A última versão do estudo “Pagamentos em transformação: do dinheiro ao código”, divulgado nesta terça-feira (15/7) pelo Google Brasil, revelou quatro perfis principais de ‘pagadores’ no ecossistema financeiro brasileiro. No centro desse movimento está o Pix, que já foi usado por 93% da população adulta. Hoje, o método de pagamento que surgiu em 2020 já responde por 47% do volume total de transações financeiras no País.
O Pix-dependente é o consumidor geralmente jovem, em início de carreira e com pouco ou nenhum acesso ao crédito. Para esse público, o Pix representa mais do que conveniência: é uma solução de inclusão financeira. Sem limites em cartões ou com dificuldades para obter aprovação de crédito, eles concentram suas transações no Pix.
“Para esses, o Pix não é apenas uma opção, mas a única forma de participar do ecossistema digital de pagamentos”, explicou Thais Melendez, líder de insights do Google Brasil, em apresentação a jornalistas.
Já o Equilibrista de crédito alterna entre Pix e cartão de crédito, ajustando a escolha ao contexto e aos benefícios disponíveis. Esse grupo representa uma transição entre o uso puramente digital e o tradicional, e busca extrair o máximo de cada ferramenta.
O Pix-estrategista, por sua vez, faz uso combinado dos dois principais meios de pagamento. Ele prioriza o Pix quando há descontos e liquidação imediata e recorre ao cartão para parcelamentos e acúmulo de pontos. E o Maximizador de crédito concentra todos os seus gastos no cartão de crédito. É um modo de aproveitar ao máximo programas de fidelidade e benefícios como cashback, milhas e acesso a salas VIP.
Esses perfis atravessam todas as faixas de renda, idade e regiões do País, disse Thais.
Do consumidor ao lojista
A ascensão do Pix não mudou apenas o comportamento dos consumidores. Para empresas e estabelecimentos comerciais, o sistema tornou-se o centro da operação financeira. Hoje, nove em cada dez empresas aceitam pagamentos via Pix, que já é o método preferido para recebimentos em 95% dos negócios no Brasil.
Esse avanço foi impulsionado por fatores como a liquidação instantânea e a redução de custos, especialmente atrativos para pequenos e médios negócios. O estudo revela que um lojista típico conhece sete marcas diferentes de maquininhas e costuma manter pelo menos duas soluções de adquirência ativas em seu ponto de venda. O mercado, antes concentrado, tornou-se extremamente competitivo, com uma explosão de novos players e tecnologias.
“A liquidação instantânea e o baixo custo operacional do Pix foram determinantes para essa adesão maciça. Para o varejo e os pequenos negócios, isso significou mais fluxo de caixa e menos dependência de maquininhas e taxas altas”, explicou Gustavo Pena, responsável por negócios financeiros no Google Brasil.
Soluções como o tap on phone – que transforma o celular do comerciante em maquininha – já estão presentes em um quarto dos negócios pesquisados. Links de pagamento e QR Code também ganharam espaço como alternativas rápidas e sem necessidade de hardware adicional, especialmente entre os microempreendedores e negócios online.
Estratégia e desafios
Na hora de escolher com quem processar suas transações, as empresas brasileiras se mostram pragmáticas. Taxas de transação continuam sendo o critério mais sensível, mas a velocidade de repasse dos valores, a segurança e a qualidade do suporte técnico aparecem como fatores cada vez mais determinantes em um ambiente de margens apertadas.
Há ainda uma tendência clara de demanda por soluções integradas. Para 80% das empresas entrevistadas, é decisivo que a adquirente ou instituição financeira ofereça, além do processamento de pagamentos, serviços complementares como conta PJ, linhas de crédito, ferramentas de gestão e até consultoria para impulsionar vendas.
Cartão de crédito
Enquanto o Pix domina em volume, o cartão de crédito segue resiliente e mantém sua força especialmente em compras online de maior valor agregado. Nos últimos cinco anos, 58% dos brasileiros aumentaram o uso do cartão, atraídos por programas de recompensas, elevação dos limites de crédito e a conveniência de centralizar os gastos.
Benefícios personalizados, integração com o ecossistema Pix e novos modelos de fidelização aparecem como caminhos para manter a relevância em um cenário em que o consumidor já se acostumou a não pagar tarifas e a exigir contrapartidas mais robustas
Gustavo resume o momento com uma análise contundente: “Estamos em um mercado onde o consumidor e o lojista ditam as regras. Quem não inovar, ficará para trás.”