Especialistas discutem evolução e futuro do Open Finance | Imagem: Danylo Martins
Especialistas discutem evolução e futuro do Open Finance | Imagem: Danylo Martins

O Open Finance foi um “catalisador de inovações” e ajudou a acelerar a transformação tecnológica das instituições financeiras brasileiras, especialmente dos bancos incumbentes. Mais do que fomentar a competição na indústria financeira, o sistema “virou a chave” e promete trazer mais eficiência para o setor como um todo. Essa é a avaliação de Otávio Damaso, ex-diretor de Regulação do Banco Central (BC) e atualmente consultor para assuntos regulatórios e gestão de riscos do Nubank.

“Essa era uma mudança que precisava acontecer, senão o setor financeiro ficaria para trás em relação ao avanço das novas tecnologias. E o Open Finance deu um ‘empurrão’, assim como o Pix”, disse Damaso. Ele entende do riscado, pois comandou o departamento de Regulação do BC entre 2015 e 2024, período com os maiores avanços para o sistema financeiro em termos de inovação e abertura à competição.

Ao falar durante o evento “Cinco anos de Open Finance no Brasil – entre o passado e o futuro”, realizado nesta quarta-feira (29/10) pelos escritórios Pinheiro Neto Advogados e Eroles Advogados, Damaso classificou o Open Finance como uma “transformação silenciosa”. Assim, seus impactos serão visíveis ao longo do tempo.

“Tenho certeza de que, daqui a dez anos, a gente não vai entender como o sistema financeiro existia sem ter o Open Finance. Assim como a gente não consegue entender como os nossos pais viviam sem ter o celular”, comparou.

Para Janaína Pimenta Attie, chefe de subunidade do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro (Denor) do BC, no futuro o Open Finance possibilitará a construção de um marketplace de serviços financeiros “em prol do cliente”. A ideia é que o consumidor consiga solicitar crédito ou investimento, e as instituições disputem quem oferece a melhor opção. “Hoje isso já é possível de acontecer, mas de maneira não tão estruturada. O que queremos é chegar num ponto em que o cliente consiga fazer isso de uma maneira ainda mais prática. Ou seja, usar tanto os dados a seu favor quanto fazer todo o mercado inovar muito e oferecer a melhor experiência.”

E hoje?

Se a visão prospectiva para o Open Finance é promissora, no presente esse ecossistema já mostra a que veio. Atualmente, já são 120 milhões de consentimentos ativos e mais de 4 bilhões de chamadas de APIs por semana, informou Janaína. API é a sigla em inglês para interface de programação de aplicação. Em outras palavras, é um conjunto de regras, definições e protocolos que permite a comunicação entre diferentes sistemas, serviços ou aplicativos.

Ao comentar sobre os números do sistema, Damaso também fez uma provocação. “Quando as pessoas me dizem que não estão vendo o Open Finance funcionar, eu falo: ‘vocês acham que as instituições estão trocando 4 bilhões de informações por semana, guardando essa informação na nuvem delas à toa? Você já viu o sistema financeiro perder tanto tempo e dinheiro assim?’ Se isso não está funcionando, me expliquem que eu não estou entendendo.”

Segundo ele, diversas instituições já têm iniciativas como agregação de contas, mais limite de crédito e com juros menores para quem compartilha dados via Open Finance. Conforme um levantamento recente do BC, o sistema já “destravou” mais de R$ 30 bilhões em crédito, sendo R$ 12 bilhões originados apenas no primeiro semestre de 2025. Além de soluções de gestão financeira por meio da consolidação de contas bancárias, notificações e “alertas inteligentes” também são recursos encontrados com frequência no mercado.

Janaína reconheceu que “tangibilizar” as vantagens do Open Finance para a população é um dos grandes desafios. “Seria como perguntar para o cara da banca se ele sabe o que é o SPI [Sistema de Pagamentos Instantâneos], a infraesturutra de liquidação do Pix. Então, comunicar os benefícios é mais eficiente do que falar dos ‘bits and bytes‘”, disse ela.

A transição da estrutura de governança do Open Finance de um modelo provisório para o definitivo foi outro tema debatido no painel. Em dezembro de 2024, foi criada a Associação Open Finance, como parte da “profissionalização” da governança do ecossistema. Segundo Janaína, até chegar nesse formato, foi necessário vencer algumas “batalhas”. Entre elas, a formação de um quadro próprio de profissionais, a garantia de neutralidade técnica e a consolidação da segurança jurídica. “A gente sabe que, em muitos aspectos, o BC vai ter de continuar sendo o fiel da balança”, disse.