brasil, o N26 recebeu no fim do ano passado a licença de SCD (Sociedade de Crédito Direto), o que lhe permitirá conceder crédito com recursos próprios. De lá pra cá, a fintech retomou os esforços para tirar o projeto do papel, sob a liderança de Eduardo, que chegou em 2019 depois de ter passado por instituições como Cielo e Santander. Hoje, a equipe local tem mais de 50 funcionários.
A operação brasileira será, coincidentemente ou não, a 26ª do N26. Globalmente, o neobank está presente em 24 mercados europeus e nos Estados Unidos, além de ter dez escritórios. Ao todo, são mais de 7 milhões de clientes, com expectativa de atingir 100 milhões — sem prazo definido para isso. “Temos vocação e cultura global. Mesmo em Berlim, onde fica a sede, temos pessoas de mais de 80 nacionalidades trabalhando lá.”
Dado o tamanho do mercado, o Brasil tem potencial de se transformar em uma das maiores operações do N26 no mundo. “Não estamos vindo para ser player de nicho, e sim um dos maiores no Brasil”, enfatiza Eduardo. Ele acredita que o período em que o projeto ficou pausado deu a vantagem de se aprofundar mais na realidade brasileira e, assim, construir algo “realmente novo”.
Dinheiro não será um problema para a expansão do N26 em território brazuca. Como subsidiária, a fintech terá acesso a um negócio que está capitalizado. Em outubro, o neobank alemão levantou uma rodada Série E de US$ 900 milhões, numa captação que avaliou a empresa em mais de US$ 9 bilhões, tornando-se o segundo banco mais valioso da Alemanha, atrás apenas do Deutsche Bank.
Desde que foi fundada em 2013 por Maximilian Tayenthal e Valentin Stalf, o N26 captou US$ 1,8 bilhões e tem no captable investidores como Third Point Ventures, Coatue, Dragoneer Investment Group e GIC, entre outros.
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